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Praticamente todos os dias jornais e sites de notícias de economia e finanças, como o InfoMoney, publicam alguma nota ou reportagem falando sobre sustentabilidade. Algumas vezes o assunto é mudança climática, em outras os textos mostram o que as empresas têm feito para se adequar às melhores práticas ESG (sigla em inglês para fatores ambientais, sociais e de governança). Muitos investidores leem esses conteúdos e acham válida a preocupação com os temas, mas não imaginam o quanto a sustentabilidade é cada dia mais importante para os investimentos. Por isso, tendem a ficar alheios às implicações dessa história para a sua reserva financeira.
É preciso, no entanto, o quanto antes tomar consciência sobre essa nova dinâmica. Questões de sustentabilidade deixaram de ser um debate acadêmico e distante para se aproximarem do dia a dia de todos, e isso acontece também no mercado.
A conexão é simples. Cada real aplicado em um ativo nos mercados financeiro e de capitais vai, de alguma forma, financiar uma atividade econômica. Esse dinheiro não tem a única função de gerar rendimentos para quem investe. Ele vai para a vida real.
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Quando entra na engrenagem do mercado, o recurso do investidor – seja ele de pequeno ou grande porte – permitirá que uma fábrica contrate mais funcionários, que uma rede varejista amplie atividades em uma nova região, que o governo pague pela construção de uma obra de infraestrutura, e por aí vai. Todos esses – e muitos outros negócios –, de uma maneira ou de outra, são impactados, por exemplo, pelas mudanças climáticas.
Vamos supor que você invista em títulos de uma empresa de alimentos que atua apenas no estado de São Paulo. Os efeitos da mudança climática em outras localidades podem interferir no retorno que você terá lá na frente. Como? Imagine que, no nosso exemplo, essa empresa recebia suprimentos do Rio Grande do Sul, que foi devastado pelas fortes chuvas em maio deste ano. Ou então tinha fornecedores da região Norte, que foi assolada pela seca do Rio Amazonas em outubro de 2023. A cadeia de produção da nossa empresa hipotética também seria impactada, em menor ou maior grau, pelos eventos climáticos extremos que aconteceram em outras regiões do país. Daí a importância de considerar as questões ESG na gestão de riscos (e oportunidades) de todo e qualquer investimento.
Com as empresas não será diferente. Muitos negócios estão alterando seus modelos de atuação e desenhando novos cenários para lidar com o futuro. Atitudes como essas geram despesas, com impacto sobre o fluxo de caixa e – adivinha? – sobre os seus investimentos nessas empresas. Você, como investidor ou investidora, terá implicações mesmo que não tenha comprado diretamente ações ou títulos de dívida dessa companhia, já que os papéis podem estar nas carteiras de fundos de investimento.
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Diante desse quadro, o que você deve fazer ao investir? Em primeiro lugar, tomar consciência de que a sustentabilidade tem sim a ver com as aplicações financeiras – e muito.
Em segundo, é preciso que comece a cobrar das empresas e dos próprios agentes de mercado atitudes concretas de engajamento com o tema. Enquanto consumidor de um produto ou serviço, é provável que você considere importante que uma empresa cuide bem do meio ambiente e trate os funcionários e funcionárias com dignidade. Então, por que não pensar nisso também no contexto dos investimentos? Vale muito a pena, além de contribuir para o fortalecimento de todos os elos dessa cadeia.
A boa notícia é que o mercado também tem se movimentado nesse sentido. Nos últimos anos, foram criados muitos produtos com o recorte ESG, e a cada dia mais a regulação e a autorregulação impulsionam mudanças necessárias. Inclusive, neste mês de junho, centenas de representantes de instituições financeiras, bancos de fomento, organizações focadas em ESG, reguladores e autorreguladores se reuniram na Semana de Sustentabilidade, promovida pelo BID Invest (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em Manaus, para discutir os caminhos necessários para promoção das finanças sustentáveis, o que mostra a importância e a urgência dessa agenda.
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Por fim, é preciso que o investidor brasileiro se esforce para mudar a própria mentalidade em relação ao longo prazo. Todos sabemos que, mesmo com as ações voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa mundo afora, as próximas décadas trarão muitos desafios para a humanidade. Isso aumenta a importância da poupança de longo prazo, tema ainda distante do dia a dia das famílias brasileiras.
Como mostrou a última edição da pesquisa Raio X do investidor brasileiro, feita pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a população do país continua muito apegada a produtos de investimento de curto prazo e ao tripé de liquidez, rentabilidade e segurança. A caderneta de poupança é opção de 25% da população investidora, muito à frente de outros produtos, como títulos privados (5%), fundos de investimento (4%) e ações (apenas 2% de adesão). Esse comportamento é herança persistente do período da hiperinflação, mesmo com o Plano Real completando 30 anos em 2024.
Na prática, além de tomar ciência de que as questões de sustentabilidade vieram para ficar, você pode perguntar aos profissionais de investimentos que estão ao seu redor – assessores, planejadores, gerentes de banco e gestores, entre outros – se essa pauta faz parte da rotina do trabalho. Estão observando os riscos? O que têm feito para gerenciá-los e mitigá-los? Estão atentos a novos cenários?
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No papel de investidor ou investidora, como uma das fontes do capital que faz a economia rodar, você tem muito poder para entrar nesse jogo. Para o bem dos seus investimentos, do mercado, da economia e do nosso futuro.