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SÃO PAULO – Programas de fidelidade que oferecem pontos ou milhas costumam parecer um ótimo negócio para os consumidores – mas, na hora de usar o benefício, não é raro haver alguma decepção. Ou as milhas são insuficientes para comprar a passagem aérea, ou a promoção é para um destino desinteressante em uma data pouco atrativa, ou alguma questão técnica dificulta fechar o negócio. Quem nunca?
“É o tipo de serviço que não é regido por um regulamento comum, o que costuma dificultar o entendimento e a comparação entre as diversas opções”, diz Renata Reis, coordenadora de atendimento do Procon SP.
No ano passado, o volume de pontos ou milhas emitidos caiu 23%, para 237 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (ABEMF). É um resultado que não surpreende, considerando que as viagens de avião – prejudicadas por conta da pandemia de coronavírus – estão entre as principais geradoras de milhas.
O volume de pontos e milhas resgatados – ou seja, convertidos em compras – caiu ainda mais, para 174 bilhões em 2020. O número foi 34% menor do que o do ano anterior.
Até que ponto vale a pena participar de um programa de fidelidade baseado em pontos ou milhas? O InfoMoney ouviu especialistas e listou cinco pontos de atenção que devem ser considerados para aproveitar melhor o benefício e evitar as ciladas:
É difícil saber quanto vale uma milha – e você precisa aprender a fazer essa conta
Uma das dificuldades mais comuns ao lidar com pontos e milhas é saber exatamente quanto eles custam – ou valem. O preço mais usual para adquirir novas milhas nos principais programas de fidelidade do país é de R$ 70 a cada 1.000 milhas ou 7 centavos por unidade.
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“Nunca compre milhas a esse preço”, alerta Gabriel Costa que, além de executivo na startup Singu e mentor de outras, é também entusiasta de programas de fidelidade e criador do curso online “Milhas Descomplicadas”. O preço real, segundo ele, pode chegar à faixa de 1,8 a 3,5 centavos por milha.
Os programas de fidelidade costumam fazer promoções, oferecendo bônus que permitem, por exemplo, comprar o dobro de milhas pelo mesmo preço. Assim, se mil milhas normalmente custariam R$ 70, nessas ocasiões o dinheiro é suficiente para comprar 2.000. Na prática, significa que em vez de 7 centavos, o consumidor gastaria 3,5 centavos por unidade.
Nas plataformas que permitem a venda de milhas – como MaxMilhas, 123 Milhas e Oktoplus – elas também são negociadas por um valor menor.
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Nesta quinta-feira (15), por exemplo, pacotes de 10 mil milhas do Smiles eram cotadas a R$ 194,40 no MaxMilhas, o que equivale a menos de 2 centavos por unidade. Pacotes de milhas do Latam Pass saíam por R$ 198,80, enquanto as do TudoAzul custavam R$ 229,30.
Os preços mudam diariamente, conforme a oferta e a demanda. Desde o início da pandemia, houve variações, tanto pela demanda menor por passagens aéreas quanto pelo aumento das ofertas realizadas pelos programas de fidelidade.
“No primeiro semestre de 2020, os preços ficaram baixos e se recuperaram especialmente entre setembro e novembro. Após a virada do ano, houve nova queda e agora estão estabilizados”, diz Rafael Palácio, gerente de negócios do MaxMilhas.
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A variação cambial pode mudar tudo
A maior parte dos programas de fidelidade dos cartões de crédito contabiliza pontos de acordo com o volume de consumo das pessoas. Mas em geral, a conta é em moeda estrangeira. O mais usual é que o consumidor ganhe um ponto a cada dólar gasto no cartão. “São raros os cartões em que o acúmulo é por real gasto”, diz Palácio.
Por isso, quando o dólar valoriza em relação ao real – como aconteceu recentemente -, fica mais difícil acumular pontos. Dois anos atrás, via de regra, um consumidor ganhava um ponto a cada R$ 3,90 gastos no cartão, pois esse era o patamar do dólar na época. Hoje, para conseguir o mesmo ponto é preciso gastar cerca de R$ 5,70.
“Faz parte do negócio porque muitos programas de milhagem são globais. Isso muda as contas para entender o valor de uma milha e impacta nas vantagens”, alerta Costa.
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Pode ser mais barato pagar com dinheiro do que com milhas
Alguns programas de fidelidade, além de oferecer passagens aéreas, também permitem comprar produtos em suas próprias lojas online usando as milhas. Fazer as contas de quanto elas valem é o primeiro passo para evitar roubadas.
Um exemplo: um smartphone era oferecido por 140.260 milhas nesta quinta-feira (15) na loja de um programa de fidelidade. Considerando a cotação do MaxMilhas no mesmo dia, esse volume de milhas poderia ser vendido por R$ 2.727 (vale lembrar que existem diversos sites em que é possível vender as as milhas).
