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SÃO PAULO – Os criadores do gigante de comércio eletrônico Mercado Livre conquistaram mais um feito no mundo da inovação — agora, do outro lado do balcão. Seu fundo de capital de risco, o Kaszek Ventures, arrecadou US$ 1 bilhão para investir em startups pela América Latina.
Foi a maior rodada de captação já vista para um venture capital de estágio inicial na América Latina — fundos como o SoftBank Latin America Fund estão de olho em empreendimentos mais maduros. Ao todo, o Kaszek Ventures já captou mais de US$ 2 bilhões com investidores.
“Faz 22 anos desde que meus sócios foram parte da equipe que começou o Mercado Livre — e desde aquela época acreditamos que a tecnologia trará diversas oportunidades de resolver problemas estruturais da América Latina. Estamos olhando sempre para horizontes de longo prazo, e vemos o impacto da tecnologia tendendo a ser cada vez maior”, afirmou Santiago Fossatti, sócio do Kaszek Ventures, em entrevista ao Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney. Os fundos serão divididos entre apoiar 25 a 30 novas startups e participar de rodadas posteriores do portfólio atual do Kaszek.
O Brasil, especificamente, é bastante visado pelo fundo. “É o mercado mais desenvolvido da América Latina quando falamos de startups. Várias das grandes empresas do nosso portfólio estão aqui”, diz Fossatti.
Aposta na tecnologia da América Latina
O Kaszek Ventures foi criado em 2011, após Hernan Kazah e Nicolas Szekasy saírem do Mercado Livre. Os antigos COO e CFO da gigante de comércio eletrônico uniram seus sobrenomes para criar o fundo. O objetivo é usar a experiência pioneira na internet para fomentar mais startups pela América Latina. Completam a equipe Nicolas Berman, Santiago Fossatti, Andy Young e Mariana Donangelo.
O fundo acumula 91 startups investidas. Nove delas são unicórnios, ou startups avaliadas em ao menos US$ 1 bilhão. Creditas, Gympass, Kavak, Loggi, MadeiraMadeira e Nubank são alguns exemplos.
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Alguns empreendedores compartilharam sua experiência com o Kaszek, em comunicado sobre a nova captação. “Eu de nossos desafios principais era construir uma equipe de qualidade global, com o objetivo de adentrar o mercado dos Estados Unidos. O Kaszek foi fundamental em nos ajudar a conseguir talentos que permitiram nossa expansão pelo continente americano”, afirmou Matias Muchnik, cofundador da foodtech chilena The Not Company.
“No começo da pandemia, nosso negócio acelerou e precisávamos de recursos para dar conta da demanda. O Kaszek já era nosso investidor e ofereceu mais capital. O dinheiro permitiu que continuássemos a operar sem distrações, e depois fechássemos uma rodada ainda maior”, completou Santiago Sosa, cofundador da plataforma argentina de comércio eletrônico Nuvemshop. “Eu descreveria o Kaszek como o cofundador que nunca tive”, finalizou Sergio Furio, fundador da Creditas.
O US$ 1 bilhão foi destrinchado em dois veículos de investimento: o Kaszek Ventures V (US$ 475 milhões) e o Kaszek Ventures Opportunity II (US$ 525 milhões). Segundo Fossatti, as captações tiveram bem mais demanda dos investidores do que o limite máximo de captação – ou seja, foram oversubscribed. Os investidores são globais: empreendedores de tecnologia, fundações e universidades principalmente dos Estados Unidos e da Ásia.
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O primeiro fundo é voltado para investir em 25 a 30 negócios em estágio inicial (rodadas semente e série A). Já o segundo servirá para continuar apostando nas startups do portfólio do Kaszek Ventures (rodadas de follow on).
Assim como outros fundos que analisam startups que estão apenas começando, o primeiro critério de avaliação é a equipe de fundadores. “Quando estamos avaliando uma oportunidade de estágio inicial, o principal foco está nas pessoas por trás do negócio. Buscamos apoiar os empreendedores que mais correm atrás dos seus sonhos. Depois, quando já temos um relacionamento com as empresas, entram fatores como product-market fit e potencial de escala”, explica Fossatti.
Uma crença continua a mesma, independente do estágio do fundo: a transformação tecnológica virá de empreendedores atuando na América Latina. “É uma região com muitas oportunidades: existe menos infraestrutura, então a tecnologia está levando eficiência a companhias e pessoas. Essa tese fica comprovada com cases de companhias de classe mundial focadas na América Latina, como Kavak, QuintoAndar e Nubank”, completa o sócio do Kaszek Ventures.
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O Kaszek Ventures não foca em um setor específico – apesar de estar mais de olho em mercados grandes e com muitos problemas a serem resolvidos, como educação, finanças e saúde. “Apostamos em negócios nos quais entender a região é fundamental, desde canais de distribuição até regulação.”
A empresa de capital de risco não divulga sua taxa interna de retorno. De acordo com o site americano de notícias TechCrunch, a TIR agregada dos fundos do Kaszek estaria em 55% por ano, medida em dólares.
Fossatti vê as recentes ofertas públicas de ações (IPOs) de startups como parte de um caminho de construir ao valor ao ecossistema de empreendedorismo. “Teremos vários IPOs no nosso portfólio nos próximos anos”, diz.
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Um dos primeiros exemplos foi o próprio Mercado Livre – hoje com uma avaliação de US$ 67,5 bilhões na bolsa americana Nasdaq. “Mesmo depois de 20 anos, o Mercado Livre continua crescendo em ritmo acelerado. Temos atualmente outras companhias públicas em tecnologia com valuation relevante, como Stone e XP”, diz o sócio do Kaszek Ventures. “Todas as maiores empresas abertas dos Estados Unidos são de tecnologia, enquanto as tradicionais continuam no topo na bolsa brasileira e de outros países da América Latina. Então, acreditamos que a tecnologia ainda está no começo e somos otimistas quanto à sua expansão. E muitas das próximas empresas públicas de tecnologia serão financiadas primeiro por fundos de venture capital.”
Contexto favorável ao venture capital
A última captação do Kaszek Ventures havia sido em 2019. “Encontramos muitos projetos com potencial e empreendedores com experiência. Portanto, captamos fundos para continuar investindo”, diz Fossatti.
O momento é propício para os fundos de capital de risco. Uma combinação de efeitos da pandemia de Covid-19 e liquidez global levou a tecnologia a ganhar espaço entre os investidores. Assim, diversos fundos de venture capital e private equity conquistaram captações privadas em 2020 e no começo de 2021.
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Mais arrecadações geram mais aportes em startups. A Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) e a consultoria KPMG divulgaram dados de captação, investimentos e desinvestimentos dessas indústrias no país durante o primeiro trimestre de 2021. Os investimentos feitos por esses veículos atingiram R$ 10,71 bilhões no primeiro tri, alta de 88% sobre o primeiro trimestre de 2020. O investimento médio por empresa também cresceu. Em venture capital, foi de R$ 58 milhões para R$ 139,8 milhões.
Os investimentos em startups devem continuar em alta pelo resto de 2021 – e o Kaszek Ventures será um dos responsáveis.