Brasil nunca pensou em um modelo econômico para a Amazônia que não fosse de destruição da natureza

Ricardo Abramovay, professor do Programa de Ciência Ambiental do IEE/USP, defende a adoção de um sistema que recomponha a floresta e valorize as culturas locais

Um Brasil

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Queimadas, garimpos e extrações irregulares de recursos naturais ocorrem rotineiramente na Amazônia.

Para além da questão da fiscalização, na avaliação de Ricardo Abramovay, professor sênior do Programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP), ações criminosas como essas têm como pano de fundo um modelo econômico que enxerga riqueza na destruição da natureza. Desse modo, para salvar a floresta e as culturas locais, é preciso um sistema que valorize o bioma.

“O processo de crescimento econômico da Amazônia se caracterizou fundamentalmente por destruição”, frisa o professor, em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP.

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“O nosso principal desafio, hoje, é fazer com que possamos nos beneficiar do conhecimento da natureza para produção de riqueza, e isso tem que ser feito com valorização das culturas material e espiritual dos povos da floresta”, defende.

Referência em bioeconomia, desenvolvimento sustentável e impactos da revolução digital na sociedade, Abramovay salienta que, ao longo das últimas décadas, o Brasil nunca cogitou pôr em prática um modelo econômico alternativo para a Floresta Amazônica, isto é, um sistema que permitisse a convivência pacífica entre homem e natureza.

A verdade é que nós desenvolvemos muito mais a visão a respeito do que fazer quando a floresta não existir do que a visão do que fazer com a floresta”, reforça.

Como forma de entender a devastação do bioma, Abramovay diz que “a ideia de que a eliminação da floresta pode trazer riqueza é muito atraente e imediata”. Além disso, pontua que, enquanto outros países estão revisando os modos com que lidam com a extração e a utilização de recursos naturais, o Brasil está ficando para trás.

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“No caso brasileiro – e particularmente no que se refere à Amazônia –, estamos acumulando um atraso em relação a estes avanços que estão se produzindo internacionalmente, o que é espantoso e profundamente ameaçador”, destaca.

Diante deste cenário, o professor defende a adoção de um novo paradigma, o qual chama de “economia do conhecimento da natureza”.

“A economia do conhecimento da natureza é justamente se opor ao processo de destruição e fazer emergir um modelo econômico que recomponha a floresta e que, por meio disso, garanta às 40 milhões de pessoas que vivem na Amazônia – 30 milhões em território nacional – condições de vida que façam com que se orgulhem de serem detentoras da mais importante riqueza que dispõe o planeta”, pontua Abramovay.

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