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por Reginaldo Nogueira*
A Covid-19 representou um enorme choque no setor educacional, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Milhões de alunos dos ensinos básico, fundamental e superior foram levados a aulas remotas em questão de semanas, mesmo em instituições que, até agora, ignoravam por completo qualquer tipo de inovação em seus modelos de ensino. Em poucos dias, gestores educacionais tiveram de adotar na prática o que muito se ensina a respeito de adaptabilidade e resiliência, alterando de maneira drástica seus negócios e suas relações com os corpos docente e discente.
Mas, na verdade, a Covid-19 apenas antecipou um futuro que se desenhava. Dados do censo educacional do Ministério da Educação (MEC) para o Brasil já mostravam que o modelo online era uma realidade. Em 2011, 21% dos novos entrantes do ensino superior optaram pela modalidade de ensino a distância – cerca de 400 mil, num grupo de aproximadamente 1,9 milhão de novos alunos. Em 2018, esse porcentual já havia alcançado quase metade do total, chegando a 45% dos novos entrantes, ou 1,3 milhão em um universo de quase 2,9 milhões de novos alunos do ensino superior brasileiro.
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Dessa maneira, o que surpreende de certo modo é que tantas instituições de ensino superior estivessem despreparadas para um ajuste às regras de distanciamento social que, na realidade, apenas aceleravam o que já se mostrava como um cenário presente na educação brasileira. Mas, de qualquer forma, isso trouxe um debate imprescindível para os próximos anos: quais os desafios de uma educação remota de alta qualidade e bom desempenho?
Em primeiro lugar, é preciso enfatizar que o que estamos vivenciando neste momento, na maior parte dos casos, não é um modelo de ensino à distância tradicional, mas de ensino remoto. O modelo de ensino a distância se baseou em escala, aulas gravadas (assíncronas), com interação e avaliações em escrito. Não é essa a experiência atual na maioria dos casos, na qual observamos aulas síncronas (ao vivo) por meio de uma miríade de plataformas e alta interação entre alunos e professores.
A experiência tradicional geralmente se traduziu em baixo engajamento e alta evasão de alunos, enquanto a experiência atual (talvez influenciada pela gravidade do momento) é de mais engajamento e satisfação dos alunos. Talvez essa seja a primeira lição aprendida para os próximos anos: sincronicidade e interatividade não podem ser ignoradas no ambiente online.
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Um grande desafio no modelo remoto é relacionado à dificuldade de manter a disciplina e a concentração dos alunos. Isso é também verdade em uma aula presencial, mas é fortemente potencializado no modelo online, quando as distrações e as alternativas postas aos alunos são muito maiores. Mais do que nunca, é demandado do professor que priorize exemplos reais e atuais como forma de atrair os estudantes à temática discutida, bem como incorporar a maior interatividade possível – ou disponível na plataforma utilizada. Mais do que isso, é preciso trazer as opções que a tecnologia nos oferece, como a realidade aumentada, como forma de atrair e engajar os alunos.
Mas esse não é o maior problema potencializado pelo modelo remoto. A grande questão neste momento é como nossa situação atual exacerba as desigualdades sociais, por meio de dificuldades de acesso e conexão às plataformas, bem como ao ambiente sociofamiliar em que o estudante está inserido. Também isso é verdade no modelo presencial, mas se torna ainda mais relevante e evidente no momento em que nos encontramos. Por exemplo, não são poucas as escolas que, nesse sentido, se sentiram compelidas a encontrar soluções para a oferta de acesso à internet aos seus alunos mais desfavorecidos. Este é um dos grandes aprendizados que precisamos levar desse momento (embora já devesse ser conhecido): o ensino não se dá em um vácuo social.
É também de alguma obviedade em meio à pandemia que o modelo tradicional de avaliação de conteúdos com os quais temos trabalhado, há alguns séculos, se tornou obsoleto e incompleto. O foco na memorização e na repetição se tornou frágil no contato remoto com alunos, os quais mantêm acesso ilimitado a fontes de pesquisa. Cada vez mais devemos nos preocupar com a investigação acerca dos porquês, favorecendo a pesquisa e as ligações entre diferentes objetos e fenômenos.
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Por fim, o maior aprendizado de todo esse período foi a figura absolutamente central do professor no processo de aprendizagem. Com as escolas fisicamente fechadas, e as aulas transferidas para a modalidade remota, foram os professores, solitários de suas casas, que mantiveram o ensino e a relação com os alunos em andamento. Foram os professores que, ainda sem treinamento específico na maior parte dos casos, contornaram as dificuldades de conexão, de acesso às plataformas e de avaliação, mantendo os alunos motivados e atentos aos conteúdos básicos. E esta é a lição final: a figura do professor, remota ou presencialmente, continua essencial.
* Reginaldo Nogueira é PhD em Economia e diretor-geral do Ibmec SP e DF