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SÃO PAULO – Imagine a seguinte situação: uma pessoa quer ir de São Paulo a Bogotá, na Colômbia, e encontra um voo direto por R$ 3.165 no dia 20 de setembro deste ano. Mas, durante a busca por melhores preços, encontra um voo que vai de São Paulo para Miami no mesmo dia com escala em Bogotá e custa R$ 2.291.
A decisão, então, é simples: o passageiro compra o segundo voo (quase R$ 900 mais barato), e, ao invés de chegar ao destino final (Miami), desce no destino que queria (Bogotá) e não termina a viagem.
Jeitinho brasileiro?
“Jeitinho” sim, brasileiro não. Na verdade, essa prática é chamada de Skiplagging e é comum ao redor do mundo. A questão veio à tona no início deste ano, quando a companhia aérea alemã Lufthansa processou um passageiro que fez exatamente isso: desceu em uma das escalas de seu roteiro e não retornou para finalizar o trecho comprado.
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A vantagem para o passageiro é pagar mais barato para chegar ao seu destino, o que incentiva a prática. Para a empresa, é prejuízo.
Ilegal?
Do ponto de vista do consumidor, o problema é que não há uma regulação para esse tipo de prática. Ou seja, legalmente não é proibido descer em uma das escalas, mas não quer dizer que não tenha consequências.
“Os passageiros podem encontrar passagens mais baratas. Mas essa prática vai contra a política das companhias aéreas”, explica Eduardo Martins, CEO do buscador de voos Viajala. “Então, o cliente assume o risco: pode ter voo ou demais conexões cancelados, multas, ou até processo. Uma série de problemas podem surgir por não finalizar o trecho comprado”.
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Embora não exista uma lei especificamente sobre o tema, as aéreas podem definir, em suas políticas de tarifa, regras para punir os viajantes que praticarem skipplagging.
“As empresas fazem isso porque é extremamente danoso para sua receita. Então, se no contrato estiver explicado que se o passageiro descer antes de finalizar o trecho pode ter o voo cancelado, por exemplo, isso pode ser aplicado e deve ser respeitado e o cliente lida com as consequências”, diz Martins.
Foi o que aconteceu com a Lufthansa. A empresa entrou com um processo contra o passageiro alegando que em seu contrato a prática é proibida e pediu uma indenização de 2.112 euros. O processo segue em andamento.
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Um executivo do setor que pediu para não ser identificado disse que a diferença de preço pode chegar a 80% de um voo para o outro.
Ele explica que esse tipo de brecha no sistema existe também para voos pagos com milhas.
O InfoMoney encontrou, por exemplo, uma viagem de Miami para São Paulo com milhas no dia 20 de setembro deste ano por 130 mil pontos. No mesmo site, um voo que sai de Miami para Santiago no mesmo dia e horário, com escala em São Paulo pede apenas 46.750 pontos.
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Ou seja, ao escolher a segunda opção e descer em São Paulo o usuário poderia economizar cerca de 75% dos pontos.
Aéreas perdem muito
Para as companhias aéreas, a prática prejudica a receita. Primeiramente, porque se alguém reserva um voo e aparece apenas para uma perna (trecho), a empresa não poderá vender essa perna para outro passageiro. Decolar com o assento vazio é, no fim das contas, deixar de ganhar dinheiro.
O especialista explica que, para a empresa, um bilhete direto é mais caro do que com escala, “porque na prática é mais confortável e menos demorado”.
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As companhias aéreas não divulgam o cálculo exato para a composição do preço das suas passagens. Segundo Martins, ele envolve variáveis como dólar, ambiente macroeconômico, custos com staff, combustível, entre outros. “A aérea busca um equilíbrio em seu preços para não perder para a competição”, afirma o executivo do Viajala.
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Um cliente que compra um trecho sem intenção de aparecer também pode elevar o preço geral da passagem desse voo ao aumentar artificialmente a demanda. Isso sem contar o atraso causado pela espera do passageiro faltante.
Skiplagging na Justiça
Em 2014, a United Airlines e o site de reservas Orbitz entraram com uma ação conjunta contra o Skiplagged, um site que ajuda as pessoas a encontrar cidades ocultas nas escalas de voos, pedindo uma indenização de US$ 75 mil.
A United argumentou que o site estava competindo injustamente com outras plataformas de reservas e promovendo viagens “estritamente proibidas”. A Orbitz aderiu ao processo porque o Skiplagged redirecionou potenciais passageiros através da Orbitz, forçando efetivamente o site a violar seu próprio contrato com a United. O caso foi arquivado em Chicago.
Hoje, na capa do site uma mensagem aparece: “Promoções ridículas de viagens em que você não encontra em nenhum lugar. Nossos voos são tão baratos, que a United nos processou…mas vencemos”, em provocação a esse processo da companhia aérea americana.
Vale à pena?
Martins explica que geralmente quem faz esse tipo de viagem são pessoas mais experientes.
“São aqueles que chamamos de viajantes profissionais, que vivem disso e que conhecem que esse tipo de brecha existe no sistema. Geralmente, os passageiros comuns, que viajam nas férias duas vezes por ano, não praticam skipplagging justamente por receio de sofrer alguma consequência”, diz Martins.
Além disso, é importante ressaltar um empecilho com a bagagem. Hoje, ao despachar a bagagem em um voo com escala, via de regra, o passageiro só tem acesso a ela no destino final – o que dificulta a prática de skipplagging.
“Claro que também há formas de burlar isso, em alguns aeroportos é possível pegar a mala antes de continuar a viagem, além de mudança de avião ou escalas mais longas, mas depende muito voo”, afirma o especialista que preferiu não se identificar.
Considerando toda a dificuldade, o CEO do Viajala não recomenda esse tipo de prática. “A melhor maneira de conseguir melhores preços sem dor de cabeça ainda é planejar com antecedência. Sempre avalie os preços bem antes, compare companhias aéreas, troque aeroportos, etc”, afirma.
Ele ressalta que a companhia aérea é um negócio, de jeito ou outro vai buscar o melhor para ela. “Como uma das únicas maneiras de tentar prevenir o skipplagging é enrijecendo suas políticas internas, a empresa vai se atentar a isso e o passageiro corre risco de algo dar errado se ele optar pelo mais barato”, diz.
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