Como unir lucro e sustentabilidade, segundo dois grandes empresários

Para Metsavaht, fundador da Osklen, Brasil deve aproveitar o apelo pela sustentabilidade para criar produtos originais

Letícia Toledo

Oskar Metsavaht, fundador da Osklen
Oskar Metsavaht, fundador da Osklen

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SÃO PAULO – A sociedade está vivendo um período de transição e deixando para trás a revolução industrial para entrar na revolução sustentável. A boa notícia: o Brasil e suas empresas têm os recursos necessários para se colocar em liderança nessa nova era. Essa é a visão de Oscar Metsavaht, fundador da marca de roupas Osklen (hoje controlada pela Alpargatas), e referência em sustentabilidade no país.

“O que ficou claro para mim desde o Rio-92 [conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro em 1992] foi o conceito de desenvolvimento sustentável. Neste conceito, nós podemos usar os recursos naturais para gerar riqueza desde que os deixemos iguais ou melhores para as próximas gerações. Até então o discurso que existia é o de que não se podia ter lucro recursos naturais”, afirmou durante painel do evento Expert ESG, da XP Inc.

Para Metsavaht, que além de diretor criativo da Osklen é fundador do Instituto-E (que reúne práticas para promover o desenvolvimento sustentável), o Brasil deve aproveitar o momento de transição para a revolução sustentável e o apelo de consumidores nacionais e internacionais pela sustentabilidade para criar produtos originais e vendê-los interna e externamente.

“Ao invés de exportarmos apenas commodities nós precisamos criar produtos com sustentabilidade envolvida. O Brasil é o país verde, todos no mundo nos olham dessa maneira, e a gente tem que saber transformar as riquezas naturais que temos em produtos com valor agregado e marcas e sustentáveis”, disse.

Aplicando sustentabilidade nos negócios

Para Pedro Wickbold, diretor da marca de alimentos Wickbold e a quarta geração  a comandar a empresa familiar de 83 anos de idade, empresários enfrentam três grandes desafios ao tentar colocar a sustentabilidade em prática em um negócio já em andamento.

“O primeiro desafio é como mudar a mentalidade dos acionistas da alta gestão sobre a importância de olhar para criação de valor de longo prazo e não focar apenas em números trimestrais. Resultado é fundamental no processo de criação de valor, mas é importante ir além do curto prazo”, afirmou durante a Expert ESG.

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Pedro, que trabalhou na empresa entre 2005 e 2010, retornou aos negócio em 2016 com o desafio de continuar o legado familiar e ao mesmo tempo incluir transformação social nos negócios.

Para cumprir o propósito social, se uniu ao Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) para obter castanhas do Pará diretamente de comunidades extrativas na Amazônia — sem os intermediários que acabavam sugando grande parte do lucro que deve pertencer às comunidades. Hoje, cerca de de 30% de toda a castanha usada pela Wickbold na produção de pães é fornecida por essa parceria.

A polarização no discurso sustentável, que coloca empresas muitas vezes como vilãs que só pensam em lucrar, segundo Pedro, é o segundo grande desafio da implementação da sustentabilidade. “Por melhor intencionado que eu fosse, eu não conseguiria comprar castanha no meio da Amazônia se não tivesse a Imaflora. Em um país tão polarizado como o nosso, precisamos entender que a solução para problemas complexos é colaborativa”, afirmou.

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Para o empresário, o terceiro grande desafio está em saber comunicar ao consumidor a preocupação sustentável da empresa. “Algumas empresas gostam de contar história antes mesmo de realizar as coisas na região do Amazônia. A gente esperou até que a parceria com a Imaflora fosse relevante em nosso negócio para a partir daí comunicar ao consumidor. O desafio agora é comunicar isso”, disse.

Para Metsavaht, da Osklen, um outro desafio das empresas é a implementação da cultura de desenvolvimento sustentável. Para o empreendedor, essa cultura precisa estar presente nas diferentes áreas da empresa, que vão desde a linha de produção até pensamento dos executivos.

“Em muitas empresas sustentabilidade ainda é um departamento que tem que suprir exigências de consumidores e, às vezes, exigências legais. A sustentabilidade não faz parte da nossa formação seja ela de administração, de moda ou qualquer outra. Na Osklen, os critérios de sustentabilidade estão lado a lado com metas, com questões operacionais e financeiras. Com isso, o produto já sai tangibilizado pela sustentabilidade”, disse.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.