Herança inesperada de patriarca da Samsung está na mira da ‘caçadora de chaebol’

A briga relativa aos lucros da Samsung SDS Co., que pertence à família, ilustra o crescente ressentimento público em relação aos grupos industriais, como a Samsung

Bloomberg

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Quando era estudante, Park Young-sun sempre gostava de enfrentar os meninos grandes.

“Ela era a líder não oficial de todas as garotas e confrontava os meninos que intimidavam-nas ou pregavam peças nelas”, disse Bruce Lee, gestor de recursos que conheceu a legisladora da oposição com três mandatos há quase cinco décadas, quando tinham sete anos de idade e frequentavam o colégio em Seul.

Park desviou a atenção dos valentões do pátio escolar aos titãs dos negócios, e seu alvo mais recente é um dos mais poderosos possíveis: a família por trás do maior conglomerado, ou chaebol, do país, a Samsung Group. Ela afirma que eles precisam devolver os lucros obtidos por um acordo de 1999 que posteriormente foi julgado ilegal — um dinheiro que, segundo ela, a família poderia usar para financiar a transferência de ativos aos filhos do patriarca da Samsung, Lee Kun-hee –. Ele continua hospitalizado após ter sofrido um ataque cardíaco.

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“O trabalhador assalariado médio da Coreia do Sul precisa pagar honestamente os impostos, mesmo quando recebem uma herança pequena, ao passo que membros dos chaebol, como a família Lee, podem gerar enormes lucros a partir de transações ilegais para pagar seus impostos”, disse Park, em uma entrevista no mês passado, em seu gabinete em Seul, repetindo declarações que ela já tinha feito sobre a transação.

A Samsung Group não quis comentar sobre a transação da SDS.

A briga relativa aos lucros da Samsung SDS Co., que pertence à família, ilustra o crescente ressentimento público em relação aos grupos industriais, como a Samsung, que conduziram a rápida ascensão econômica da Coreia do Sul, o chamado milagre do rio Han. Esse mal-estar esteve no cerne da eleição presidencial de 2012, quando os eleitores que buscavam restringir o domínio dos chaebol conquistaram concessões até do partido da presidente Park Geun-hye, que tradicionalmente defende o mercado.

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Transferência de fortuna
O Supremo Tribunal de Seul deu ao presidente do conselho da Samsung, Lee, uma pena suspensa de três anos em 2009 e uma multa de 110 bilhões de won (US$ 99 milhões) por sonegação de impostos e violação do dever porque ele e sua família se beneficiaram com uma transferência ilegal de fortuna na transação da SDS. Lee também fez pagamentos voluntários, inclusive para a instituição de caridade da própria Samsung.

Quando abriu seu capital no ano passado, a SDS divulgou pela primeira vez o valor de mercado da participação da família. A listagem auferiu aos filhos de Lee, inclusive seu suposto herdeiro Lee Jae-yong, cerca de 2,4 trilhões de yuan, mais de três vezes o valor da multa de Lee e os pagamentos voluntários juntos, de acordo com o gabinete de Park.

Reguladores dos chaebol, como o Centro de Boa Governança Corporativa, dizem que os filhos provavelmente vão enfrentar uma conta fiscal de aproximadamente US$ 6 bilhões pelos ativos do pai.

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Esse dinheiro deveria ser confiscado porque os ativos da SDS de Lee filho derivam diretamente da transação de 1999, disse Park. Ele apresentou um projeto de lei ao parlamento em fevereiro para que seja ilegal que terceiros, mesmo sem conhecimento de um crime, não possam lucrar com ativos obtidos ilegalmente. Se a lei passar, ela se aplicará à família Lee, disse ela.

Os veículos de comunicação locais apelidaram-na de “caçadora de chaebol” depois que o parlamento aprovou um projeto proposto por ela para fortalecer uma lei de 1997 que impede que afiliados de grupos industriais tenham participações de mais de 5 por cento em empresas financeiras. Concebida para que os proprietários dos chaebol não usem os bancos como um caixa eletrônico particular, a emenda de Park de 2006 fez com que a regra se aplicasse retroativamente e obrigou os chaebol a se desfazerem de propriedades existentes e impediu a aquisição de novas posses.

Ações mais baratas
Os acionistas, incluindo o amigo de infância de Park, Lee, que dirige o fundo ativista local Zebra Investment Management, criticam abertamente o chaebol por sua governança corporativa fraca que, segundo eles, está deprimindo o preço das ações do país. É um fenômeno chamado “desconto coreano”, em que as empresas domésticas operam a múltiplos inferiores que os de seus pares internacionais devido ao risco associado à percepção de falta de transparência.

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O governo atual cumpriu a promessa eleitoral da presidente Park e apresentou restrições aos chaebol, como proibir novas participações cruzadas entre os afiliados do grupo e oferecer incentivos de reestruturação com empresas controladoras que ofereçam um panorama de propriedade mais claro.

Essas medidas ainda deixam espaço para leis sobre comportamentos específicos, como a transação da SDS, disse Park.

“Se deixarmos passar algo como a transação da SDS, isso agravará a desigualdade financeira, as questões sociais e acabará impedindo o desenvolvimento econômico da Coreia do Sul”, disse ela. “Não estou atrás dos chaebol para acabar com eles. Na verdade, estou tentando torná-los melhores e mais fortes”.

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