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SÃO PAULO – Estabelecimentos fechados e altos índices de desemprego derivados da pandemia impulsionaram um fenômeno que já era comum nos últimos anos: a adesão dos brasileiros a aplicativos como forma de obter renda. Um contingente adicional de 11,4 milhões de brasileiros recorreram aos apps para garantir uma parcela ou a totalidade de seus ganhos. O Brasil tem hoje aproximadamente 20% de sua população adulta, 32,4 milhões de pessoas, usando algum tipo de app para trabalhar. Antes da pandemia, a porcentagem era de 13%.
Não são apenas os próprios apps que se beneficiam do movimento. Algumas startups faturam ao suportar os profissionais da gig economy, ou economia dos trabalhos flexíveis. É o caso da Kovi, que fornece aluguel de carros principalmente aos motoristas de aplicativo. Essa proposta acabou de atrair uma grande injeção de capital.
A Kovi anunciou nesta quarta-feira (18) a captação de um aporte de cerca de R$ 500 milhões (US$100 milhões). A rodada série B foi liderada pelo fundo Valor Capital Group, que investiu em negócios como Buser, Descomplica e Loft. A Prosus Ventures (antiga Naspers) entrou como co-líder. Participaram também os fundos Global Founders Capital, Globo Ventures, Maya Capital, Monashees, Norte, ONEVC, Pipo, Quona e Ultra Venture Capital. Completam a rodada o family office de Peter Thiel, cofundador do PayPal, e Justin Mateen, cofundador do Tinder.
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O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com Adhemar Milani. O cofundador da Kovi fala sobre o modelo de negócios da startup, sobre os objetivos com a nova captação de recursos e sobre desafios como a concorrência no mercado de locação de carros e o contexto de falta de carros novos e alta demanda por seminovos e usados.
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Aluguel de carros a motoristas de app
A Kovi foi fundada em 2019. Adhemar Milani e João Costa trabalharam anteriormente no aplicativo de mobilidade urbana 99. “Entrei quando trabalhavam só com táxi e estavam desenhando o Pop, para motoristas autônomos. Foi uma escola bacana de crescimento e de aprendizado da cultura chinesa de expansão depois, com a Didi. Quando saí, eram mais de 1.000 funcionários”, conta Milani.
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A experiência o fez conhecer o perfil dos motoristas autônomos: muitos buscavam um carro para começar a trabalhar, mas tinham dificuldade de conseguir um financiamento. Nas locadoras tradicionais, era preciso pagar com cartão de crédito. Muitos não tinham o plástico ou não queriam comprometer seu limite.
Pela Kovi, o aluguel desses veículos é feito online e por boleto ou cartão de crédito. A startup oferece dois planos, ambos por pagamento por quilometragem (pay per mile). O “Kovi Do Seu Jeito” tem permanência mínima de quatro semanas e fornece carros seminovos.
Já o “Kovi Max” tem permanência mínima de 12 meses, mas dá direito a um carro zero a cada renovação de contrato. Nos dois planos, o pagamento é feito semanalmente: R$ 299 para até 100km; R$ 379 para entre 101km e 500km; R$ 419 para entre 501km e 120km; e R$ 469 para quilometragem ilimitada.
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“O objetivo é criar um aluguel simples e com pagamento flexível, indo do motorista que muito pouco o carro até quem vive dele. A pessoa não é, ela está como motorista de aplicativo. No mês seguinte pode arrumar um novo emprego ou começar um negócio”, diz Milani.
A Kovi tem três tipos de consumidores: o motorista em tempo integral; o motorista em tempo parcial; e usuários que não são motoristas de aplicativo, mas se interessam no modelo de carro de assinatura. Segundo o cofundador, o motorista em tempo integral tem uma renda líquida de três salários mínimos, já descontando despesas como aluguel do carro e combustível.
O usuário precisa pagar uma caução de R$ 800 antes de retirar o carro. “Isso porque existem multas que chegam até um mês depois da devolução do carro”, diz Milani. O valor volta ao usuário até três meses depois da devolução do carro. A caução pode ser parcelada em três vezes, caso o pagamento seja por cartão de crédito.
