Muito além do celular

Tecnologia 5G causará um impacto indescritível na vida cotidiana, escreve professor do Ibmec RJ

Um Brasil

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por Clayton Silva*

Celebrado no mundo da tecnologia, o 5G entra, agora, também no Brasil. Toda esta comemoração não é pura fanfarra, tampouco injustificável. A licitação do espectro de radiofrequências desata um nó regulatório, viabilizando que as empresas prestadoras de serviços de telecomunicações possam realizar os investimentos na infraestrutura que possibilita a implantação da tecnologia 5G às comunicações móveis celulares, e proporcionando os recursos de espectro para as prestadoras expandirem as redes.

A despeito da genuína vitória da sociedade, para a grande maioria, é difícil compreender a dimensão do impacto. Difícil entender como a vida se transformará pela chegada do 5G ao cotidiano, no sossego de casa e no convívio da comunidade. Vou tentar ilustrar a transformação segundo esta perspectiva. 

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Vídeos, imagens e posts compartilhados nas redes sociais, aplicativos usados para organizar a rotina, assim como todas as demais informações de lazer e de trabalho que são veiculadas pelas redes celulares viajam sobre um lastro de ondas elétricas transmitidas pelo ar em radiofrequências. Estas últimas são as estradas pelas quais circulam as informações digitais. A tecnologia 5G requer o uso de grandes avenidas de dados que ainda não estavam disponibilizadas para as empresas prestadoras de serviços de telecomunicações. E, agora, vão estar.

Diretamente, nossa vida será transformada pela camada de serviços, as chamadas “aplicações”. O impacto do 5G será sentido nessas aplicações da Internet das Coisas (IoT), tecnologia presente nos objetos – todos inteligentes, com sistemas de computação embutidos – presentes no nosso cotidiano, como eletrodomésticos, veículos e roupas, integrados em uma Internet móvel de alta velocidade e fazendo parte de uma troca de informações de toda natureza. Isso é o que vai possibilitar, por exemplo, que eletrodomésticos instalados nas residências enviem informações para os veículos que circulam pela cidade, que, por sua vez, responderão. Também trocarão informações com roupas e relógios (wearables), entre outros inúmeros objetos inteligentes que cercam a nossa rotina. 

O impacto da integração destas fontes de dados no modo de vida das pessoas é indescritível. Para nos atermos a um aspecto dessas aplicações, podemos especular as possibilidades para os serviços de saúde. Já é realidade o uso de aplicativos, instalados nos smartphones, para monitoramento de dados e hábitos da nossa saúde. Com a chegada do 5G, os sensores que captam essas informações tendem a não se restringirem só aos smartphones, mas também se estenderem a outros objetos de que fazemos uso. A tecnologia possibilitará que estes sensores captem nossos mais variados sinais vitais e, integrados em uma rede veloz, inteligente e presente em todos os lugares, processe qualquer sintoma fora do normal, comunicando em tempo hábil hospitais e clínicas se necessário.

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Além disso, profissionais de saúde acessarão em tempo real um volume significativo de dados sobre os pacientes, que poderão ser interpretados com a ajuda de aplicações de Inteligência Artificial (IA) para a formulação de diagnósticos mais precisos.

No plano coletivo, os sensores móveis, conectados em uma imensa rede inteligente 5G, alavancarão os serviços públicos das atuais embrionárias cidades inteligentes. A mobilidade urbana será beneficiada – veículos (autônomos) e pessoas circulando nas vias públicas contribuirão para a contabilização do tráfego, orientando os dispositivos de controle distribuídos pela metrópole. A segurança pública será favorecida pela utilização dos aplicativos para reconhecimento de padrões, disponibilizando funcionalidades como as identificações de pessoas procuradas pela Justiça, de placas de veículos irregulares, entre outras. A possibilidade de acesso aos bancos de dados públicos em tempo real favorecerá a ação oportuna da segurança pública. As agências de defesa civil terão suas ações preventivas potencializadas pela utilização de sensores que captam as mudanças climáticas, as condições de terreno, entre outras variáveis, alimentando aplicações para realizar os prognósticos de acidentes naturais. 

Em suma, a fusão dos dados oriundos dos sensores de domínio público, tratados por sistemas de IA, contribuirá seletivamente para os distintos serviços públicos. Este é o cenário futuro do Brasil para o qual a partida foi dada com o leilão do 5G. E é um cenário altamente provável, e não uma viagem de ficção científica.

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*Professor de Engenharia de Computação no Ibmec RJ

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