Ainda sonha com a Copa do Catar? Dificilmente você vai gastar menos de R$ 60 mil (para ver 1 jogo)

Fifa vai abrir venda de último lote de ingressos do Mundial; quem quiser assistir à final e não se planejou pode ter que desembolsar mais de R$ 100 mil

Lucas Sampaio

Vista aérea do estádio Khalifa, em Doha (David Ramos/Getty Images)
Vista aérea do estádio Khalifa, em Doha (David Ramos/Getty Images)

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Como o esporte preferido do brasileiro é deixar tudo para a última hora, faltando menos de 75 dias para a Copa do Mundo ainda há pessoas fechando pacotes para assistir aos jogos do mundial de futebol no Catar. Se este for o seu caso, você tem duas opções: ou vai gastar mais de R$ 60 mil (por pessoa) para assistir a uma única partida da fase de grupos, com conforto e assistência, ou vai ter de fazer tudo por conta própria (e correr o risco de não encontrar um hotel ou mesmo um ingresso). Se quiser ver a final, pode se preparar que a conta facilmente vai passar dos R$ 100 mil.

Isso porque a penúltima fase de venda de ingressos da Copa acabou em 16 de agosto, e a Fifa ainda não divulgou as datas da última. Procurado pelo InfoMoney, o departamento de mídia da entidade máxima do futebol se limitou a dizer que deve haver um anúncio até o fim do mês. Disse também que não é possível garantir se haverá ingressos para os jogos do Brasil na primeira fase nem para as partidas da fase mata-mata, caso a seleção continue avançando no torneio, porque o processo é dinâmico e envolve a devolução e o não pagamento de ingressos.

Jogos do Brasil na Copa
Primeira fase:
• 24/11: Sérvia (16h)
• 28/11: Suíça (13h)
• 2/12: Camarões (16h)
Se continuar avançando:
Oitavas de final: 5/12 (16h) ou 6/12 (16h)
Quartas de final: 9/12 (12h) ou 10/12 (12h)
• Semifinal: 13/12 (16h) ou 14/12 (16h)
Disputa do 3º lugar: 17/12 (12h)
Final: 18/12 (12h)

Além disso, grandes sites de turismo como a Decolar e a MaxMilhas não têm mais hotéis disponíveis no Catar para as datas da Copa – a MaxMilhas diz que as últimas opções acabaram na semana passada e a Decolar, há mais de 1 mês. Já empresas como a CVC e a Stella Barros só estão vendendo pacotes da Torcida Brasil, que incluem hotel, ingressos, camarotes e alguns serviços. Eles custam a partir de R$ 48 mil, mas podem ultrapassar os R$ 113 mil (preço do pacote “intermediário” para a final, porque os mais caros já acabaram há mais de 3 meses).

O empresário Vinicius Cordini, 33, gastou até o momento R$ 115 mil para ir ao Catar. Esse valor inclui a passagem aérea (em classe econômica), 15 dias de hospedagem em hotel 5 estrelas e 4 ingressos (para as 2 semifinais, a disputa do 3º lugar e a final). Fundador e um dos donos de uma agência de comunicação com 70 funcionários e 115 clientes, ele fechou um pacote da Torcida Brasil e ainda não parou para calcular quanto vai precisar levar para gastar com todo o resto (alimentação, passeios turísticos, compras etc.).

Cordini diz que decidiu ir para a Copa em maio e fechou o pacote em 10 dias. “É um grande investimento, ainda mais na realidade do Brasil, mas com a quantidade de networking e os contatos que vou fazer, um contrato paga a viagem”, afirma o jovem empresário. “Estou indo única e exclusivamente para ver a Copa, mas sou empreendedor e vou fazer contatos por lá. Não estou olhando só o preço que paguei para ver os jogos”.

