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SÃO PAULO – O crédito para veículos é o que apresenta o crescimento mais preocupante no número de pagamentos em atraso ou problemas com inadimplência, segundo o superintendente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e economista Marcel Solimeo. Dados do Banco Central mostram que as dívidas com atraso de mais de 90 dias têm oscilado entre 5% e 6% do total nos últimos meses. Mas por que o problema está concentrado no crédito para veículos?
Marcel Solimeo explica que os bancos foram muito lenientes na concessão de empréstimos para a compra de automóveis em 2009 e 2010 – e os problemas começam a aparecer agora. Naquela época, era possível comprar um automóvel novo sem entrada e com parcelamento do pagamento em 60 meses.
O problema é que muitos brasileiros são pouco experientes com o crédito e tomaram dívidas acima da própria capacidade de pagamento. Na hora de financiar um veículo, é preciso calcular não apenas se a prestação mensal caberá no bolso, mas também incluir no orçamento todos os gastos que virão junto com o carro novo, como o IPVA, o seguro, o combustível e as despesas com manutenção.
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O banco também tem algumas dificuldades técnicas para identificar o consumidor que não terá condições de pagar o empréstimo e bloquear o crédito já no momento da concessão. Ainda não está regulamentado o chamado cadastro positivo, que permitiria às instituições financeiras enxergar o total de dívidas que uma pessoa precisa pagar. Como o banco só conhece a renda comprovada de um cliente, mas ignora suas despesas mensais, muitas vezes não consegue calibrar o limite de crédito que uma pessoa poderia ter de forma mais precisa.
Quando a inadimplência acontece, o banco tem direito de retomar o veículo financiado , que funciona como garantia de pagamento do empréstimo. O problema é que muitos veículos usados, quando vão a leilão por decisão do banco, não são suficientes nem para amortizar o restante da dívida. Nesse caso, o consumidor deve estar ciente que será sua obrigação arcar com o saldo devedor. Quem comprou o carro, portanto, pode perdê-lo, ficar sem tudo que já pagou pelo financiamento e ainda ter o nome incluído em algum cadastro de inadimplentes como o SCPC e a Serasa pelo não-pagamento da parcela da dívida que não tiver sido quitada nem após o carro ter sido leiloado.
Logo, não adianta o consumidor fazer as contas e perceber que, após três anos de pagamento da dívida, por exemplo, o saldo devedor é maior do que o valor do veículo e parar de pagar o financiamento. Isso tem sido bastante comum nos empréstimos concedidos sem entrada e com prazo de pagamento longo.
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A pessoa percebe que não vale a pena se sacrificar para honrar a dívida porque a depreciação do veículo foi grande no período de uso. Apenas no primeiro ano após a compra, alguns carros chegam a se desvalorizar mais de 20%. “Foi a percepção do consumidor de que a dívida era maior que o valor do bem que levou à crise do subprime nos Estados Unidos. É exatamente isso que está ocorrendo agora no crédito para veículos no Brasil. Muita gente para de pagar as prestações porque faz as contas e acha que não vale a pena”, diz Solimeo.
Renegociação
Como o consumidor não se livra da dívida nem após ter o carro retomado, Solimeo recomenda a quem está em dificuldades para arcar com a prestação que procure o banco para tentar renegociar o débito antes de ficar inadimplente. O banco tem um custo fiscal e operacional sempre que uma dívida atrasa mais de 90 dias para ser paga. É por isso que também é interessante para a instituição financeira entender a situação do cliente e buscar uma solução favorável para as duas partes antes que haja a inadimplência.
Se o cliente não conseguir ao menos obter a redução dos juros de um empréstimo proporcional à queda das taxas observada nos últimos meses, pode ser interessante procurar outros bancos para tentar fazer a portabilidade do crédito. Nesse caso, um segundo banco vai conceder um novo empréstimo ao cliente para que ele possa quitar a primeira dívida tomada para a compra do veículo – migrando, dessa forma, o débito para outra instituição financeira.
Uma difíciulade que pode aparecer é quando o carro está alienado ao banco. Nesse caso, a portabilidade da dívida exigirá também a transferência da propriedade do veículo para a segunda instituição financeira. Esse tipo de operação embute custos com despachante e com o registro da mudança de propriedade do veículo no Detran, o que também torna a operação menos vantajosa ao consumidor.