Por que este setor conquistou tanto Semenzato quanto Camila Farani?

A rede de clínicas médicas franqueadas Partmed foi cofundada por Semenzato. A fusão com a Tem Saúde, uma startup no mesmo ramo, atraiu Camila ao negócio

Mariana Fonseca

Camila Farani e José Carlos Semenzato (Guido Ferreira/Divulgação Sony Channel)
Camila Farani e José Carlos Semenzato (Guido Ferreira/Divulgação Sony Channel)

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José Carlos Semenzato aposta nas franquias, enquanto Camila Farani investe nas startups. Apesar das preferências diferentes em modelos de negócio, os dois já estavam de olho em um mesmo setor: o de saúde popular. Agora, os “tubarões” – nome dado aos jurados do programa de investimentos Shark Tank – uniram esforços em uma única empresa.

Nesta quinta-feira (11), os empreendimentos PartMed e Tem Saúde anunciaram uma fusão. A PartMed foi cofundada por Semenzato, por meio da holding SMZTO, e tem 60 unidades franqueadas de clínicas médicas focadas em serviços para as classes C e D. Já a Tem Saúde tem 1,8 milhão de membros cadastrados em sua plataforma de conexão com serviços de bem-estar e saúde. Farani atuou como consultora durante as negociações para a fusão da franqueadora e da startup. Ela acabou entrando virando investidora na empresa resultante.

O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com os fundadores de PartMed e Tem Saúde e com Semenzato e Farani.

Os empreendedores e investidores falaram sobre a trajetória de cada empresa e os passos depois da fusão. Também refletiram sobre como franquias e startups conseguem ter uma parceria de sucesso, e sobre o potencial do mercado de saúde no Brasil.

A união entre franqueadora e startup

A PartMed foi criada em 2015. Paulo Zahr já era fundador da OdontoCompany, uma rede de clínicas odontológicas populares. “Resolvemos fundar um produto parecido, mas para a medicina. A ideia é que os pacientes possam consultar tanto clínicos gerais quanto especialistas. E que consultas, exames e procedimentos tenham um preço competitivo. Atendemos quem não consegue manter o mesmo plano de saúde quando envelhece, mas também não quer depender do SUS [Sistema Único de Saúde]”, diz Zahr.

A OdontoCompany faz parte da SMZTO, a holding de franquias criada por José Carlos Semenzato que faturou mais de R$ 3 bilhões em 2020. Zahr novamente fez sociedade com Semenzato para criar a PartMed. Hoje, a rede tem 60 clínicas médicas em operação e outras 44 unidades em construção (busca de ponto comercial e reformas). Cada unidade faz em média 900 consultas por mês. As unidades mais maduras chegam a 2.000 consultas no mesmo período.

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As conversas com a Tem Saúde começaram faz cerca de um ano. A startup foi cofundada por Igor Pinheiro e Tuca Ramos em 2014. O objetivo também é atender quem não tem acesso a planos de saúde. A Tem Saúde focou em uma estratégia B2B2C: sua plataforma reúne produtos de planos de saúde e os conecta a lojas das Casas Bahia e a agências do Itaú, por exemplo. Essas empresas, por sua vez, comercializam a plataforma para seus próprios clientes.

“Não somos um plano ou seguro de saúde, mas sim uma startup que permite o acesso desses produtos pelo amplo varejo. Usamos para isso grandes canais que não têm operações próprias de plano de saúde”, diz Ramos.

A Tem Saúde reúne 1,8 milhão de usuários finais atualmente, que usam tanto plataformas com o nome das empresas atendidas (white label) quanto a plataforma com o nome da própria Tem Saúde. A startup oferece um aplicativo e um cartão para consulta e acesso aos serviços de bem-estar e saúde apresentados na plataforma. São 6 mil pontos de atendimento com desconto, entre clínicas médicas e odontológicas.

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A PartMed estava de olho na plataforma e na carteira de empresas e usuários da Tem Saúde. Já a startup estava de olho na rede de clínicas físicas da franqueadora. “Percebemos como a verticalização é um modelo de sucesso para esse setor. A saúde tem uma necessidade de uma experiência que também seja física, e a experiência do usuário seria melhor tendo nossas clínicas. Agora teremos realmente um modelo phygital [mistura entre físico e digital], com o objetivo de ser a melhor empresa de acesso a saúde do Brasil”, diz Ramos.

