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SÃO PAULO – Quem tem o hábito de andar de bicicleta pelas capitais brasileiras sabe que as ciclovias estão longe de atender bem aos seus moradores e visitantes. Falta de tudo: estrutura adequada de circulação, interligação entre as vias, orientação para os ciclistas, placas indicativas de rotas e, o principal, segurança.
Verificamos, na maioria das 12 capitais integrantes de nosso estudo, ciclovias espalhadas, sem cumprir a função de levar as pessoas a diferentes destinos, com exceção de um trecho no Rio de Janeiro. O que é pouco, em se tratando de um país que prometeu muito em termos de mobilidade urbana para a Copa do Mundo – e pouquíssimo foi cumprido. Essas obras, que fariam parte do legado prometido à população, não saíram do papel.
Nem sempre é fácil alugar
Em nosso estudo, tentamos alugar bicicletas nas 12 capitais que visitamos. Essa facilidade é um diferencial não só para a população local, como também para os turistas. Muitas cidades contam com esse sistema, como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Porto Alegre e Recife, o que é um bom sinal. Mas em cidades como Natal e Fortaleza foi extremamente difícil encontrar locais para alugá-las, dificultando a vida do ciclistas habituais e de ocasião.
Cidades precisam retomar projetos
As cidades brasileiras, sobretudo as que avaliamos, precisam definir novas metas para suas ruas, a fim de atender à demanda dos ciclistas e, assim, reduzir os acidentes com veículos e os congestionamentos.
Melhorar o transporte e implementar ciclovias também incentivam o comércio local e promovem um estilo de vida mais saudável. Por isso, devemos exigir que as cidades que abandonaram as ciclovias em seus projetos de mobilidade urbana venham a público se justificar e estabelecer novos planos para que futuramente eles possam sair do papel.
Para fazer o nosso estudo, percorremos, em fevereiro, ciclovias de 12 capitais brasileiras, para verificar se estão bem conservadas e sinalizadas e, ainda, se os pedestres e motoristas respeitam esses espaços. Nosso principal objetivo foi verificar a eficácia para a mobilidade de cada cidade analisada e seus impactos.
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Veja os resultados do nosso estudo e também a pesquisa que mediu a satisfação dos brasileiros com as ciclovias.
Manaus: Encontramos apenas ciclovias de lazer, dentro de parque ou áreas fechadas, que não promovem mobilidade. Em um trecho de 2,3 km, havia pontos em obras. A exceção foi em um trecho com menos de 2 km, mas que também serve apenas para lazer. Na orla de Ponta Negra, muitas pessoas andam de bicicleta pelas largas calçadas. No entanto, não há sinalização e uma clara demarcação de ciclovia, o que ajudaria bastante o fluxo das bicicletas e evitaria acidentes.
Brasília: As promessas de novas rotas e maior mobilidade não saíram totalmente do papel. Encontramos ciclofaixas em péssimas condições, com a tinta no chão gasta e a sinalização inadequada. Existem muitos trechos em construção, mas a qualidade é ruim. Além disso, a qualidade das vias e da sinalização e sua funcionalidade, que não interliga as principais áreas da cidade, deixam a desejar.
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Cuiabá: É uma cidade que precisa urgentemente cuidar dos poucos quilômetros de ciclovias e ciclofaixas que possui e criar novas áreas para os ciclistas. As existentes estão em péssimas condições e não servem para melhorar a mobilidade, não sendo alternativas seguras. Verificamos uma situação de total descaso: falta de sinalização, lama, abandono de materiais de construção na pista e até mesmo o uso do espaço como acostamento.
Curitiba: As condições das vias poderiam ser melhores, mas nada que impeça a circulação. São bem sinalizadas, embora sofram com o vandalismo. Mesmo assim, as ciclovias primam pela indicação de atenção aos cruzamentos, travessia de carros e pedestres e orientação ao destino. Pensar em novas rotas dentro dos bairros com destino ao Centro é um ponto de melhoria.
Porto Alegre: As ciclovias são pequenas (menos de 15 km), não são interligadas, mas a maioria é bem sinalizada. Causou estranheza uma ciclofaixa no Centro da cidade, bem pequena (menos de 1 km dividida em dois trechos e cortada por uma praça). A via contava com muito lixo e pouco respeito dos pedestres. E poderia ser maior e interligar a outros lugares.
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Natal: O maior e principal trecho de ciclovia (cerca de 8 km) segue a orla da reserva do Parque das Dunas. Ela é separada da via e pintada na cor vermelha. Mas não tem sinalização, alguns trechos estão quebrados e a vegetação da praia invade a pista. Nos trechos de travessia de veículos, não há sinalização e vimos postes no meio da via.
Fortaleza: São 74 km de ciclovias e ciclofaixas.Encontramos a ciclovia da Avenida José Bastos, que é nova, com problemas de conservação e sinalização. Ela foi criada sobre o canteiro central, mas os postes e placas para auxiliar os motoristas acabaram ficando dentro da ciclovia, podendo causar acidentes aos ciclistas.
Recife: As pistas da orla são sinalizadas e conservadas, e é possível alugar bicicletas. Não são retas e fazem pequenos zigue- zagues, para que o ciclista não corra, pois o tráfego de pessoas que vão em direção à praia é intenso. O ponto negativo é que não há ciclovia nas ruas que dão acesso à orla, limitando o acesso dos ciclistas.
