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SÃO PAULO – O Brasil tem mais de 500 startups atuando na área da saúde, segundo o estudo Distrito Healthtech Report 2020. A SouSmile está em um segmento que apenas 6,6% dessas startups explora: a produção de dispositivos médicos. O foco do negócio é produzir nacionalmente aparelhos invisíveis – um mercado com potencial, mas pouco explorado por conta de obstáculos como tempo de importação e preço proibitivo.
A SouSmile captou um novo investimento para reforçar a aposta em alinhadores dentais transparentes. A startup anunciou nesta quinta-feira (21) uma rodada série B de R$ 100 milhões (conheça os estágios de crescimento de uma startup).
O investimento foi liderado pelo fundo de venture capital Kaszek, que tem no portfólio startups como GetNinjas, MadeiraMadeira e Quinto Andar. Também participaram da rodada os fundos Chromo Investimentos, Global Founders Capital, Atmos Capital, Allievo e Endeavor Scale-Up Ventures.
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Com US$ 1 bilhão no bolso, quais são os planos do Kaszek Ventures para as startups brasileiras?
O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com o cofundador Michael Ruah sobre o mercado de aparelhos invisíveis; os principais players do segmento no país; o modelo de negócios da SouSmile; e os planos da startup depois de sua nova injeção de capital.
O potencial dos aparelhos invisíveis
Os alinhadores dentais transparentes são sistemas ortodônticos para a boca que corrigem problemas como dentes desalinhados ou encavalados. Esses aparelhos são mais discretos visualmente e podem ser removidos com mais facilidade do que os aparelhos tradicionais. O mercado global de alinhadores dentais transparentes foi estimado em US$ 2,6 bilhões em 2020 pela Grand View Research. Mas o que mais atrai as empresas é seu crescimento médio anual, estimado em 27,3% entre 2021 e 2028. Esse será um mercado de US$ 15,9 bilhões no final do período.
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A maior referência em alinhadores dentais transparentes é a Invisalign. A marca foi criada pela empresa americana Align Technology, avaliada em US$ 49,8 bilhões na bolsa de valores de empresas de tecnologia Nasdaq. A empresa afirma ter atendido 11 milhões de sorrisos em sua história.
A Invisalign tem ortodentistas parceiros em diversos países, inclusive no Brasil. Esses profissionais capturam um panorama 3D dos dentes do paciente. Com o tratamento digital aprovado pela Invisalign, os alinhadores são confeccionados e enviados. O paciente recebe diversos moldes com pequenas alterações, a serem trocados a cada uma ou duas semanas até que os dentes se movimentem de acordo.
No Brasil, os aparelhos invisíveis da marca costumam custar entre R$ 3 mil e R$ 17 mil, dependendo da gravidade do caso. Startups brasileiras buscam repetir o sucesso da Invisalign, mas apostando em produção nacional para reduzir custos e contato mais próximo com os consumidores brasileiros.
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A SouSmile foi criada em outubro de 2018. Seu quadro de sócios tem experiências diversas: a diretora de expansão Aline Andrade, a cirurgiã dentista Andrea Nazare, o diretor de engenharia Alexandre Gama, o diretor Michael Ruah, a ortodentista Natalia Lombardo e a diretora de marketing Ornella Moraes. “Somos uma empresa de saúde em primeiro lugar, mas também temos indústria e lojas próprias. Era fundamental montar um quadro complementar de fundadores”, diz Ruah.
O cliente faz uma pré-avaliação pela internet e pode agendar virtualmente o escaneamento dos seus dentes em uma das seis unidades físicas da SouSmile ou na clínica de um dos 25 ortodentistas parceiros da SouSmile. Esses profissionais analisam as imagens e o paciente recebe uma simulação de movimentações necessárias, sorriso final, tempo de tratamento e preço. A SouSmile tem 160 funcionários, 60 deles dentistas.
Com o tratamento comprado, os primeiros moldes são produzidos e entregues ao paciente em até 12 dias úteis. A cada três meses, ele retorna para pegar novos moldes e avaliar o progresso. Os tratamentos costumam durar de três a nove meses.
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O Do Zero Ao Topo fez uma simulação no site da startup e recebeu uma estimativa de R$ 4.350 até R$ 5.040 pelo alinhador mais clareamento ao final do processo. A SouSmile não divulga o número de aparelhos vendidos, mas afirma que 7 mil avaliações foram feitas em seu site.
Uma concorrente brasileira da SouSmile é a Smilink. Também criada em 2018, a empresa diz ter atendido mais de 4 mil sorrisos. Recentemente, foi comprada pelo grupo suíço Straumann.
Para Ruah, o apoio de fundos de venture capital promove um diferencial em atração de talentos e construção de tecnologia. “Nossos dois grandes diferenciais são acessibilidade e experiência do cliente, porque são os fatores essenciais para aumentar a penetração do alinhador invisível no mercado brasileiro. Esses dois diferenciais dependem de investimento em tecnologia.”
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Novo investimento, novas metas
A SouSmile já havia captado R$ 1,5 milhão de reais entre sócios, amigos e familiares. Depois, fez uma rodada semente de R$ 4,5 milhões de reais com os fundos Canary (que tem no portfólio startups como Buser, Loft, EmCasa) e Global Founders Capital (Facebook, Dafiti, Kovi). Depois, uma rodada série A de R$ 20 milhões com o Kaszek.
“O Canary trouxe experiência em atrair e contratar talentos, enquanto o GFC tem experiência em trazer aprendizados de startups do mundo todo. Já o Kaszek tem uma experiência profunda em tecnologia e empreendedorismo na América Latina, dado o histórico nos primeiros dias do Mercado Livre.”
A SouSmile dobrou seu faturamento de janeiro até setembro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2020. Com o novo aporte, a startup pretende investir mais em crescimento. O plano é quadruplicar de tamanho na comparação entre 2021 e 2022.
O novo investimento série B de R$ 100 milhões será usado para aquisição de clientes e para ampliar tratamentos, condições de pagamento, lojas próprias e dentistas parceiros.
“No começo, apostamos em solucionar casos leves a moderados de alinhamento dentário. Vamos oferecer tratamentos mais abrangentes no começo de 2022. Vamos de apenas alinhamento e nivelamento de dentes para problemas com mordidas, por exemplo”, diz Ruah.
Casos mais graves pedem maior tempo de tratamento e acessórios como elásticos. Assim, a SouSmile pretende criar uma segunda categoria de preço para esses aparelhos invisíveis.
“Mas a ideia é continuar sendo uma proposta mais acessível”, acrescenta o cofundador. A startup já oferece parcelamento no cartão de crédito em até 12 meses, e lançará em breve o parcelamento em 24 meses.
A SouSmile abrirá algumas lojas próprias, mas com foco maior em reconhecimento de marca do que em expansão de atendimento. “São flagships para formar profissionais, promover contato com o paciente e gerar divulgação de marca”, diz Ruah. Em dentistas parceiros, o plano é ir de 25 para 200 dentistas até o final de 2022.
O maior desafio é o mesmo percorrido pelas concorrentes nacionais e internacionais, e enfrentado por diversas startups de saúde: fazer o consumidor apostar em novas tecnologias, inclusive para os cuidados mais essenciais. Os investidores da SouSmile já estão convencidos dessa mudança de comportamento.
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