A nova empresa assumirá o nome Tem Saúde. “A ideia é ter uma única linha de marketing, e o nome Tem Saúde já é endossado por grandes empresas”, explica Zahr. As clínicas da PartMed também mudarão suas fachadas para o novo nome. Ainda, a PartMed vai investir R$ 40 milhões em infraestrutura tecnológica para analisar dados de utilização dos usuários da Tem Saúde e unificar os prontuários e protocolos médicos da PartMed com o sistema da plataforma. O objetivo é tornar consultas, exames e procedimentos mais assertivos. Nos próximos três anos, a nova empresa quer chegar a 300 clínicas e a 5 milhões de usuários atendidos.

Sócios da PartMed e da Tem Saúde (Divulgação)
Sócios da PartMed e da Tem Saúde (Divulgação)

Franquias e startups podem crescer juntas?

Semenzato e Camila entram com seus conhecimentos respectivamente de franquias e de startups. “Eu e o Semenzato somos sócios e fundamos juntos a PartMed. A Camila entrou para agregar uma outra experiência, mais digital. Todos vão entender agora que estamos de fato trazendo tecnologia ao nosso negócio”, diz Zahr. “Precisamos ter uma estratégia de crescimento e marketing para sermos relevantes, e a Camila vai agregar sua experiência com negócios digitais nessas duas áreas”, completa Ramos.

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Camila é presidente da gestora G2 Capital, contando com mais de 40 startups em seu portfólio. Para a investidora anjo em startups, a aproximação entre empresas tradicionais e startups deve gerar benefícios para as duas partes.

“As startups trazem a agilidade dos negócios digitais, a proximidade com as dores dos clientes, o espírito inovador e, assim, ajudam a oxigenar as organizações mais tradicionais, oferecendo novas possibilidades de elas se posicionarem no mercado. Já as grandes empresas geralmente têm a oferecer a força da marca, um portfólio robusto de clientes e parceiros, canais de distribuição bem estruturados. Todos têm a ganhar.”

Mas é preciso prestar atenção em alguns pontos: como será a negociação, e quais empreendedores estão por trás dos negócios. “É importante que a grande empresa não abafe a startup dentro da sua estrutura tradicional, dos seus processos muitas vezes excessivamente burocráticos e lentos”, ressalta Camila. “E todo negócio vai exigir visão e diversas habilidades para solucionar e resolver problemas. Sejam empresas de base tecnológica ou tradicionais, todas precisam de um empreendedor muito capacitado à frente. Empreender é uma mentalidade: é não ter medo de errar e buscar acertar; é estar atento aos detalhes do negócio; é conhecer o cliente, o mercado e os concorrentes; e é montar um time complementar.”

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Olhos dos investidores na saúde

“A falta de planos de saúde para a maioria da população e as longas esperas no sistema público de saúde geram uma grande oportunidade para a PartMed e para a Tem Saúde, no sentido de oferecerem consultas e exames a preços acessíveis para a maioria”, reflete Semenzato, destacando investimentos anteriores no setor pela OdontoCompany e pela empresa de implantes dentários OralSin. “Queremos ampliar nossos investimentos nesse setor e estamos investindo fortemente na governança da empresa, profissionalizando e fortalecendo a transformação digital. Tenho apostado muito no phygital.”

Camila ecoa a importância do digital no mercado de saúde, especialmente depois do período de isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19. As healthtechs, startups que atuam no setor, receberam globalmente 79% mais investimentos na comparação entre 2020 e 2021. Foi um valor recorde, de US$ 57,2 bilhões. As informações são da empresa de pesquisas em inovação CB Insights.

“O grande valor das healthtechs é que estamos falando de empresas que estão se apropriando das tecnologias exponenciais como inteligência artificial, internet das coisas, realidade virtual e aumentada, entre outras, para construir soluções capazes de resolver dores importantes na área da saúde”, reflete Camila. Além da Tem Saúde, a investidora tem no portfólio healthtechs como o robô Laura e o unicórnio Betterfly. “O potencial da aplicação da tecnologia no segmento da saúde nos próximos anos não tem precedentes. É um mercado que será cada vez mais gigante e de grande oportunidade para investidores e startups.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.