Logística na América Latina: dona da CargoX se torna mais novo unicórnio brasileiro

Holding que une empresas CargoX, FreteBras e Frete Pago atingiu avaliação maior que US$ 1 bilhão depois de nova rodada de aportes

Mariana Fonseca

Federico Vega, fundador da CargoX e CEO do Frete.com (Divulgação)
Federico Vega, fundador da CargoX e CEO do Frete.com (Divulgação)

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SÃO PAULO – O Brasil ganhou mais um unicórnio, ou startup com avaliação de mercado de ao menos US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões). A nova empresa bilionária se chama Frete.com. A holding une dois negócios conhecidos no setor de logística: a startup de digitalização de caminhoneiros CargoX e a plataforma de negociação de transporte de cargas FreteBras.

A CargoX já era um dos palpites para próximos unicórnios brasileiros, elencados no final de 2020. Já a Fretebras foi fundada em 2008, em Goiás, e compartilha grandes investidores com a CargoX desde 2019.

O Frete.com é o terceiro unicórnio brasileiro no burocrático e complexo mercado de logística, após as empresas de entregas iFood e Loggi. Mas é o primeiro unicórnio atacando especificamente as cargas pesadas, transportadas por caminhões.

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A empresa dona de CargoX e Fretebras se tornou um unicórnio após um investimento de US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão), anunciado nesta quarta-feira (10). O aporte foi liderado pelo conglomerado japonês de telecomunicações SoftBank e pela gigante chinesa de tecnologia Tencent. Também teve a participação de bancos como BID Invest e BTG Pactual e de fundos como LightRock, Reinvent Capital e Valor Capital Group.

“A empresa traz soluções inovadoras para um mercado gigantesco, com grande demanda por digitalização e melhores serviços. Já investimos em logtechs [startups de logística] nos principais mercados do mundo e vemos um grande potencial no setor”, afirmou em comunicado Carlos Medeiros, sócio de investimentos do SoftBank Latin America Fund, cujos fundos para negócios na América Latina somam US$ 8 bilhões.

“O poderoso efeito de rede do Frete.com e a liderança de mercado criam uma oportunidade única de investir em uma solução que está transformando substancialmente o setor de logística na região”, completou Reid Hoffman, cofundador da rede social LinkedIn e conselheiro da Reinvent Capital.

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O Frete.com não releva sua avaliação de mercado exata, mas afirma ter ultrapassado a marca do US$ 1 bilhão. Seus negócios captaram US$ 390 milhões (R$ 2,2 bilhões) com investidores.

“Dominamos mercados crescendo a taxas aceleradas, o que faz de nós uma startup. Ao mesmo tempo, temos a segurança de grandes investidores por trás do nosso negócio. Esses dois aspectos são evidenciados na nossa classificação como unicórnio. A resposta política é que esse status não importa. Mas importa sim, porque ajuda a contratar boas pessoas que estão em grandes empresas. É um símbolo de força com tranquilidade”, diz o empreendedor Federico Vega.

O fundador da CargoX e CEO do Frete.com conversou com o Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, sobre a transformação da CargoX na holding Frete.com. Também falou sobre os próximos passos do grupo de logística após a nova injeção de capital.

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Eficiência para caminhões

O Frete.com se define como um ecossistema de soluções para transportadoras e caminhoneiros autônomos. A holding reúne não apenas CargoX e FreteBras, mas também a recém criada FretePago. “O transportador encontra cargas pela FreteBras, recebe pagamentos pela FretePago e se digitaliza pela CargoX”, resume Vega. As três empresas operam de maneira independente.

A CargoX foi criada por Vega em 2013. A história do empreendedor argentino, que teve a ideia enquanto pedalava de bicicleta pela Patagônia e enfrentou mais de 200 rejeições de investidores, foi tema de episódio no podcast do Do Zero ao Topo.

A plataforma conectava caminhoneiros a empresas que precisam escoar seus produtos, como Ambev e Votorantim. “O caminhoneiro costumava ir ao escritório das transportadoras ou ao posto de gasolina caçando cargas para transportar. Assim, os caminhões rodavam com 40% a 60% de capacidade ociosa. Já as transportadoras investiam em escritório, precisavam aguardar caminhoneiros e pagavam caro porque o caminhão não rodava com toda a capacidade. Os dois lados convivem até hoje com riscos de calote e de segurança e só conseguem serviços financeiros caros, porque poucas instituições bancárias entendem do negócio. Tudo isso se traduz em perda de eficiência”, diz Vega. “Quando você gera mais produtividade aos caminhões, que são boa parte da indústria de transportes brasileira, gera também impacto na economia como um todo.”

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Em 2019, a CargoX decidiu focar na digitalização dos caminhoneiros e transportadoras, deixando a plataforma de conexão para a FreteBras e os pagamentos para a FretePago. “As empresas de transporte precisavam urgentemente se digitalizar e vimos essa frente decolar muito. Havia uma necessidade maior em levar eficiência a esses negócios, por meio de serviços como capital de giro, documentação e seguros”, afirma o fundador. A CargoX defende que sua solução gera um lucro líquido 50% maior aos caminhoneiros e 25% maior às transportadoras, em média.

O Frete.com como um todo se monetiza cobrando uma mensalidade das transportadoras para publicação de fretes, além de taxas pela intermediação de pagamentos ou pela concessão de capital de giro. São 80 mil usuários que publicam cargas mensalmente, representando 615 mil caminhões. O número representa 40% do 1,5 milhão de caminhões brasileiros em atividade. Até o final de 2022, o Frete.com espera ter mais de 50% dos caminhões brasileiros em sua plataforma. “Podemos chegar até uns 70% a 80% dos caminhões em longo prazo”, diz Vega.

O futuro das cargas pesadas

O novo aporte de R$ 1,1 bilhão será usado para desenvolvimento e para crescimento. Em tecnologia, alguns objetivos são melhorar a combinação entre cargas e caminhões, digitalizar mais documentos, aumentar a segurança nas entregas e reduzir emissões de carbono do transporte rodoviário, já que menos caminhões ociosos ocupam as estradas.

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Em 2021, o Frete.com tem como projeção crescer 90% sobre o ano anterior e movimentar R$ 100 bilhões em fretes. Já para 2022, espera novamente crescer 90%.

A aposta para o próximo ano está não só em colocar mais transportadoras brasileiras na plataforma, mas também transportadoras de outros países da América Latina. “Existe muito comércio rodoviário entre os países da região. Já temos caminhões brasileiros fazendo entregas na Argentina e sabemos que muitas transportadoras de lá querem contratar caminhoneiros do Brasil. Queremos atender essas empresas dos países vizinhos, então o primeiro passo nessa direção será o investimento em processos internacionais de due diligence [investigação de riscos]”, diz Vega.

Todos esses planos passam por uma meta pesada de contratação. O Frete.com tem 1,3 mil funcionários, e pretende chegar a 3,5 mil deles até o final de 2022. “O melhor destino para qualquer investimento é gente”, completa o fundador.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.