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A startup não é dona dos carros fornecidos. Os seminovos são alugados com locadoras como Arval, enquanto os carros novos são obtidos por parcerias com montadoras como Nissan, Renault, Toyota e Volkswagen.
“Depois de um ano de uso pelo Kovi Max, as montadoras priorizam a venda dos carros em suas próprias redes de concessionárias de seminovos. A Kovi entra como uma solução para ter uma vertical de carro por assinatura sem precisar fazer cobrança, gestão de crédito ou manutenção”, diz Milani.
A Kovi tem 10 mil assinantes entre Brasil e México, com cerca de 40 milhões de quilômetros rodados mensalmente. A pandemia do novo coronavírus fez a startup criar diversas ações para reter motoristas, incluindo o próprio pagamento por quilometragem.
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“Já tínhamos pensado nesse tipo de cobrança e o momento de pandemia foi propício para esse teste. Acabou virando nosso modelo de negócio usual”, diz Milani. A Kovi recuperou o número de motoristas que tinha antes da pandemia em outubro de 2020. No acumulado do ano, cresceu a base de clientes em 70%.
Para o cofundador, os bancos são concorrentes da Kovi, já que financiam veículos para os motoristas e os afastam do aluguel. Propostas de locadoras como Movida e Unidas competem apenas por motoristas que usam cartão de crédito. Já a Zarp Localiza também permite pagar com boleto. “Em todos os casos, defendemos como diferencial a flexibilidade da nossa locação, pelo modelo de pay per mile.”
“Nós vemos um potencial enorme na Kovi, especialmente porque o acesso ao carro ainda é uma realidade distante para milhões de pessoas na América Latina. A Kovi fornece soluções inovadoras e flexíveis que tornam o carro prontamente disponível para uma base mais ampla.
A empresa certamente está liderando o movimento de mudança desse setor não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina”, afirmou em comunicado sobre o investimento Scott Sobel, sócio-fundador do Valor Capital Group.
Investimento e planos
A startup começou sua internacionalização no final de 2019, mesmo ano em que recebeu R$ 150 milhões (US$ 30 milhões) em seu investimento série A. Parte dos recursos com a captação série B irá para expansão geográfica a outros países da América Latina, como Argentina, Chile e Colômbia. A Kovi também está de olho em países emergentes fora dessa região, como África do Sul e Turquia.
“Procuramos locais onde a concessão de crédito e a gestão de segurança dos veículos sejam problemas relevantes. Ao mesmo tempo, as montadoras nesses países devem ter interesse em alugar seus carros”, diz Milani. A nova onda de internacionalização deve começar em 2022.
Também haverá investimento em tecnologia. Algumas áreas priorizadas serão internet das coisas (IoT), usabilidade e operação. “Vamos usar o hardware do celular para coletar mais dados do usuário, como comportamento de direção e localização. Também vamos melhorar o relacionamento com o usuário por meio do ano aplicativo. Por fim, teremos mais digitalização de processos como contratos, logística, manutenção e pagamentos”, diz o cofundador.
Tanto expansão quanto tecnologia pedem mais contratações. A Kovi tem 700 funcionários e vai abrir mais vagas, chegado a 900 funcionários até o final deste ano. A frota deve ir de 12 mil veículos para 20 mil veículos. “Nosso plano ainda depende muito da volta de produção nas montadoras”, alerta Milani. No site da Kovi, apenas a categoria sedan está disponível. As categorias hatch e premium aparecem como esgotadas.
“Sofremos e continuamos imaginando que teremos impactos da falta de carros novos e da valorização de usados e seminovos. A inflação também entra nas nossas contas: afeta locação, manutenção e até preço do combustível. Então, impacta nossa lucratividade e a dos nossos motoristas. Porém, seguimos olhando macrotendências como gig economy e novos modelos de negócio para a mobilidade urbana, incluindo assinatura de carros. O aporte veio para preparar um crescimento esperado principalmente no segundo semestre de 2022.”
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