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No país há 12 anos, a Black Friday tornou novembro um dos meses mais aguardados pelos consumidores brasileiros. Em um levantamento recente feito pela fintech Trigg, com 1.713 entrevistados, 90% afirmaram que pretendem aproveitar o período de promoções deste ano especialmente para comprar eletrônicos (42,4%) e eletrodomésticos (30,5%). Entre estes, nada menos que 96,7% disseram que planejam pagar suas compras com cartão de crédito.
A notícia, obviamente boa para o varejo e para as operadoras de cartão de crédito, também tem seu lado preocupante no Brasil, onde o nível de endividamento da população é muito alto.
Em outubro, o percentual de consumidores brasileiros endividados (isto é, com dívidas a vencer) chegou a 79,3%, e o de inadimplentes (com alguma parcela da dívida já atrasada), a 30,3%, de acordo com a última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
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O cartão de crédito era e continuou sendo em outubro a principal modalidade de endividamento, respondendo por 86,2% das pessoas endividadas no país, ainda segundo a Peic.
Para quem caiu nessa estatística, os anúncios da Black Friday podem causar ansiedade: ‘Posso aproveitar essas ofertas imperdíveis, se já perdi o vencimento de uma fatura? Como sei se minhas dívidas no cartão estão passando do ponto? O que faço para sair delas?’
No “perguntas e respostas” a seguir, especialistas consultados pelo InfoMoney respondem a essa e outras dúvidas, para você se livrar do rotativo e poder aproveitar a Black Friday sem estresse no bolso. Confira:
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1- A fatura do cartão de crédito veio mais alta do que eu esperava. Deixo para pagar mais tarde?
Não. O maior erro do consumidor neste caso é não pagar a fatura e cair no rotativo, isto é, deixar a dívida rolar sob os juros do cartão de crédito. Rotativo é o nome dado à linha de crédito pré-aprovada no cartão, que inclui também eventuais saques feitos em sua função crédito.
Trata-se de uma das modalidades de crédito mais caras que existem e, no Brasil, uma das mais caras do mundo. Segundo as Estatísticas Monetárias e de Crédito do Banco Central (BC), a taxa de juros média aplicada ao crédito rotativo no país está hoje próxima dos 400% ao ano.
Isso significa que, em média, uma fatura não paga no valor de, digamos, R$ 1.000, ao fim de 12 meses pode virar uma dívida de R$ 5.000 junto ao banco, à financiadora ou ao estabelecimento varejista (como supermercado e loja de departamento) que emitiu o cartão.
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A prioridade, portanto, deve ser pagar o cartão de crédito em dia. Nessas circunstâncias, adquirir mais produtos e serviços, ainda que com os descontos da Black Friday, não é vantajoso. “Quem está com uma dívida em aberto, tem que fazer um sacrifício neste momento, até para poder consumir de uma forma mais inteligente depois”, sublinha a economista Isabella Brandão, sócia e diretora de alocação da consultoria Oikos.
2 – E se a fatura do cartão está prestes a vencer e eu ainda não consegui o crédito para pagar, o que eu faço?
A recomendação, neste caso, é pagar a fatura no crédito parcelado para não deixar a dívida cair no rotativo. Por determinação do BC, as instituições financeiras devem oferecer ao cliente a possibilidade de parcelar a dívida do cartão de crédito a uma taxa de juros pré-fixada, que no geral é bem mais baixa do que a taxa do rotativo.
Via de regra, as instituições financeiras indicam na própria fatura do cartão o número e o valor das parcelas do crédito a ser parcelado. “Nessa modalidade, os juros geralmente caem à metade dos do rotativo”, afirma Carlos Castro, sócio-fundador da consultoria SuperRico.
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Para isso, basta pagar o valor da primeira parcela proposta na fatura ou contatar a instituição financeira antes do vencimento para pedir o parcelamento. Tenha em vista que o parcelado é diferente do pagamento mínimo, que também aparece discriminado na fatura do cartão.
O pagamento mínimo serve apenas para você manter seu cartão de crédito ativo até a próxima fatura, mas a diferença entre ele e o saldo devedor vai direto para o rotativo. “Quando você despreza o mínimo e já paga o valor corresponde à primeira parcela que está indicada na fatura como parcelado, aí, sim, você parcelou aquela dívida”, alerta Castro.
