O ambiente político brasileiro está concentrado em evitar turbulência quanto à dívida pública, sobretudo diante da pressão por mais gastos e mais investimentos governamentais – em meio a um cenário de desaceleração econômica.
Embora o manejo das contas públicas seja um tema primordial no Congresso, não há espaço para discussões mais aprofundadas a respeito de como aumentar a inserção do País no contexto global, e isso pode comprometer a nossa capacidade de crescimento econômico, afirma Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, em entrevista ao Canal UM BRASIL, uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
“No Brasil, a gente resolve um problema por vez. Neste momento, é a questão fiscal. Do ponto de vista de gestão política, certamente a inserção internacional não é um tema que está no radar. Ainda somos muito concentrados em temas de curto prazo”, pondera. Sendo assim, o preço que se paga ao resolver apenas os “problemas do dia” – em vez de se ter uma visão mais ampla – é menor capacidade de crescimento econômico, Padovani reforça.
“Ainda que seja natural que a classe política, de maneira geral, tenha de responder a questões de curto prazo, há vários debates em segundo plano: a discussão a respeito da abertura do País; se devemos ser uma economia liderada pelo Estado ou pelo setor privado; como melhorar a competividade do nosso setor privado; como investir mais etc.”, frisa.
O economista-chefe ainda lembra que grandes reformas capazes de promover a inserção internacional ocorrem apenas em situações “muito peculiares”, como em 2017 (com a Reforma Trabalhista) e em anos mais recentes. “Sem um ambiente que pressione o Congresso por mudanças, não vejo as reformas importantes avançando. O que iremos colher é um crescimento mais próximo a 2% nos próximos anos.”
Economia mais resiliente a choques externos
Apesar da previsão de turbulência econômica em 2023, em decorrência da alta inflação no País – com redução do poder aquisitivo da população – e dos impactos causados pelas tensões geopolíticas na Europa e na Ásia, Padovani acredita que o Brasil tenha se fortalecido e que possa passar pelos desafios de maneira diferente até então.
“Temos o problema de a inflação ser, além de elevada, disseminada. Este é um combate difícil de ser feito, porque vai exigir taxas de juros elevadas com aperto monetário mais forte. Os atuais desafios climáticos europeus também tornam natural um pessimismo diante do cenário. A novidade é que, talvez, a economia brasileira possa se mostrar mais resiliente a estes choques externos”, analisa.
O economista explica os fatores que justificam a leitura mais positiva sobre esses impactos, dentre eles, o fato de o País ter realizados reformas importantes, como a Trabalhista e a Previdenciária, assim como a lei que estabelece a autonomia do Banco Central (Bacen) e a regularização dos marcos regulatórios de saneamento e gás.
“Não sabemos contabilizar como isso afeta o crescimento, mas, do ponto de vista qualitativo, faz sentido dizer que as reformas ajudam a tornar a economia nacional mais forte”, conclui.