“Abertura comercial é a mãe de todas as reformas”, aponta Edmar Bacha

Diretor da Casa das Garças e um dos formuladores do Plano Real diz que protecionismo à indústria e ao setor de serviços impede economia brasileira de incorporar tecnologias mais produtivas

Um Brasil

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A abertura do comércio exterior para a indústria e o setor de serviços brasileiro melhoraria a produtividade, na medida em que o País incorporasse as tecnologias estrangeiras em seus processos e produtos. Na visão do economista Edmar Bacha, a concorrência internacional, atualmente já enfrentada pelas empresas de agricultura e mineração, também traria benefícios ao aumento da produtividade.

“Nosso sistema empresarial industrial e de serviços é voltado para o mercado interno com elevada proteção contra produtos importados e, consequentemente, a introdução de novas tecnologias. Temos de fazer um processo amplo da abertura comercial e da concorrência como condições para incorporação de tecnologias sem as quais não haverá aumento de produtividade”, diz um dos formuladores do Plano Real, em entrevista ao UM BRASIL.

Bacha fala que, além de capacidade de aumentar o nível tecnológico, a abertura do comércio exterior ainda traria ganhos para as exportações, que seriam enviadas a outros países com mais componentes importados. “O que faz a diferença do ponto de vista da produtividade é a capacidade de poder importar bens de capital [como máquinas e equipamentos] e intermediários [matérias-primas], tecnologia e concorrência para aumentar a produtividade”, explica.

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A única preocupação com essa abertura, segundo o economista, está em um possível déficit comercial. Portanto, o processo para a entrada das importações no Brasil deve ter como contrapartida incentivos adequados para que as exportações também cresçam e mantenham um equilíbrio.

A ampliação do comércio internacional também deixaria explícito os altos custos do sistema tributário brasileiro, composto por tarifas e impostos indiretos acumulativos que encarecem as importações, além dos preços dos produtos industriais e dos serviços comercializados em território nacional. “Com a abertura, a necessidade de implantar a Reforma Tributária ficaria extremamente clara. Por isso, digo que a abertura é a mãe de todas as reformas”, diz.

Defensor também de uma reforma em âmbito político, o economista critica o sistema brasileiro que sustenta e perpetua a troca de favores. “O nosso grande problema político é o ‘toma lá, dá cá’ – esse processo por meio do qual o Executivo só consegue extrair mudanças legislativas mediante um processo de trocas que nem sempre respeitam a ética. E isso foi o que gerou originalmente o mensalão e, depois, o petrolão, que revelaram o grau de distorção que o nosso sistema político atingiu; não só o político, mas o empresarial.”

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A entrevista é resultado do evento “III Fórum: A Mudança do Papel do Estado”, uma realização UM BRASIL; Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP); Columbia Global Centers | Rio de Janeiro, braço da Universidade Columbia; Fundação Lemann; revista VOTO; e Instituto de Estudos de Política Econômica – Casa das Garças.

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