Fila para comprar carro 0 km demora até 7 meses no Brasil; veja modelos mais afetados

Espera é maior para as versões mais procuradas da picape Fiat Strada, que é a líder de vendas no país e custa a partir de R$ 96,3 mil

Equipe InfoMoney

(Divulgação/Fiat) Fiat Strada 2020
(Divulgação/Fiat) Fiat Strada 2020

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A escassez de componentes, em especial de semicondutores, já não é tão problemática como no início do ano, mas segue causando descompasso entre produção e demanda na indústria automobilística brasileira. Assim, mesmo em um mercado afetado por inflação, juros elevados e restrição dos bancos nos financiamentos, há filas de espera de até 9 meses para alguns modelos de carros.

Essa espera por carros 0 km chegava a 6 meses em novembro de 2021, e alguns consumidores desistiam diante da demora. A situação continua ruim neste ano, mesmo com o forte aumento de preços nos últimos 2 anos.

O preço médio dos automóveis subiu 17 pontos porcentuais acima da inflação em 2021 e mais 4 pontos neste ano, segundo o consultor Cássio Pagliarini, da Bright Consulting. Mas o presidente da Anfavea (associação de montadoras), Márcio de Lima Leite, diz que nem os juros altos têm impactado o mercado, por causa da demanda reprimida.

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A escassez afeta vários tipos de automóveis e comerciais leves, mas principalmente as versões “de entrada” (as mais baratas), segundo lojistas. Como não há chips para produzir todos os modelos, montadoras têm priorizado os mais sofisticados, que dão maior retorno.

Apenas 2 fábricas suspenderam a produção por falta de peças em setembro, mas Leite diz que esse ainda é o maior limitador para a produção de veículos no Brasil. Ele diz também que há fila de 6 meses para alguns modelos mais vendidos, “mas há casos de espera de até 9 meses”. “Tem demanda reprimida”.

O presidente da Anfavea afirma que um automóvel usa de 1,5 mil a 2 mil semicondutores hoje, volume que aumentou com a oferta de mais conectividade e novas tecnologias nos veículos.

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Hora extra na Volkswagen

Com a disponibilidade de alguns componentes, a Volkswagen tem convocado parte dos funcionários para trabalho extra aos sábados ou domingos desde meados de setembro, para completar carros que aguardam peças no pátio da fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Um dos modelos fabricados nessa planta, o Polo, teve sua versão 2023 colocada à venda no dia 6, e 7 mil unidades foram comercializadas em apenas duas horas. Antes do lançamento, o VW tinha vendido apenas 2,4 mil unidades do Polo entre janeiro e setembro.

O novo Polo custa entre R$ 83 mil e R$ 110 mil, e a Volkswagen diz que a entrega será escalonada para os próximos 30 a 60 dias. Outros veículos da marca têm espera de até 2 meses, dependendo da versão.

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Espera de até 6 meses na Fiat

Na Stellantis (grupo que reúne as marcas Fiat, Peugeot, Citroën e Jeep), há fila de espera de 6 meses para as versões mais procuradas da picape Fiat Strada, que é a líder de vendas no Brasil.

O grupo trabalha com o mesmo prazo de entrega para versões do utilitário-esportivo (SUV) Fiat Pulse e para o Jeep Commander, cuja linha 2023 foi lançada em setembro. Os preços da Strada começam em R$ 96,3 mil, contra R$ 95,6 mil do Pulse e R$ 237 mil do Commander.

GM produz SUV na Argentina

Para dar conta da demanda brasileira e das exportações (e tentar evitar uma demora nas entregas), a General Motors passou a fabricar o SUV Tracker também em sua fábrica na Argentina, complementando a produção em São Caetano do Sul.

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O modelo custa a partir de R$ 118,5 mil, e as primeiras unidades do Tracker argentino começaram a chegar ao Brasil neste mês. A GM não diz se há fila de espera para carros da marca, mas afirma que a cadeia global de suprimentos ainda tem demonstrado imprevisibilidade no fornecimento de componentes, com impactos pontuais na indústria automotiva mundial.

Segundo a GM, “isto tem provocado desabastecimento temporário de alguns modelos ou configurações específicas no mercado”. A empresa diz ainda estar trabalhando ativamente com seus fornecedores para mitigar potenciais paralisações na produção e para buscar alternativas para otimizar o prazo de entrega dos produtos aos clientes.

Honda para produção (de novo)

Revendedores dizem que a Honda, que parou de novo a linha de produção da fábrica em Itirapina (SP) por falta de semicondutores, está com dificuldades para atender à demanda do novo HR-V. Lançado em julho, o modelo custa a partir de R$ 142,5 mil e tem fila de mais de 3 meses. As interrupções foram de uma semana em setembro e entre os dias 3 e 14 em outubro.

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Na Toyota, a maior espera é de 7 meses, para o SW4 nas versões Diamond (R$ 424,3 mil) e GR-S (R$ 433,6 mil) na cor branco pérola, enquanto a picape Hilux na mesma cor tem fila de 2 meses. Os dois veículos são produzidos na Argentina, e para as demais cores há pronta entrega ou espera de apenas 15 dias (mesmo prazo dos sedãs Yaris e Corolla e do SUV Corolla Cross, feitos no Brasil).

No caso da Hyundai, há espera de 2 a 3 meses para modelos top de linha, como o sedã HB20 Platinum Plus (R$ 125,3 mil) e o SUV Creta N Line (R$ 159,5 mil), mas ambos os modelos têm menor volume de produção. Já Nissan, Caoa Chery, BMW e Land Rover dizem que estão com as entregas em dia ou com atrasos pontuais.

Estoques suficientes

O consultor Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, diz que o setor automotivo iniciou outubro com 176,3 mil veículos em estoque nas fábricas e nas revendas, número que ele considera suficiente para atender a grande parte da demanda.

“Pode estar faltando algumas versões específicas, mas acredito que a indústria não está mais limitada pela oferta, mas pela demanda, em razão de preços e juros altos”, diz Pagliarini. “Mas ainda assim as vendas no varejo estão bem”.

Foram vendidos 1,5 milhão de veículos entre janeiro e setembro, dos quais 105 mil são caminhões e ônibus (os demais são automóveis e comerciais leves). A Anfavea projeta 2,14 milhões em vendas neste ano, e para atingir a meta será necessário comercializar 637 mil veículos entre outubro e dezembro, entre vendas diretas (para locadoras, frotistas etc.) e no varejo.

Se o número for alcançado, ele será apenas 1% maior do que o volume de 2021 e 23% inferior ao de 2019, último ano antes da pandemia (quando foram vendidos 2,78 milhões de veículos).

(Com Estadão Conteúdo)

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