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O investidor Romero Rodrigues enxerga o cenário atual para as startups bem diferente daquele que vivenciou quando cofundou o site de comparação de preços Buscapé em 1999. O empreendedor que virou investidor de venture capital pintou nesta semana um quadro dos últimos mais de 20 anos de ecossistema de tecnologia brasileiro. É um quadro de crescimento – mas também de novos desafios em cada evolução.
“O termo startup nem existia. A gente falava que tinha um site, e depois o pessoal começou a falar que tinha uma ‘ponto com’“, contou Rodrigues durante o evento de empreendedorismo Bossa Summit. Rodrigues foi CEO do Buscapé durante 17 anos. Depois, virou investidor pela gestora de venture capital Redpoint eventures. Recentemente, assumiu o braço brasileiro da gestora de venture capital Headline.
O que mudou em mais de 20 anos?
A primeira mudança apontada pelo empreendedor e investidor foi no tamanho do mercado: o país tem muito mais usuários de internet do que em 1999. São 170 milhões de brasileiros conectados atualmente, em comparação com uma “projeção otimista” de 300 mil no primeiro plano de negócios do Buscapé.
A segunda transformação foi na quantidade de bons profissionais dispostos para criar ou participar de negócios de tecnologia. “Naquela época, você perguntava para um jovem o que ele queria ser e ouvia ‘funcionário público’. Hoje, sete em cada dez jovens querem ser empreendedores”, afirmou Rodrigues.
A terceira mudança foi no capital disponível para negócios de tecnologia: existem diversos investidores para os diferentes estágios de crescimento de uma startup. “Antes você tinha que focar na sua própria geração de capital, não tinha investidor. Temos hoje um ecossistema todo montado, com investimentos de aceleradoras, anjos, fundos de seed [aporte semente], fundos de venture capital [capital de risco] e fundos de growth [expansão].”
Novo cenário, novo problema
Rodrigues ressaltou que essa expansão dos investimentos trouxe um novo problema para os empreendedores. Ter um protótipo ficou mais fácil – mas a competição também ficou maior por conta disso, aumentando a necessidade de chegar ao mercado de maneira ágil.
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“Lá atrás, você levantava um investimento série A para desenvolver tecnologia e comprar engenheiros e servidores. Antes de receber o investimento, tinha empresa que nem tinha MVP [produto mínimo viável]“, contou o empreendedor e investidor.
O custo de desenvolvimento de tecnologia baixou ao longo dos anos, por meio de casas de software e provedores de serviços em nuvem, por exemplo. Para Rodrigues, acabou a noção de que o fundador tem que ser engenheiro. “O problema de tecnologia acabou, o protótipo você faz rápido. O dinheiro dos investidores agora vai quase todo para talentos que permitam atacar um mercado que já grande.”
Esse investimento permite que a startup acelere testes de encaixe da sua solução com o mercado – o chamado product market fit. Rodrigues conta que esse encaixe levou anos para acontecer no Buscapé: nenhuma loja queria publicar seus preços no site de comparação, o que rendeu até ameaças de processos judiciais.
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“O teste de product market fit deu certo com o consumidor, mas com os varejistas levou três anos. A gente tinha ficado grande, ainda que não lucrativo. Nós resolvemos cobrar das lojas e elas começaram a pagar. (…) Tivemos de angariar um número de consumidores tão grande que o Buscapé se tornasse um mal necessário para as varejistas”.
Veja a história completa de como Romero Rodrigues e três amigos da faculdade criaram o Buscapé, depois vendido por US$ 342 milhões ao grupo sul-africano Naspers, neste episódio do podcast Do Zero Ao Topo:
Presente e futuro dos investimentos
O Brasil tem cerca de 35 mil startups em operação, segundo a base de monitoramento da empresa de inovação Distrito. Rodrigues enxerga um cenário fértil para a criação presente e futura de negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos no país por diversos motivos.
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Primeiro, o tamanho da população consumidora brasileira. “Você pode criar um unicórnio [startup com avaliação igual ou superior a US$ 1 bilhão] atuando apenas no mercado brasileiro. Essa oportunidade não existe na Argentina, na Colômbia, em Israel ou em Singapura”, afirmou Rodrigues.
Por outro lado, o país que tem uma adoção profunda da tecnologia convive com burocracia e ineficiência generalizadas. “Falta um monte de coisa. Mas isso é ótimo: como é que você cria algo que vai inovar em Singapura? É muito mais fácil criar aqui. É uma oportunidade.”
Por fim, Rodrigues ressaltou que investimentos em startups são para o longo prazo: alguns dos unicórnios brasileiros recentes foram fundados entre sete e dez anos atrás. “Ou seja: os próximos sete anos de notícias boas em startups já estão sendo contratados hoje”, disse Rodrigues. “Não tem momento melhor do que agora, ou lugar melhor do que o Brasil, para empreender.”