Uma pesquisa na internet indica que o mesmo modelo de celular era encontrado em outros e-commerces por valores entre R$ 2.200 e R$ 2.500. Ou seja, vender as milhas daria e sobraria para comprar o smartphone.
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Com um detalhe: o valor pela venda das milhas não é creditado imediatamente. No MaxMilhas, por exemplo, o prazo até o recebimento é de 33 dias atualmente. Ter o dinheiro na conta apenas após mais de um mês é um ponto que também deve ser avaliado pelo consumidor antes de decidir fazer uma operação como a simulada acima.
O atrativo da compra de produtos com milhas é a sensação de não gastar dinheiro. Fazer as contas, porém, pode revelar outras oportunidades. “O passo a passo é verificar a cotação do dia, calcular quanto as milhas valem e comparar o preço em milhas com o preço em reais”, sugere Costa.
A mesma orientação vale para as situações em que o pagamento pode ser feito parte em milhas e parte em dinheiro, um arranjo disponível tanto na compra de passagens aéreas quanto de produtos nas lojas dos programas de fidelidade. Como a conta fica ainda mais complicada de fazer, o consumidor pode acabar fazendo um mau negócio.
“Pode valer a pena quando você tem poucas milhas, que não são suficientes para resgatar para um voo e você não tem perspectiva de acumular mais. Nesse caso, é melhor usá-las e ter um desconto do que perdê-las”, diz Costa.
As regras das promoções costumam ter “letras pequenas”
Sempre que os programas de fidelidade lançam alguma promoção de resgate ou de bonificação de pontos ou milhas, é preciso ficar atento ao detalhamento das regras.
Uma promoção clássica é a oferta de milhas em dobro para quem realiza a transferência de pontos do cartão de crédito para um determinado programa de milhagem – mas também não é raro que o bônus seja restrito a quem cumpre certas condições.
Elas podem valer apenas para certos emissores ou bandeiras específicas de cartão, por exemplo. Ou podem ser restritas a participantes do tipo “premium” do programa de fidelidade, ou ainda para quem integra clubes especiais de vantagens. “Normalmente, é divulgado o cenário mais vantajoso nas ofertas. Por isso, é preciso procurar e ler as regras com atenção”, diz Pálácio.
As “letras pequenas” das promoções devem sempre ser lidas, é verdade. Ao mesmo tempo, segundo Renata, do Procon SP, há certas responsabilidades que os programas de fidelidade devem assumir. “As características essenciais ou os direitos restritivos devem estar em destaque em uma promoção. Não basta informar, a informação precisa ser ostensiva de modo a ser compreendida”, diz.
Pontos e milhas vencem – e alguns mais rapidamente do que os outros
Os pontos ou milhas dos programas de fidelidade têm data de validade, e ela não é padronizada. Pontos “conquistados” – ou seja, obtidos pelo volume de compras realizado com o cartão de crédito ou pelas passagens aéreas adquiridas ao longo do tempo – costumam ter um prazo maior.
Já as milhas compradas em promoções dos programas de fidelidade normalmente duram menos tempo. “Enquanto os pontos conquistados têm validade de pelo menos 12 a 24 meses, aqueles obtidos como bônus as transferências costumam ter prazo de 6 meses”, diz Palácio.
Isso pode ser um problema diante de eventos inesperados. A pandemia de coronavírus, por exemplo, limitou tremendamente as viagens de avião – e é possível que muitos “milheiros” tenham perdido pontos ao longo do último ano.
Embora existam alguns cartões de crédito que oferecem pontos sem data de expiração, eles são a exceção.
Milhas ou cashback: o que é melhor?
Nos últimos anos, os programas de cashback – que devolvem uma parcela do dinheiro gasto em uma compra para o consumidor – ganharam muito espaço. E uma das razões é a maior facilidade de operá-los, quando comparados aos programas de fidelidade baseados em pontos ou milhas.
“As promoções dos programas de fidelidade podem ser bastante agressivas e render muitas milhas. Só que eles demandam muito esforço do consumidor, tanto de compreensão quanto para o uso”, diz Costa. “O cashback cresce pela simplicidade”.
Mas entre os dois, qual é a melhor opção? Novamente, é preciso comparar e fazer as contas. Enquanto os programas de fidelidade tradicionais acumulam pontos por dólar gasto ou milhas por tipo de passagem aérea adquirida, o cashback geralmente oferece um percentual do valor da compra de volta.
O tamanho do percentual varia bastante – de loja para loja, de cartão para cartão. Pode chegar a 1,8% no cartão do Méliuz, por exemplo, que é o maior e mais conhecido programa de cashback do país. Mas ele depende do valor total da fatura (quanto mais alto, maior a taxa de cashback).
No caso do cartão de crédito da XP, lançado em março, o conceito é de investback, já que o valor devolvido é automaticamente investido em um fundo de renda fixa sem a cobrança de taxa de administração. O percentual é de 1% sobre as compras , com um adicional de até 10% para compras feitas no marketplace da empresa.