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(SÃO PAULO) – -E difícil vender álcool na Indonésia, país que tem mais muçulmanos do que qualquer outro. E está prestes a ficar muito mais difícil.
Uma lei, apoiada por grupos islâmicos e que está programada para entrar em vigor no mês que vem, proibirá a venda de cerveja em lojas de conveniência e em outros pequenos comércios no quarto país mais populoso do mundo.
A proibição se soma a uma lista crescente de medidas do governo do presidente Joko Widodo contrárias às mensagens pró-negócios que ele apresentou ao fazer campanha para o cargo, no ano passado. Está em jogo a venda de cerveja na maior economia do Sudeste Asiático, cujo consumo doméstico responde por mais da metade do produto interno bruto e onde o governo está tentando impulsionar o crescimento, o investimento estrangeiro e o turismo.
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“Perder esse canal implicará um grande declínio nas vendas das principais fabricantes de cerveja”, disse Yulia Fransisca, analista sênior da Euromonitor International. “O governo continuará sendo pressionado por grupos islâmicos do país para criar mais restrições às bebidas alcoólicas”.
As vendas de cerveja subiram 11 por cento no ano passado, segundo uma pesquisa da Euromonitor. Entre os produtores de cerveja do país estão a PT Multi Bintang Indonesia e a Diageo Plc, que fabrica e distribui a Guinness por meio de um acordo de terceirização com a Multi Bintang.
“Nossa preocupação com as políticas anunciadas atualmente decorrem do fato de que elas impactarão alguns dos menores estabelecimentos de varejo e o turismo”, disse o CEO da Diageo, Ivan Menezes, em entrevista em Cingapura na quinta-feira. “Existe também o risco de que o álcool ilícito cresça novamente e isso não interessa a ninguém”.
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Lojas de conveniência
A nova regra, uma revisão de uma lei anterior que tornou mais rígida a restrição à venda de álcool, estabelece que a cerveja pode ser vendida apenas em supermercados e hipermercados, onde vinhos e destilados atualmente também estão disponíveis. Quem violar a lei corre o risco de ter sua licença comercial revogada. As vendas de álcool em restaurantes e bares não serão afetadas.
Neneng Sri Mulyati, porta-voz das lojas de conveniência 7-Eleven, uma franquia administrada localmente pela PT Modern Internasional, disse que cumprirá a lei em suas 190 lojas na capital e nos arredores quando ela entrar em vigor, em meados de abril. A Multi Bintang preferiu não comentar.
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A lei foi promulgada sem uma consulta aos produtores e ao comércio varejista, segundo Charles Poluan, diretor-executivo da associação de produtores de bebidas de malte da Indonésia.
‘Muito assustador’
“As lojas tradicionais são a espinha dorsal dos canais de distribuição de cerveja em uma vasta área da Indonésia”, disse Poluan, que diz que não conseguiu se reunir com o ministro do Comércio, Rachmat Gobel, para discutir a proibição. “Nós ainda não podemos determinar quanto isso nos afetará economicamente. O quadro é muito assustador”.
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“Não queremos investimentos que prejudiquem nossos jovens”, disse Gobel a ativistas muçulmanos em seu escritório, alguns dias depois de assinar a lei, com alguns deles pedindo que ele proibisse a produção de cerveja no país. “Eu não me importo se os investidores me transformarão em inimigo. Eu apenas dou risada. O turismo não é um problema. Nós queremos proteger os cidadãos indonésios ou os turistas?”.
A postura contrasta com os esforços do presidente, conhecido como Jokowi, para promover o turismo, que incluem planos para obter mais de US$ 1 bilhão em receita renunciando aos vistos de visitantes de 45 países, incluindo EUA, China e Japão. Bali, uma ilha de maioria hindu com uma cena próspera de praia e festas, é o principal destino turístico do país.
A ilha está protestando contra a proibição, segundo o chefe do escritório de turismo de Bali, A.A. Gede Yuniartha Putra.
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“Os estrangeiros gostam de tomar um drinque quando estão aqui”, disse ele. “Isso vai afetar o turismo seriamente. Nós queremos ser dispensados disso, do contrário não obedeceremos a essa regra”.