Startup argentina que combate fraudes digitais capta R$ 60 milhões e prepara entrada no Brasil

A VU Security atende quase 200 clientes em 27 países. Startup fornece soluções modulares de cibersegurança

Mariana Fonseca

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SÃO PAULO – O Brasil enfrentou casos de grandes vazamentos de dados recentemente. Também ficaram em evidência golpes em pequena, mas numerosa, escala. Por exemplo, criminosos roubam celulares e limpam contas bancárias, ficando com todo o dinheiro, mesmo sem ter senhas.

A pandemia intensificou o uso do ambiente digital – e a percepção de que a segurança digital ficou mais vulnerável. 91% dos entrevistados avalia que os crimes aumentaram muito (46%) ou aumentaram (45%) no período da pandemia, de acordo com pesquisa da Federação Brasileiros de Bancos (Febraban). Do outro lado, somente 5% acham que diminuíram (4%) ou diminuíram muito (1%). 86% dos brasileiros tem muito ou algum medo de serem vítimas de fraudes, golpes, ou violação dos dados pessoais.

A VU Security é uma das startups que atua para melhorar a identificação digital e prevenir fraudes. A empresa argentina coloca como diferencial prover experiências digitais simples, mas protegidas. A ideia conquistou um novo investimento de R$ 60 milhões – e parte dos recursos serão usados para a entrada da VU Security no mercado brasileiro. O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, entrevistou Gastón Gené, COO da VU Security. O diretor de operações falou sobre o mercado de cibersegurança na América Latina e sobre os próximos passos da startup argentina.

O potencial da cibersegurança

A VU Security foi fundada em 2007, na Argentina.  A ideia para o negócio surgiu quando o fundador Sebastián Stranieri levou sua avó para fazer uma prova de vida em um banco. O tempo gasto e a exposição sofrida para comprovar que a avó estava viva o levaram a investir em uma solução digital de verificação de identidade.

O mercado mudou completamente desde então. “Vimos um aumento progressivo no uso dos celulares inteligentes e a digitalização de empresas. Passaram para a internet instituições que têm serviços sensíveis a fraudes, como bancos e governos. Mas também se digitalizaram as companhias que não pensavam tanto na cibersegurança, como as de educação, saúde e turismo. Tem muita necessidade a ser atendida, e com isso oportunidades para nosso negócio”, diz Gené.

O mercado global de cibersegurança está avaliado em cerca de US$ 203 bilhões neste ano e deve alcançar os US$ 248 bilhões até 2023, segundo estimativas colhidas pelo Statista. “A América Latina tem muita oportunidade na proteção digital. É um mercado mais atrasado e com menos empresas concorrentes na comparação com regiões como os Estados Unidos”, diz Gené.

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Gastón Gené, COO da VU Security (Divulgação)
Gastón Gené, COO da VU Security (Divulgação)

As mais de 130 companhias atendidas pela VU Security compram módulos de segurança – como biometria, geolocalização, reconhecimento de documentos e análise de comportamento do usuário. Essas interfaces de programação (APIs) podem ser escolhidas e combinadas a dependendo da necessidade.

Para um banco que procura uma taxa de conversão alta em sua abertura de contas, por exemplo, é importante ter uma biometria que garante uma boa experiência do usuário, mantendo uma identificação eficaz. Já uma solução de crédito pode requerer camadas adicionais de segurança.

“As empresas passaram do físico para o digital e não se atentaram para verificação de identidade e prevenção de fraudes. Nossa proposta acelera a implementação dessas medidas, poupando tempo e inclusive dinheiro – já que um ataque pode quebrar a operação delas”, diz Gené. “Temos produtos complementares, e uma empresa precisaria somar diversas soluções para chegar na mesma oferta. Nosso objetivo é flexibilizar o processo, já que vemos outras empresas de cibersegurança com fluxos rígidos”.

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A VU Security atende mais de 350 milhões de usuários, ligados a quase 200 clientes em 27 países, como o Banco Santander, o unicórnio argentino de software Globant e a rede de lojas de departamento Falabella.

Investimento e entrada no mercado brasileiro

A startup tem sede na Argentina e na Espanha. Está também abrindo um centro de operações nos Estados Unidos. A próxima parada será o Brasil. “Estamos em exploração faz dois anos, conhecendo o mercado, contratando e esperando parceiros para entrarmos de forma mais assertiva. Vamos ter um escritório importante no país, com funcionários brasileiros”, diz Gené.

Esses parceiros para e expansão são instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); empresas como Globant e Telefônica; e fundos como Agre Partners, Bridge One (Gomer, Involves, Mandaê) e NXTP Ventures (Amaro, CargoX, Nuvemshop). Essas instituições lideraram o aporte série B de R$ 60 milhões na VU Security. A startup argentina já tinha recebido um aporte semente de US$ 1 milhão e um aporte série A de US$ 4,3 milhões.

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“Confiamos no crescimento da marca no país e em seu potencial de se tornar líder no mercado nacional. As métricas da VU são exemplares para qualquer empresa de B2B tech: crescimento altíssimo, churn quase inexistente e um modelo de canais extremamente eficiente em atrair e reter clientes enterprise“, escreveu em comunicado João Brandão, sócio e fundador da Bridge One.

O novo aporte será usado para pesquisa e desenvolvimento e marketing e vendas, incluindo a conquista de clientes brasileiros. Por aqui, a argentina enfrentará a concorrência de negócios como Acesso Digital, IDWall e Incognia.

A VU Security tem 130 funcionários ao todo, 10 deles por aqui. Também já atende clientes nacionais, mas não divulga seus nomes. O plano é triplicar a equipe brasileira nos próximos 12 meses.

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“O Brasil é o principal mercado da América Latina, e um dos principais do mundo. Vamos investir fortemente e buscar o melhor talento brasileiro, servindo companhias de diversas categorias com uma proposta de cibersegurança plug and play”, diz Gené.

Em três anos, a VU Security estima crescer dez vezes no Brasil e que 25% de seus ganhos estejam no país. Os outros 75% se dividirão igualmente em Estados Unidos, Europa e restante da América Latina.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.