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“Esse pacote que eu comprei é mais caro porque tem uma série de benefícios. Se eu fizesse por conta, conseguiria muito mais barato. Teria economizado uns 35% a 40%”, diz Cordini, que terá direito a ingressos de hospitalidade (camarote com serviços) para os 4 jogos, além do pacote Torcida Brasil, que inclui hospedagem em hotel 5 estrelas, transfers do aeroporto para o hotel e do hotel para as partidas, guia brasileiro 24h, seguro-viagem, jogos extras em categoria de hospitalidade e o “match experience” (festas em que o cliente assiste um jogo em um local com comida e bebida, inclusive alcoólica).

Hotel Rotana em Doha, no Catar (Foto: Divulgação)

As bebidas alcoólicas, que estão sempre presentes nas Copas do Mundo, são uma questão à parte no Catar. O governo catari restringe a comercialização de álcool a hotéis internacionais e locais com autorização – e, mesmo nos estádios, as bebidas serão liberadas só nos camarotes. A comunicação do Grupo Águia diz que este é um grande diferencial dos seus pacotes, pois os clientes terão acesso aos camarotes 3h antes dos jogos e permanecerão no local por mais 1h após o fim das partidas, com direito a bebidas liberadas (e também comida). Diz também que todos os módulos estão à venda apenas sob consulta, pois há poucas unidades disponíveis.

Copa para quem tem bolso

“É uma copa cara, para um público bem definido”, afirma Rildo Amaral, gerente-geral da Stella Barros, que faz parte do Grupo Águia (assim como a Torcida Brasil). “Por questões de valores, o perfil mudou. Nas Copas passadas, a gente sempre tinha histórias de pessoas que se capitalizavam de uma Copa para outra, para poder ir. Pessoas que venderam seu carro para ir”.

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O executivo também cita a questão dos hotéis como um limitador. “Na África do Sul, na Alemanha e na Rússia, os países eram muito maiores. Tinham muito mais opções de hotel. O Catar é um dos menores países do mundo e tem 35 mil quartos em Doha, para um número imenso de pessoas que vão para lá”, diz Amaral. “Quanto menos você tem, mais caro é. Então é normal que as coisas sejam caras. Isso fez com que o perfil do passageiro tenha mudado.  Não é quem vendeu o carro, porque esta Copa é mais cara do que as Copas passadas. E [o Catar] é um país caro também”.

A famosa Corniche, rua à beira-mar ao longo da Baía de Doha, capital do Catar, com seus arranha-céus futuristas (Foto: Getty Images)

Cordini, por exemplo, vai pagar R$ 115 mil por 4 jogos porque pegou o pacote “mais simples” (o Match Clube). O Business Seats (considerado o pacote “intermediário”) para a final custa mais de R$ 113 mil e o Pearl Lounge – o mais caro de todos –, já está esgotado há mais de 3 meses (o Grupo Águia não divulga quanto custava o pacote mais caro do Pearl Lounge).

O gerente-geral da Stella Barros diz que a empresa vendeu quase 100 pacotes desde junho, e que o perfil do público desta Copa também explica o fato de a decisão estar sendo tomada a pouquíssimos meses do campeonato. ”Isso se dá por algumas questões. Uma parcela deixa para a última hora, mas tem também uma questão de agenda. Algumas pessoas estavam conversando conosco desde o ano passado, mas a agenda não permitia”.

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“Além disso, é a primeira vez que a Copa não vai ser em junho e julho. Como vai ser em novembro e dezembro, muitas pessoas estarão de férias. Algumas vendas foram para clientes que vão estar nas Maldivas ou Dubai e quiseram encaixar [a Copa] nas suas férias”, diz Amaral, que conta sobre um grupo de mulheres que decidiu “esticar” uma viagem para Israel e ir também para a Copa. “Não foram uma, duas ou três [pessoas], foi uma quantidade boa. Muitos que deixaram para a última hora decidiram [só agora] por isso”.

@infomoney

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 Dá para ir por conta própria?

Quem decidir ir por conta própria terá de lidar com possíveis percalços. O primeiro será a questão do ingresso, pois ainda não se sabe quando a última fase de vendas será aberta (nem quais ingressos estarão disponíveis ou para quais jogos). Sem saber para quais jogos haverá ingressos, é um tiro no escuro definir a data da ida e da volta para comprar a passagem e reservar o hotel.

