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Uma autointitulada “colombiana de nascimento e brasileira de coração” de 29 anos acabou de receber US$ 6,7 milhões (cerca de R$ 35 milhões) para revolucionar o mercado de seguros no Brasil.
Paola Neira é a fundadora da insurtech – como são chamadas as startups do setor de seguros – Latú, uma abreviação de Latin American Tech Underwriters.
A empresa desenvolve um sistema que usará tecnologia e a imensa quantidade de dados disponíveis para escalar e agilizar as avaliações de risco de companhias e fornecer cobertura para pequenas e médias empresas de até US$ 10 milhões contra ações judiciais, ataques cibernéticos, tempo de inatividade, danos à propriedade, erros de profissão e lacunas de compliance, entre outros.
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“Hoje, toda a avaliação de risco, o processo para entender qual apólice uma empresa precisa e o acompanhamento são processos offline. Um subscritor de risco precisa analisar e tomar a decisão de como precificar”, afirma Neira.
Por outro lado, há uma infinidade de dados disponíveis que acabam não sendo levados em conta nessa análise. “ Queremos trazer todas as informações, não só das empresas, mas dos clientes, fornecedores, executivos, para entender não apenas o risco intrínseco da empresa mas de toda a rede”, completa.
Com a avaliação, a Latú busca entender os pontos de risco e segurança e ajudar empresas a endereçar problemas que ainda não surgiram. “Conseguimos monitorar reclamações de clientes e entender se o tema precisa ser endereçado antes que vire um risco jurídico”, exemplifica. De acordo com Neira, a verdadeira mágica acontece quando se combina o conceito de rede de proteção, que é o papel do mercado de seguros, com tecnologia
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Neira começou sua vida profissional na área de finanças e entrou no mundo de startups primeiro como investidora, trabalhando em um fundo, em Dubai. De lá, seguiu para Nova York para estudar desenvolvimento de software e entrou na Rappi, onde coliderava um time de mais de 200 desenvolvedores e me especializei na área de produtos.
Um dos seus primeiros projetos, contudo, foi o que a levou à concepção da Latú. Quando cursava o ensino médio, ela e seus amigos se depararam com a questão de como financiar a festa de formatura. “Meus pais sempre falaram que o mais importante era trazer soluções. Sempre que eu aparecia com um problema, eles falavam ‘ok, qual é a solução?’ Isso, sem dúvida, me levou a pensar sempre de uma forma positiva, buscando como resolver”, afirma Neira.
A solução criada por eles foi um fundo para pagar pela festa. Depois da formatura e com sobra de caixa, eles passaram a fornecer crédito para pequenas e médias empresas. Foi tentando ajudar justamente esses pequenos empreendedores que ela teve sua ideia de negócio.
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Depois da pandemia, muitas dessas companhias que o fundo de Neira financiou procuraram seguro empresarial mas não conseguiram contratar. “Eu achava que o problema era na compra e ‘peguei’ o negócio para mim: fui tentar ajudar e vi que era uma missão impossível, justamente pelo processo ser todo offline e baseado em perfis que não levam tudo em consideração”, afirma.
Para ela, o seguro empresarial é uma ferramenta que ajuda as empresas a crescer. “Se você tem um seguro que protege contra alguns riscos, pode arriscar naquilo que realmente importa”, afirma.
Crescer e multiplicar
Hoje, a companhia é formada por oito pessoas, mas a meta é chegar a 40 nos próximos 12 meses: metade de tecnologia e metade de seguros. Os produtos devem ser ofertados em breve, em formato de pacotes para setores, com coberturas maiores, ou como seguros independentes, como uma proteção contra ataques cibernéticos.
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O capital para isso virá da primeira rodada de investimento e uma das maiores já registradas na América Latina para o estágio em que a companhia está, o chamado pré-seed.
Liderada pela monashees, pioneira na indústria de capital de risco no Brasil, e pela Charles River Ventures (CRV), a rodada também teve participação da ONEVC, Latitud e SVAngels. Outros investidores anjos (pessoas físicas ou jurídicas que fazem investimentos com seu próprio capital em empresas com alto potencial de crescimento) incluem vários fundadores, como Simon Borrero, Sebastian Mejia e Felipe Villamarin da Rappi, Santiago Suarez e Daniel Vallejo da Addi, Enrique Villamarin da Tul, Igor Mascarenhas, da Pier, Matthew e Miguel Vega-Sanz, da Lula Technologies, Alan Jaime, da Draftea, Sachin Patel, ex-investidor da YC, além do fundo de alumni do AirBnB, entre outros.
Nesta etapa inicial, o que os fundos fazem ao realizar um aporte é, na verdade, apoiar um fundador com um bom projeto. Para Fabiola Quinzaños, principal na monashees, a aposta parece certeira. Em um mercado onde menos de 20% das companhias têm uma apólice, comparado a 70% nos mercados desenvolvidos. “Paola conseguiu atrair uma equipe de ponta com habilidades complementares, colocando-a na melhor posição para reinventar a forma como o seguro é consumido na América Latina e democratizando o acesso”, afirma Quinzaños.
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James Green, sócio geral da CRV, lembra que há muito tempo existe um desafio para as empresas em obter seguro e a proteção necessária para permitir que cresçam. “Ironicamente, garantir o seguro é o que literalmente desbloqueia o crescimento, permitindo que elas façam negócios com grandes corporações, garantam financiamento, abram uma nova vertical e muito mais,” diz e completa garantindo entusiasmos com a ideia de que Paola pode fazer isso dando acesso a seguros para os negócios da América Latina.
A fundadora sabe que essa foi uma grande rodada inicial, mas garante que a oportunidade é ainda maior. “Não estou falando de tomar market share de outros negócios, mas de expandir o mercado para empresas que, hoje, não têm acesso a seguros. Isso pode mudar tudo”, diz.