3 – Como saber se minhas dívidas no cartão de crédito estão passando do ponto?
Boa parte dos especialistas aconselha a regra 50/30/20 para você avaliar como andam as suas finanças pessoais. Segundo essa regra, o recomendável seria empregar no máximo 50% da sua renda em gastos essenciais (como aluguel, comida, contas básicas), 30% em gastos variáveis (cartão de crédito, lazer, vestuário etc.) e 20% na chamada reserva de emergência.
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“Prefiro colocar a ‘reserva de emergência’ como ‘reserva financeira’, porque ela serve para a pessoa poder não só lidar com os imprevistos mas também aproveitar as oportunidades, como as da Black Friday”, explica Castro. “O ideal para todo o mundo seria conseguir fazer uma reserva equivalente a pelo menos 6 meses de rendimentos, até para às vezes poder se dar ao luxo de comprar itens da lista do ‘Eu quero’, e não só da do ‘Eu preciso’”, acrescenta.
Caso você ainda não tenha esse ‘colchão’, e a soma das suas dívidas com o cartão e outros meios esteja alcançando já metade da sua renda, ligue o alerta: Você pode já estar superendividado.
“Hoje nós enxergamos como superendividada a pessoa que começa o mês com 50% ou mais da sua renda mensal já comprometida com dívidas. Isso é grave, porque pode afetar a capacidade dessa pessoa de arcar com gastos básicos para si ou para sua família, como o aluguel, a escola dos filhos etc.”, afirma Brandão.
Neste caso, os especialistas aconselham o consumidor a refinanciar o quanto antes suas dívidas através da Lei do Superendividamento, de nº 14.871/2021. O texto define como superendividado o consumidor que, de boa-fé, assume sua impossibilidade de arcar com todas as dívidas que contraiu, porque isso afeta suas condições de sobrevivência.
A lei permite ao consumidor superendividado renegociar suas dívidas em bloco, isto é, reunir todos os credores para fazer uma oferta de pagamento de uma vez só. Órgãos de defesa do consumidor, como os Procons, podem orientá-lo a como acionar os credores para essa renegociação.
Se você ainda não chegou a esse ponto, mas tem contas em atraso no cartão, vale procurar os feirões ou mutirões do tipo “Limpa Nome”, que são realizados periodicamente por entidades como a Serasa e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Esta última, por exemplo, em parceria com o BC, a Secretaria Nacional do Consumidor e diversos Procons, está ajudando consumidores do Brasil inteiro a renegociar suas dívidas com bancos e financeiras através do Mutirão da Negociação de Dívidas e Orientação Financeira, que começou no dia 1º e vai até o fim deste mês.
4 – Atrasei a fatura do cartão de crédito, mas também achei uma oferta excepcional na Black Friday. Tem jeito de fazer essa compra?
Para a planejadora financeira Isabella Brandão, antes de se fazer essa pergunta, você tem que entender se realmente precisa do item ofertado: “‘Eu preciso disso?’ Se sim, a pergunta seguinte deve ser ‘Eu tenho recurso para fazer essa compra?’”.
Pessoas que estão com uma ou mais faturas do cartão de crédito em atraso têm um compromisso financeiro importante, e devem priorizar a quitação ou refinanciamento dessa dívida antes de fazer qualquer outra compra, por melhores que estejam as condições.
Depois de refinanciar a dívida em parcelas que cabem no seu bolso, é preciso fazer uma relação de todas as receitas e despesas nos próximos meses, até a quitação. Aí é que você vai descobrir se existe uma sobra para acomodar a compra da Black Friday ou se por enquanto, de fato, vai ter mesmo que apertar o cinto.
“Qualquer desconto que a Black Friday ofereça não vai compensar se depois você cair no rotativo do cartão. É uma falsa oportunidade”, diz Castro. Ele ressalta a importância de organizar as dívidas e as finanças como um todo agora, justamente para ter mais liberdade no futuro.
“Anotar os gastos, as receitas, olhar para as dívidas, pode ser mesmo uma tarefa chata, mas ela é mais libertadora do que restritiva. Porque ao controlar as finanças, no fim, você tem mais poder de escolha, inclusive para aproveitar as oportunidades quando elas aparecem”, completa.
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