Negócio de Rupert Murdoch pode perder domínio da TV paga britânica para nova poderosa

A BT já havia invadido o terreno da Sky abocanhando alguns dos direitos de transmissão dos jogos de futebol de campeonatos ingleses e europeus que antes eram domínio exclusivo da empresa de Murdoch.

Bloomberg

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SÃO PAULO – A Sky, de Rupert Murdoch, dominou a TV paga britânica durante quase 25 anos, mas o surgimento da BT Group como uma ambiciosa nova concorrente ameaça acabar com seu domínio.

A BT, antigo monopólio de telefonia do Reino Unido, já havia invadido o terreno da Sky abocanhando alguns dos direitos de transmissão dos jogos de futebol de campeonatos ingleses e europeus que antes eram domínio exclusivo da empresa de Murdoch.

Agora a empresa iniciou negociações exclusivas para adquirir a EE, maior operadora de telefonia celular da Grã-Bretanha, um acordo que, de uma vez só, daria à companhia a potência e o número de assinantes para competir ainda mais ferozmente por conteúdos valiosos, o que levou banqueiros e analistas a perguntarem como a Sky planeja responder.

“A batalha por conteúdos colocará a pressão do custo de longo prazo sobre a Sky, ao mesmo tempo em que a BT e outras competirão nos preços pelos assinantes”, disse Nick Jones, sócio da Cavendish Corporate Finance em Londres. “As margens da Sky ficarão sob uma pressão estrutural cada vez maior”.

A proposta de 12,5 bilhões de libras (US$ 19,6 bilhões) da BT pela EE, que permitiria a ela fornecer um pacote único de banda larga, telefonia móvel e serviços de televisão aos clientes, chega em um momento crítico para a indústria britânica da TV paga, com o início, na semana passada, do processo de ofertas pelo próximo conjunto de direitos para a Premier League, o campeonato inglês de futebol.

Fazem parte do conjunto cerca de 168 partidas por temporada em um leilão que deverá levantar muito mais que os recordes 3 bilhões de libras pagos da última vez pela Sky e pela BT. Considerando que Murdoch construiu a Sky com base na propriedade dos direitos do futebol da empresa, o setor está preparado para uma intensa batalha de ofertas com a BT.

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Analistas do Bank of America Merrill Lynch estimaram nesta semana que a Sky poderia perder 15% dos assinantes que efetuam os pagamentos mais altos se não conseguisse conquistar a maior fatia do pacote da Premier League.

A Sky precisa pagar o preço que for possível para manter os direitos, disse Ian Whittaker, analista de mídia da Liberum Capital em Londres. “Eles precisam vencer esse quebra-cabeças”, disse ele. “Não se trata apenas de manter os assinantes da Sky, mas também clientes de atacado, como os pubs, além das publicidades”.

O movimento da BT sobre a EE – propriedade conjunta da Deutsche Telekom e da Orange – também levou a previsões de uma sacudida mais ampla no setor de telecomunicações britânico, com a Vodafone Group analisando uma possível fusão com a Liberty Global, de John Malone, proprietária da maior rede de televisão a cabo da Europa.

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Negócios da Sky?

Existe uma especulação sobre se a Sky poderia perseguir ela própria um negócio com uma operadora de telefonia celular do Reino Unido para igualar a capacidade da BT de oferecer os chamados “quad-play” – jargão do setor para os pacotes de serviços de banda larga, televisão e telefonia celular e residencial.

“A Telefónica deixou claro que a O2 está disponível e isso representa uma oportunidade real para a Sky de assumir uma posição de liderança no setor de telefonia celular no Reino Unido para equilibrar qualquer movimento da BT”, disse Ewan Parry, sócio da OC&C Strategy Consultants em Londres. Um acordo da Sky com a “Vodafone é menos óbvio, considerando sua ampla presença internacional”, acrescentou ele. A Sky preferiu não comentar.

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A Sky já se movimentou para reduzir sua dependência em relação ao Reino Unido pagando mais de US$ 10 bilhões para as provedoras de TV paga alemã e italiana de Murdoch, criando uma empresa maior, com 20 milhões de clientes em cinco países.

“Os novos operadores estão representando uma ameaça ao statu quo e a Sky está ficando sem espaço para manobra” no Reino Unido, disse Alex DeGroote, analista de mídia da Peel Hunt em Londres. “Essa é uma das razões pelas quais eles fizeram esse acordo pan-europeu com a Sky Deutschland e com a Sky Italia – isso dá a eles dois mercados bastante grandes e inexplorados em termos de potencial”.