O Brasil vai jogar nos dias 24 e 28 de novembro e em 2 de dezembro, pela fase de grupo (contra Sérvia, Suíça e Camarões, respectivamente). Se continuar avançando na competição, jogará nos dias 5 ou 6 pelas oitavas de final, 9 ou 10 pelas quartas e 13 ou 14 pelas semifinais. A disputa pelo terceiro lugar será no dia 17 e a grande final, no dia seguinte.

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Opções de hospedagem no Booking.com, para Doha, em datas durante a Copa do Catar (Foto: Reprodução)

A parte mais fácil será a das passagens aéreas, pois elas variam de R$ 8.726 a R$ 11.155 entre o fim de novembro e meados de dezembro, segundo preços coletados com a CVC, a Decolar e a MaxMilhas no começo de setembro. Os mais baratos são um voo com saída no dia 25 de novembro do Brasil e volta em 19 de dezembro por R$ 9.471 (pela MaxMilhas) e outro com embarque no dia 1º e volta no dia 8 de dezembro, de São Paulo a Doha, por R$ 8.726 (pela Decolar). Na CVC, um voo entre 24 e 29 de novembro sai a partir de R$ 10.468 + taxas por pessoa.

Passagens mais baratas
MaxMilhas: R$ 9.471 c/ taxas (ida 25/11 e volta 19/12)
CVC: R$ 10.468 s/ taxas (ida 24/11 e volta 29/11)
Decolar: R$ 8.726 (ida 1º/12 e volta 8/12)

Depois vem a questão da hospedagem (e a oferta limitada de hotéis no Catar). Decolar e MaxMilhas não têm mais quartos disponíveis na época da Copa, por exemplo, e a CVC e a Stella Barros se limitam a falar apenas dos pacotes da Torcida Brasil.

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Pesquisando por hospedagem no Booking.com, no começo de setembro, para se hospedar em Doha entre o final de novembro e o começo de dezembro, não é possível encontrar mais hotéis disponíveis. As opções são de apartamentos ou mesmo quartos improvisados, bastante precários, por no mínimo R$ 2,5 mil a diária (um apartamento não sai por menos de R$ 6 mil por dia para 1 pessoa).

No Airbnb é possível encontrar opções mais baratas (e mais precárias, obviamente). Um colchão em uma cama beliche, em uma região mais afastada da cidade, sai por menos de R$ 500 por dia. Mas mesmo casas e quartos improvisados são oferecidos a mais de R$ 1 mil a diária (em alguns casos, mais de R$ 4 mil).

Pacotes para a Copa (não inclui aéreo)
Torcida Brasil, vendindo pela CVC e pela Stella Barros
• Mais ‘barato’ (camarote match club)
1 jogo da primeira fase = US$ 9,3 mil (R$ 48 mil)
Mais caro disponível (camarote business seat)
Final = US$ 21,9 mil (R$ 113 mil)
Mais caro (camarote pearl lounge)
Esgotado

Opções de hospedagem no Airbnb, para Doha, em datas durante a Copa do Catar (Foto: Reprodução)

Há opções para todos os bolsos, mas a questão é se vale a pena – ou se é melhor se programar para a próxima Copa. “O dinheiro serve para você fazer essas coisas [decidir ir para uma Copa, mesmo de última hora]. Mas a pessoa tinha essa informação antes, então dava para ter se planejado”, afirma Isabella Brandão, planejadora financeira e consultora de investimentos da Oikos Patrimonal.

“A pessoa quer ir prestigiar o evento da Copa ou quer ir para o Catar? Se quer aproveitar o evento futebolístico, começa a se planejar para 2026. Ou para 2030”, afirma Brandão. “Se ela se planejar para 2026, não dá pra dizer que ela vai gastar menos. Mas a diferença é como esse dinheiro vai sair, aos poucos. Gastar R$ 40 mil ao longo de 4 anos é melhor do que R$ 40 mil de uma vez. É melhor que a pessoa faça esse tipo de planejamento”.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.