Publicidade
Quase 70 anos depois que Enzo Ferrari apresentou seu primeiro carro esportivo, a Ferrari está prestes a voltar a ser controlada por uma família, quando a Fiat Chrysler Automobiles NV separar a empresa neste ano.
Acionistas públicos serão donos da maioria das ações, mas John Elkann e outros descendentes do fundador da Fiat, Giovanni Agnelli, e o filho do fundador da Ferrari provavelmente controlarão 51 por cento dos votos em uma Ferrari independente, segundo cálculos da Bloomberg News.
Isso acontece porque é provável que a empresa imite o exemplo da Fiat Chrysler e crie um chamado plano de ações de fidelidade, que daria à família votos adicionais se concordar em conservar as ações durante um tempo determinado. A Ferrari será uma das poucas fabricantes independentes de veículos de ultraluxo e a configuração dos acionistas permitirá aos Agnelli rejeitar potenciais ofertantes.
Continua depois da publicidade
“Com um plano de fidelidade, a família Agnelli quer garantir que a Ferrari não se transforme em um alvo para aquisição”, disse Giuseppe Berta, especialista na Fiat da Universidade Bocconi.
Em uma entrevista no dia 10 de fevereiro, Marchionne disse que a Ferrari, com sede em Maranello, Itália, poderia adotar um plano de fidelidade para a votação. A Fiat Chrysler, dona de 90 por cento da Ferrari, planeja realizar uma abertura de capital de 10 por cento da unidade no terceiro trimestre e a participação restante será distribuída entre os acionistas da Fiat Chrysler por volta do fim do ano. Piero Ferrari possui o restante da companhia e pretende manter sua participação depois da separação da Fiat.
Pensamento no longo prazo
Continua depois da publicidade
Com um plano de fidelidade, a Exor SpA, companhia controladora da família Agnelli, poderia terminar com 36 por cento dos votos e Piero Ferrari poderia obter 15 por cento se nenhum outro acionista participar. Um porta-voz da Exor não quis fazer comentários sobre o cálculo.
Os defensores dos planos de votação com ações de fidelidade dizem que as disposições encorajam o pensamento corporativo no longo prazo. Alguns investidores e acadêmicos os condenam como uma forma de as famílias proprietárias manterem o controle muito depois de ter cedido a participação majoritária.
Investidores institucionais deixaram claro no mês passado que eles são contra direitos de votação múltiplos. Carlo Scarpa, professor de Economia Industrial da Universidade de Brescia, foi um dos acadêmicos e gerentes de recursos que escreveram ao primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, para objetar uma proposta parlamentar que teria prorrogado uma regra temporária que permite que as empresas apresentem esses planos com uma maioria relativa dos votos.
Continua depois da publicidade
As famílias Ferrari e Agnelli estão juntas há muito tempo. Enzo Ferrari, que faleceu em 1988, começou sua carreira nas corridas automobilísticas e começou a fabricar carros para usar nas ruas em 1947. A Fiat comprou 50 por cento da Ferrari em 1969 e incrementou sua participação com os anos para o atual patamar de 90 por cento. A Ferrari apresentará seu modelo turbo 488 GTB no Salão Internacional do Automóvel de Genebra amanhã.
Demanda provável
Ainda que investidores institucionais rejeitem os direitos de votação múltiplos, na prática um plano semelhante provavelmente não afetará a demanda pelas ações da Ferrari na abertura. Por sua vez, Marchionne disse em tom de piada em 10 de fevereiro que os bancos conseguirão vender as ações no tempo que ele demora em comer uma rosca pela manhã.
Continua depois da publicidade
Os gerentes de recursos também estão acostumados a essa configuração, utilizada pela Fiat Chrysler e pela CNH Industrial NV, a fabricante de veículos pesados que foi separada da Fiat.
“Embora um plano de votação de fidelidade reduza o atrativo especulativo da Ferrari, já que são possíveis unicamente combinações amistosas, o sistema de administração não é considerado um verdadeiro problema pelos investidores”, disse Massimo Vecchio, analista da Mediobanca em Milão, que estima que a Fiat Chrysler poderá arrecadar cerca de 800 milhões de euros com a venda da participação de 10 por cento na Ferrari.