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Os cortes de impostos federais e estaduais e as variações do petróleo no mercado internacional provocaram uma forte queda nos preços da gasolina e do diesel no Brasil — ao ponto de hoje esses combustíveis serem vendidos mais baratos aqui do que no mercado internacional.
Mas o mesmo efeito não aconteceu com o gás de cozinha (GLP). Mesmo com as recentes reduções anunciadas pela Petrobras (PETR3;PETR4), o produto custa hoje 25% a mais no Brasil do que no mercado internacional.
O preço de um botijão de 13 kg custa cerca de R$ 39 lá fora, enquanto a Petrobras cobra R$ 49,19 no Porto de Santos. Para o consumidor final, o preço é ainda maior: a média nacional está em R$ 112,13, incluindo impostos e as margens de revenda, segundo o levantamento semanal da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
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A situação afeta diretamente o bolso das camadas mais pobres da população, que são mais dependentes do produto, e persiste pelo menos desde abril. Os dados se baseiam nos preços internacionais, que são usados como referência para calcular a defasagem diária no custo da gasolina, do diesel e do GLP.
O preço alto do gás de cozinha afeta a vida de milhões de brasileiros como Maria do Socorro Maia, que mora com o marido e 4 filhos na Vila Planalto, em Brasília. Ela vive a 2 km do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, e tem racionado o uso do fogão para economizar.
“Aqui em casa a gente passou a fazer comida uma vez por dia, já faz o almoço e a janta de uma vez, para não ter que ficar cozinhando toda hora”, diz. “O botijão está R$ 120. A gente tem de comprar praticamente um botijão por mês, está difícil demais”.
Defasagem do diesel e da gasolina
A Petrobras estabelece seus preços para os combustíveis com base na paridade internacional e considera essas variações externas ao definir o preço cobrado no Brasil. A defasagem da gasolina está em 10% e a do diesel, em 13%, segundo dados da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom).
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No caso da gasolina e do diesel, como o preço aqui está mais baixo que lá fora, o governo federal passou a pressionar a Petrobras nos últimos dias para que não anuncie nenhum reajuste neste momento, para não prejudicar o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, no segundo turno.
Uso político da redução
Os anúncios de redução no preço do GLP pela Petrobras têm sido explorados por Bolsonaro na campanha à reeleição. A estatal cortou por 3 vezes o preço nos últimos 6 meses: o custo médio do botijão vendido às distribuidoras caiu de R$ 58,21 para R$ 54,94 em 9 de abril; para R$ 52,34 em 13 de setembro; e para R$ 49,19 em 23 de setembro.
O presidente tem afirmado que o governo federal fez a sua parte ao zerar os impostos que cobrava sobre o gás de cozinha e que a alta dos preços se deve a impostos cobrados por estados e municípios, entre a chegada do insumo nas distribuidoras e a casa da população.
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O que diz a Petrobras
Questionada sobre os preços cobrados no gás de cozinha, a Petrobras afirmou em nota que “as cotações publicadas pela Nymex (Bolsa de Nova York) são uma referência de valor para o produto negociado no mercado americano” e que “o valor no mercado brasileiro é resultado do equilíbrio global de oferta e demanda, sendo influenciado, portanto, por outras frentes de suprimento”.
Embora os dados mostrem que o preço do gás no Brasil está acima da média internacional desde abril (ou seja, há pelo menos 6 meses), a empresa disse ainda não que toma medidas para não repassar “volatilidade” no mercado nacional. “A Petrobras reafirma seu compromisso com a prática de preços em equilíbrio com o mercado, sem repassar a volatilidade conjuntural das cotações e da taxa de câmbio”.
“É o pior dos mundos. A Petrobras cobra mais caro da população mais carente, que depende do acesso ao gás de cozinha, ao mesmo tempo em que alivia a vida das pessoas de renda mais alta, que consomem mais gasolina”, afirma o senador Jean Paul Prates (PT-RN). “Isso tudo sem qualquer transparência, já que o discurso da empresa segue sendo a de que o PPI [Preço de Paridade de Importação) é essencial. Tanto não é que, na prática, não existe mais — e no caso do gás nunca existiu”.
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