Grupo de mercados digitais que entregam em 15 minutos recebe aporte de R$ 870 milhões

Brasileira Daki oferece mais de 1.000 produtos em seu aplicativo; entregas acontecem em 20 bairros de São Paulo, e negócio deve chegar ao Rio de Janeiro

Mariana Fonseca

Rodrigo Maroja, Alex Bretzner e Rafael Vasto, da Daki (Divulgação)
Rodrigo Maroja, Alex Bretzner e Rafael Vasto, da Daki (Divulgação)

Publicidade

SÃO PAULO – A pandemia de Covid-19 fez os brasileiros pedirem mais alimentos por delivery. Entre março de 2019 e março de 2021, o número de brasileiros com smartphone que já pediram uma refeição por aplicativo saltou de 58% para 80%, segundo pesquisa Mobile Time/Opinion Box.

Nos bastidores, a disputa entre os aplicativos de entrega em domicílio se acirrou. O mercado digital Daki espera abocanhar uma fatia do mercado brasileiro – dominado por empresas como iFood, Rappi e Uber Eats. Mas também expandirá sua atuação em outras cidades, como Nova York (EUA), Cidade do México (México), Bogotá (Colômbia), Lima (Peru), Varsóvia (Polônia) e Viena (Áustria).

Os planos ambiciosos vieram primeiro de uma fusão com a JOKR, startup concorrente que atua nas cidades internacionais. A JOKR também nasceu no começo deste ano e foi criada por Ralf Wenzel, que fundou e depois vendeu a Foodpanda para a gigante europeia de entregas DeliveryHero. Wenzel também foi um dos sócios operadores do Softbank Latin America Fund, fundo criado pelo gigante japonês de telecomunicações e voltado às startups da América Latina.

A união feita no mês passado tornou as duas empresas mais ágeis em atacar mercados diferentes – e mais atraentes no olhar dos investidores. Nesta terça-feira (20), o grupo anunciou a captação de um aporte série A de US$ 170 milhões (na cotação no momento do acordo, cerca de R$ 870 milhões).

A rodada foi liderada pelos fundos de investimento Tiger Global (investidor de negócios como 99, Brex e Conta Azul), GGV Capital (IDWall, Loggi) e Balderton Capital (Merama, Revolut). Os fundos Monashees, Kaszek Ventures, HV Capital, Activant Capital, Greycroft e FJ Labs completaram o aporte.

Parte do dinheiro será usada para a expansão brasileira, por meio da marca Daki. Os planos nacionais foram detalhados em uma coletiva de imprensa online realizada na manhã desta terça.

Continua depois da publicidade

Mercado digital sem intermediários

A Daki foi criada em janeiro deste ano pelos empreendedores Alex Bretzner, Rafael Vasto e Rodrigo Maroja. O negócio começou com uma loja piloto no bairro paulistano de Pinheiros, após um investimento anjo de R$ 2 milhões.

“O objetivo é entregar uma experiência superior de delivery no mercado brasileiro. Mesmo com a digitalização provocada pela pandemia, entendemos que a satisfação do cliente ainda precisa melhorar. A penetração de compra online no país ainda é baixa na comparação com outras vertentes do e-commerce brasileiro e com as compras online de supermercado em outros países”, disse Vasto na coletiva de imprensa. A Daki estima que o setor de alimentos e bebidas tenha faturamento global de US$ 8 trilhões, e que apenas cerca de 3% do valor está online.

A startup de delivery coloca como diferenciais aos consumidores a entrega em 15 minutos, o frete grátis, a operação das 7h às 2h da madrugada e o sortimento com mais de 1.000 produtos. Como modelo de negócio, a Daki instala pequenos centros de distribuição de portas fechadas (dark stores). Os galpões têm raio de entrega reduzido e estoque próprio. Os entregadores têm um contrato de parceria exclusiva: podem ficar em espaços de descanso criados em cada dark store da Daki durante um horário determinado. Depois, podem atuar com outros aplicativos.

Continua depois da publicidade

Segundo Maroja, os galpões fechados pedem menor investimento porque não precisam de caixas, de elementos para atrair o consumidor e nem da melhor localização de ponto comercial. A Daki também negocia diretamente com indústrias e pequenos fornecedores, sem depender de supermercados. Ainda, o investimento da startup é reduzido por conta de um estoque menor: a Daki pode chegar a até cerca de 2.000 produtos, longe dos cerca de 10.000 SKUs de supermercados comuns.

“Somos uma empresa de tecnologia e trabalhamos com dados. Temos um limite de produtos para garantir que temos o produto certo para a pessoa certa e no bairro certo. O objetivo é preencher necessidades em cada categoria com o estoque mais otimizado possível.

Por exemplo, no lugar de 20 marcas de molhos de tomate, teremos apenas um molho mais popular e um molho mais premium”, disse Bretzner. “Não adicionamos uma profundidade que possa complicar a experiência do cliente, e nem nossa operação. Nunca vamos chegar a 10.000 produtos porque queremos uma experiência mais fluida”, completou Vasto.

Continua depois da publicidade

Com menos marcas por categoria, a Daki pôde expandir para verticais como acessórios para celular e hortifruti sem grande impacto no número de SKUs. Os produtos são atualmente separados pelas categorias de Mercearia, Hortifruti, Carnes & Congelados, Padaria, Ovos & Laticínios, Bebidas, Adega, Cervejas & Destilados, Tabacaria, Snacks, Doces & Sorvetes, Casa & Limpeza, Farmácia, Cuidado Pessoal, Pets e Bebê.

Os fundadores afirmam que esse modelo de negócios permite ter uma operação lucrativa. “É um mercado com margens apertadas e que pede eficiência. Por isso adotamos o corte de intermediários”, disse Vasto.

Na comparação entre o primeiro e o segundo trimestre de operação, a Daki cresceu oito vezes em número de pedidos. A startup não abre o número absoluto de pedidos.

Continua depois da publicidade

O investimento de US$ 170 milhões recebido pelas marcas será usado para expansão geográfica, inclusive no Brasil; para melhorar o sortimento de produtos; para melhorar a experiência de navegação e compra pelo aplicativo; e para expandir a equipe.

A Daki tem 10 dark stores na cidade de São Paulo. Atende 20 bairros nas zonas oeste, centro e centro-sul. Nos próximos dias, a Daki também deve chegar à cidade do Rio de Janeiro. O objetivo é terminar este ano com 100 centros de distribuição de portas fechadas, focando nas duas cidades.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.