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Salvador: Um bom trecho da ciclovia da orla que vai da região de Pituba até Itapuã foi reformado, assim como a nova orla da Boca do Rio, que foi recentemente inaugurada e atrai pessoas de todas as idades. A ciclovia da Boca do Rio poderia ter melhor conservação e sinalização. Também não há ligação dessa ciclovia com outras áreas da cidade, o que é um erro frequente por parte dos urbanistas – e que acaba prejudicando quem busca esses espaços para lazer e para se deslocar rumo ao trabalho ou à escola.
São Paulo: Com cerca de 43 km, as ciclovias são divididas em cinco diferentes trechos. O mais importante é o da Marginal do Rio Pinheiros, com quase 22 km. O percurso é bem sinalizado e isolado dos carros, com guarda-corpos para evitar quedas no rio, e integrado a algumas estações de trem. A segunda mais importante é a da Radial Leste, com boa sinalização e bem protegida. Vimos alguns pontos com falta de limpeza, mas nada que atrapalhe os ciclistas.
Rio de janeiro: A cidade conta com a maior malha cicloviária do Brasil e uma das maiores da América Latina, com 366 km. Mas ainda sentimos falta de indicações de destinos. E as ciclovias construídas na Zona Oeste, principalmente as próximas ao BRT na Avenida das Américas, não possuem sinalização, têm péssimo acabamento e a travessia de uma calçada para outra não é adequada. Também vimos postes no meio da via, interrompendo o tráfego de bicicletas.
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Belo Horizonte: São 50 km de ciclovias espalhadas pela cidade. Elas são bem feitas e sinalizadas. As ciclofaixas, em determinados locais, são separadas por pequenos blocos de concreto, o que é muito bom, mas isso não ocorre em toda sua extensão. No geral a sinalização é boa, embora não exista qualquer sinalização que oriente especialmente o ciclista. Não há indicação de até onde a ciclovia pode levar. Por serem curtas, não interligam os bairros.
Pesquisa revela a insatisfação dos brasileiros com ciclovias
Realizamos uma pesquisa com ciclistas do Brasil. Apenas 15% dos entrevistados usam a bicicleta como principal meio de locomoção. Mas esses o fazem com muita frequência, para ir ao trabalho ou escola e universidade.
Os brasileiros estão insatisfeitos não só com o que encontram pelas ruas, mas também com a maneira com a qual as autoridades lidam com o tema. Acham que os políticos não fazem um bom trabalho para promover o uso das ciclovias e, pior, não criam uma infraestrutura suficiente. Muitos reclamam da falta de ciclovias em certos trechos e da ausência de locais seguros para estacionar as bikes.
Veja alguns dos temas que tiveram as piores avaliações (a nota máxima era 10) e as avaliações dos participantes:
Abrangência e extensão: nota 2,84
Quem é fã de bicicleta quer ter bastante pista para rodar por aí. Mas, infelizmente, não é o que acontece com as capitais que pesquisamos. Essa é uma das principais reclamações que identificamos em nossa pesquisa. Em algumas cidades, não é possível pedalar com segurança para ir ao trabalho ou à escola, já que as ciclovias estão restritas a espaços fechados de lazer, como parques.
A extensão também é outro problema. Mesmo as que são restritas aos parques são muito curtas – algumas chegam a ter apenas 2 km de extensão. É bem pouco para quem quer se divertir muito.
Interligação das ciclovias: nota 2,33
O mais importante em uma ciclovia é que ela leve o ciclista de um ponto a outro, sem a necessidade do uso de um ônibus ou de um metrô no meio do caminho. Isso é o que chamamos de interligação – e quanto mais malha cicloviária, melhor. Mas não é isso o que acontece nas cidades pesquisadas. Em alguns casos flagrados, era necessário cortar ruas movimentadas para chegar até a outra pista da ciclovia, expondo o ciclista a um risco mais do que desnecessário.
Design da ciclovia e segurança: nota 3,29
É fundamental, para muitos ciclistas, que a ciclovia seja exclusiva para o tráfego de bicicletas. Pode soar estranho, mas em muitos locais a faixa é compartilhada com os pedestres, e isso pode provocar sérios acidentes.
Outro fato relatado pelos usuários é a falta de sinalização. Em Cuiabá, por exemplo, é bem difícil perceber os limites da ciclovia – lá, os carros invadem constantemente o espaço destinado aos ciclistas, que chega a ser usado como acostamento.
Manutenção das ciclovias: nota 3,01
Garantir segurança a um ciclista só é possível se há manutenção constante. Essa foi outra queixa de nossos entrevistados: falta manutenção às ciclovias brasileiras. É importante reforçar a qualidade das pistas, já que nossa pesquisa mostrou que não há cultura do uso dos equipamentos de segurança: 27% dos ciclistas brasileiros afirmaram não usar capacete; 20% não usam faróis ou refletores (colete, adesivo) ao circularem durante a noite; 41% não têm sino ou buzina em suas bicicletas.
A Proteste reivindica Enquanto isso, o trânsito se torna cada vez mais desordenado e o transporte público não consegue acompanhar a crescente demanda. As ciclovias seriam uma excelente alternativa para as pessoas evitarem engarrafamentos e adotarem um estilo de vida mais saudável e menos danoso ao meio ambiente. Por essa razão, apre sentamos o resultados de nossos estudo às prefeituras das cidades avaliadas, solicitando a inclusão de projetos de construção e interligação de ciclovias no plano de mobilidade urbana municipal. |