Vivenda do Camarão cria novos tentáculos após tormenta da pandemia

Para depender menos de shopping centers, a rede de restaurantes passou a vender produtos em supermercados e fornecer insumos para outros players do setor

Mitchel Diniz Mariana Amaro

Publicidade

Uma importadora de cartuchos para copiadoras que se transformou em uma rede de restaurantes especializada em frutos do mar. Até parece história de pescador, mas assim começa o enredo da Vivenda do Camarão, empresa paulistana que completou 40 anos em 2024 e passou por uma série de outras transformações ao longo desse tempo.

Era início dos anos 1980, o governo brasileiro passou a restringir importações para não desequilibrar a balança comercial e o empresário Fernando Perri precisava exportar algo para continuar trazendo os cartuchos do exterior. Identificou, nos Estados Unidos, uma alta demanda por camarão e, ainda que não conhecesse nada sobre o marisco, começou a exporta-lo para viabilizar a sobrevivência do negócio original.

Não demorou para que o governo impedisse de vez a importação dos cartuchos e Fernando fizesse da atividade paralela o seu core business.

Continua depois da publicidade

Logo veio a ideia de montar um restaurante que vendesse aquele camarão tipo exportação, de alta qualidade, ao qual o público brasileiro tinha quase nenhum acesso, em função do alto preço do produto.

Da rua ao shopping

A Vivenda do Camarão começou com dois restaurantes de rua, mas ao abrir a terceira unidade em um shopping center percebeu que poderia crescer com mais rapidez dentro daquele ambiente, numa época em que as praças de alimentação engatinhavam. Um modelo “express”, de loja menor, foi aberto para atender os clientes que aguardavam na fila por uma mesa no restaurante – e foi com esse formato, mais fácil de replicar em outros shoppings, que a rede ganhou escala.

“A empresa entendeu que, com essa linha de culinária rápida, conseguiria expandir para o Brasil inteiro”, explicou Rodrigo Perri, filho de Fernando, em entrevista ao podcast Do Zero Ao Topo, do InfoMoney (assista à íntegra da entrevista abaixo e continue lendo a reportagem após o link).

Continua depois da publicidade

Atualmente, Rodrigo e o irmão Diego comandam juntos a empresa, como co-CEOs. O pai segue acompanhando o negócio como presidente do conselho de administração.

A Vivenda do Camarão já opera com mais de 160 unidades, entre lojas próprias e franquias.

“O Fernando sempre foi muito resistente às franquias, mas conseguimos mostrar a ele que o sistema acelerava a expansão da marca”, diz Rodrigo.

Continua depois da publicidade

A maré virou na pandemia

Com 100% das operações baseadas em shopping centers, a empresa foi duramente impactada pelo fechamento do comércio durante a pandemia de Covid-19. “Conseguimos sobreviver porque a situação de caixa era tranquila, não tínhamos dívidas bancárias, a empresa estava bem redonda”, diz o CEO. “2020 seria o melhor ano para a empresa. Batemos recorde de vendas naqueles primeiros meses. E foi aí que percebemos a dependência que tínhamos do nosso único negócio”.

Daí surgiu a necessidade de criar novos tentáculos. A empresa abriu um empório em Moema, bairro nobre da capital paulista, para a venda de frutos do mar in natura congelados. Em paralelo, desenvolveu uma linha de produtos para vendas em supermercados e atacadistas, com os pratos mais pedidos nos restaurantes da rede.

Também passou a atuar no food service, fornecendo produtos como camarão empanado, filé de salmão temperado e até insumos customizados para outros restaurantes. Nessa vertente, a Vivenda do Camarão já atende a mais de dois mil clientes, todos em São Paulo.

Continua depois da publicidade

“Viramos uma indústria alimentícia para atender a essa frente do negócio” explica Rodrigo. A empresa tem uma central de processamento de alimentos em Cotia, na grande São Paulo, que já foi considerada um elefante branco por ter sido construída numa época em que a rede tinha poucos restaurantes. Recentemente, a capacidade dessa central precisou ser ampliada, com a aquisição de novo maquinário.

Em 2023, a Vivenda do Camarão faturou R$ 270 milhões. Para este ano, a empresa projeta receita de R$ 305 milhões, com os novos negócios respondendo por 15% dessa cifra. A ideia é que essa participação aumente para 25% em 2025. Para isso, a empresa prepara uma expansão geográfica, fora de São Paulo.

Diz um provérbio popular que o camarão que dorme, a onda leva. No caso da Vivenda do Camarão, a maré virou, mas fez a empresa ampliar sua rede.

Continua depois da publicidade

Sobre o Do Zero ao Topo

O podcast Do Zero ao Topo entra no seu quinto ano de vida e traz, a cada sexta-feira, a história de mulheres e homens de destaque no mercado brasileiro para contar a sua história, compartilhando os maiores desafios enfrentados ao longo do caminho e as principais estratégias usadas na construção do negócio.

O programa já recebeu nomes como o Fernando Simões, do Grupo Simpar; Stelleo Tolda, um dos fundadores do Mercado Livre; o empresário Abílio DinizRodrigo Galindo, chairman da Cogna; Paulo Nassar, fundador e CEO da Cobasi; Mariane Morelli, cofundadora do Grupo Supley; Luiz Dumoncel, CEO e fundador da 3tentos; José Galló, executivo responsável pela ascensão da Renner; Guilherme Benchimol, fundador da XP Investimentos; e contou dezenas de histórias de sucesso. Confira a lista completa de episódios do podcast neste link.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados