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SÃO PAULO – As proteínas que imitam o gosto das carnes animais usando apenas ingredientes vegetais estão conquistando investidores, inclusive no Brasil. A última notícia do setor é um novo investimento na Fazenda Futuro. A startup de comida (foodtech) brasileira fez uma rodada que avaliou o negócio em R$ 2,2 bilhões – cerca de três vezes mais do que a avaliação de R$ 715 milhões conquistada na rodada anterior, feita em setembro de 2020.
A atual série C captou cerca de R$ 300 milhões (US$ 58 milhões). O investimento foi liderado pelo banco de investimentos BTG e pela Rage Capital, um fundo europeu que investiu tanto nas gigantes Airbnb e Epic Games quanto em foodtechs como a Clara Foods. Todos os investidores de rodadas anteriores acompanharam a rodada atual. Novos investidores incluem tanto a co-líder Rage Capital quanto a XP Inc. (controladora do InfoMoney).
“Essa avaliação é um reflexo do nosso poder de execução, traduzido em crescimento. Construímos uma marca apreciada no Brasil e em outros países em pouco mais de dois anos. O mundo sabe que o Brasil entende de carne, e agora podemos assumir a liderança nas carnes de planta”, afirma Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro, em entrevista ao Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney.
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Fazenda Futuro: a história da startup que aposta em carne de planta para superar frigoríficos
A Fazenda Futuro foi criada em abril de 2019. Além de um hambúrguer feito com plantas, a foodtech têm emulações de almôndegas, atum, carne moída, frango em pedaços e linguiça de pernil. Alguns ingredientes usados são beterraba, ervilha, gordura de coco, óleo de canola e soja. O objetivo é atrair não apenas os vegetarianos e veganos, mas também consumidores da carne comum. A fazenda Futuro atua em 25 países atualmente, com metade do seu faturamento vindo de mercados internacionais.
Conquista de terras internacionais
O novo investimento vai principalmente para fazer o negócio virar nos Estados Unidos – o maior mercado de comida plant based do mundo. “Precisamos de todos os investimentos possíveis para emplacarmos nossa marca e fazermos nossa entrada no mercado americano [go to market]”, afirma Leta.
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A foodtech brasileira está em pré-operação no país faz pouco mais de um mês, vendendo em algumas lojas online dos Estados Unidos. Agora, a Fazenda Futuro está negociando com varejistas e distribuidores para vender em todo o país no começo de 2022. Mas a competição será pesada. Segundo a consultoria Tracxn, os Estados Unidos têm cerca de 2,8 mil foodtechs. As principais startups americanas fabricando comida a base de plantas são a Beyond Meat, avaliada em US$ 6,6 bilhões na bolsa de tecnologia Nasdaq, e a Impossible Foods, que está buscando uma avaliação de US$ 7 bilhões em uma nova rodada privada de investimentos.
Para Leta, um diferencial da foodtech brasileira será o preço. “Beyond Meat e Impossible Foods são marcas premium, com embalagens que custam de US$ 6 a US$ 8. Temos as marcas de supermercado no outro extremo, que custam entre US$ 3 e US$ 4,5. Nós entregamos um produto com qualidade premium, mas com um preço que fica entre as marcas de supermercado e as marcas premium por conta da nossa produção nacional. É assim no Canadá, onde estamos presentes na rede Whole Foods”, diz o fundador. Essa produção nacional se traduz em facilidade de obter matéria-prima, pela vocação agrícola do Brasil, e custos de produção menores por conta do atual câmbio entre o real brasileiro e o dólar americano.
O investimento também será usado para fortalecer a Fazenda Futuro em países europeus como Inglaterra e Holanda, por meio de redes como Jumbo e Sainsbury’s. “Os países com maior volume de consumo plant based são Canadá, Estados Unidos e alguns países da Europa. Nas outras regiões, atuamos muito através de representantes locais”, diz Leta. A Fazenda Futuro espera terminar este ano com presença em 30 países.
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A expansão geográfica é acompanhada pela expansão de produtos. A foodtech tem 12 inovações em sua esteira de desenvolvimento, a serem lançadas entre 2021 e 2023. A Fazenda Futuro segue atualizando os produtos atuais, mas também pretende entrar na categoria de produtos que imitam leite e seus derivados. Nesse segmento, a principal concorrente é a chilena The Not Company. A startup conquistou uma avaliação de cerca de US$ 1,5 bilhão em julho deste ano, tornando-se o primeiro unicórnio da América Latina na área de foodtech.
A Fazenda Futuro começará a vender leite e derivados de leite vegetais internacionalmente, e só depois trará os produtos ao Brasil. As vendas internacionais representaram metade do faturamento da startup ao longo de 2021. O plano é que elas representem 90% do faturamento em 2025.
“Em alguns países, percebemos que existe a oportunidade de aumentar nossa presença de marca ampliando as categorias que oferecemos. Por enquanto, o grande volume de consumo de leite e derivados de leite plant based está fora do Brasil”, diz Leta.
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Brasil ainda em consolidação
As foodtechs ainda são recentes no Brasil. Enquanto Beyond Meat e Impossible Foods foram fundadas respectivamente em 2009 e 2011, a Fazenda Futuro começou em 2019. Com sua série C, a startup brasileira quer levar mais musculatura ao consumo nacional de carne plant based.
“Além de esforço comercial para continuar construindo nossa categoria de carnes a base de plantas por aqui, também temos o investimento em desenvolvimento de produto, que acontece na nossa fábrica em Volta Redonda [Rio de Janeiro]”, afirma Leta. A atual capacidade produtiva da fábrica suporta o crescimento projetado para 2022 e 2023. A Fazenda Futuro não abre suas porcentagens de crescimento.
O mercado a transformar é grande: o Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de carne, atrás apenas de Estados Unidos e China, segundo boletim deste ano da Embrapa. Mas o desejo de transformação também é imenso: o país é o quinto mercado no mundo para a comida saudável, segundo o The Good Food Institute, organização global pela inovação na indústria de alimentos.
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Uma pesquisa realizada pelo GFI em maio de 2020 mostrou que 49% dos brasileiros reduziu seu consumo de carne nos 12 meses anteriores, ante 29% no estudo anterior do GFI (2018). Boa parte da substituição feita por esses consumidores é feita com vegetais comuns (47%), mas as carnes vegetais têm uma participação relevante (12%).
A Fazenda Futuro quer colocar fermento nessa fatia do bolo das proteínas alternativas – e esse fermento se traduz em investimento. Segundo Leta, a rodada de cerca de R$ 300 milhões fornecerá caixa para a Fazenda Futuro até 2024. A foodtech ainda não estuda uma oferta pública inicial de ações, como fez a concorrente Beyond Meat. “Não temos o IPO no horizonte por enquanto. O foco está em executar nosso plano de crescimento”, diz Leta.
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