Ferrari confia em prestígio para prosperar no setor de supercarros

Fabricante de carros esportivos acredita que pode ser um desafio mais difícil que uma vitória na Fórmula 1.

Bloomberg

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SÃO PAULO – Para a Ferrari, provar que pode prosperar como uma fabricante de carros esportivos independente pode ser um desafio mais difícil que uma vitória na Fórmula 1. Após sua separação da empresa-mãe Fiat Chrysler Automobiles no ano que vem, o prestígio mundial do nome Ferrari será a chave para domar os obstáculos, como os custos de desenvolvimento de carros que atendem os padrões de seus clientes de elite. O limite auto-imposto pela Ferrari à produção, de cerca de 7 mil carros por ano, que visava a preservar o apelo da exclusividade, limitará o potencial de crescimento em uma indústria em que a escala pode ser fundamental para a sobrevivência.

A ameaça de expulsão do mercado levou a Bentley, a Lamborghini e a Porsche para os braços da Volkswagen, e a Rolls-Royce agora é parte da BMW. A Aston Martin, que enfrenta dificuldades desde que se separou da Ford Motor, em 2007, está se aproximando da Daimler para ter acesso à tecnologia, enquanto a fabricante britânica de carros esportivos Group Lotus está reduzindo sua folha salarial em 27% para sobreviver.

“Está ficando cada vez mais difícil operar em um nicho de mercado como o de carros esportivos como uma empresa independente”, disse Stefan Bratzel, diretor do Centro de Gestão Automotiva da Universidade de Ciências Aplicadas em Bergisch Gladbach, Alemanha.

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O que pode diferenciar a empresa com sede em Maranello, Itália, de outras fabricantes de carros esportivos é a razão pela qual a Brand Finance a apontou no ano passado como a marca “mais poderosa” do mundo, superando até mesmo a Apple. A consultoria citou a fidelidade dos clientes da Ferrari e suas altas margens. 

A Ferrari aperfeiçoou o equilíbrio entre um produto de luxo que apenas os mais ricos podem chamar de seu e um reconhecimento de marca que é universal. Ela é apoiada por uma fidelidade, quase uma religião, de um grupo de fãs devotos que vão desde garotos que colam pôsteres da Ferrari em seus quartos e fanáticos pela Fórmula 1 até ricos compradores seriais que gastam qualquer soma no modelo mais recente.

A independência da Ferrari foi o resultado do acúmulo de dívidas na Fiat Chrysler, que está buscando financiar um programa de investimento de cinco anos e 48 bilhões de euros (US$ 61 bilhões). Com o foco na expansão das marcas Jeep e Alfa Romeo globalmente e já tendo a Maserati como parte de seu portfólio, a oportunidade de ganhar dinheiro com o fascínio sobre a Ferrari era difícil de aproveitar.

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Segundo o plano, a Fiat Chrysler listará 10% da Ferrari nos EUA e possivelmente na Europa e o restante será distribuído entre seus investidores. Isso serve como um atrativo para compra de um bond conversível obrigatório e até 100 milhões de ações. O Mediobanca estima o valor de uma Ferrari independente em cerca de 9 bilhões de euros. Os 10% restantes da fabricante de carros esportivos são de propriedade do herdeiro do fundador Enzo Ferrari.

No terceiro trimestre a Ferrari registrou lucro antes de juros e impostos de 89 milhões de euros em uma receita de 662 milhões de euros, o que lhe dá uma margem de lucro de 13,4%, entre as maiores da indústria automobilística.

A fabricante da F12berlinetta, modelo vendido a US$ 319.000, também não será totalmente separada da Fiat Chrysler. O CEO Sergio Marchionne planeja seguir como presidente do conselho da Ferrari. Ele assumiu esse cargo no início do mês após orquestrar a saída de Luca Cordero di Montezemolo, chefe de longa data da marca de supercarros. A família Agnelli, que fundou a Fiat, também será a maior acionista de ambas as fabricantes de carros.

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A Ferrari provou seu amplo apelo ao licenciar seu nome para o parque temático indoor Ferrari World, em Abu Dhabi, o maior do mundo. As oportunidades para crescer no segmento de carros esportivos exóticos poderiam prosseguir de forma mais agressiva quando a empresa se tornar independente. 

“A Ferrari é um estilo de vida”, disse Joe Phillippi, presidente da AutoTrends Consulting. “É a Vogue, a Town Country e a Architectural Digest, todas embrulhadas em torno do cavalo empinado da Ferrari. Isso a transforma em mais do que simplesmente uma empresa automotiva”.

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