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Certa vez, conheci um trader que parecia ser o exemplo de um bom negociador. Ele respeitava seus stops, olhava para seus ganhos com a perspectiva de porcentagem e não de valores, criou um checklist para não deixar de cumprir tarefas que entendia serem indispensáveis para a consistência. No entanto, todo seu esforço e seus ganhos, em um curto período, desmoronavam em questão de segundos devido a atitudes como: não parar de negociar após atingir seus objetivos previamente estabelecidos; euforia e excesso de autoconfiança, principalmente após ganhos expressivos (e talvez fora do gerenciamento); além de fazer preço médio sem planejamento prévio.
Essa história parece ter alguma similaridade com o conto mitológico de Sísifo. A lenda narra que Sísifo era um rei astuto que enganara vários deuses por várias vezes. Por essa razão, foi punido: passaria a eternidade rolando uma pedra gigante até o topo de uma montanha apenas para vê-la rolar novamente para baixo.
A mitologia grega também pode ser utilizada para criar metáforas que explicam o funcionamento da mente humana e compreender as emoções comuns a todas as culturas. Os mitos são lendas que descrevem ações de seres diante de uma cultura ou sociedade. Geralmente, são usados para explicar o mundo atual, cheios de símbolos e arquétipos que dão sentido à complexidade do contexto dos contos, tornando-os mais atraentes. Além disso, os mitos são uma forma criativa e um tanto assustadora de narrativa, gerando dúvidas quanto à inveracidade, dada a grande familiaridade dos fatos com a vida cotidiana.
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Como negociadores do mercado financeiro, adotar processos que geram evolução nos resultados e, posteriormente, num ato de “descuido”, retroceder de toda a caminhada percorrida, parece parafrasear o conto de Sísifo: “rolar até o topo de uma montanha uma grande pedra… vê-la rolar novamente… abaixo”. Muitos se deparam com a situação de ir muito bem em suas negociações, mas de repente algo destrói toda a conquista até aquele momento.
Recorrendo à funcionalidade dos mitos para auxiliar na compreensão do comportamento humano e na compreensão do funcionamento da mente humana, vamos tentar entender por que isso acontece.
Supõe-se que o fracasso não ocorre por ignorância ou incompetência, mas sim, possivelmente, devido a uma tendência autodestrutiva desconhecida pela mente. Trata-se de um padrão de comportamento autopunitivo que a mente considera “justo”, em meio a tantas “injustiças “que já foram cometidas pelo fracassado. Assim como Sísifo, que aceitou a punição de viver eternamente o castigo que mereceu receber, dada sua astúcia sobre a ingenuidade dos deuses. Por exemplo, o trader paga pelos erros que cometeu e é levado a pensar que não merece o dinheiro que conquistou, pois é muito para ele… A interpretação desta fábula tem uma forte correlação com o conceito de autossabotagem, que fortalece crenças inconscientes construídas durante toda a vida, impedindo que suas vítimas se sintam merecedoras de conquistas, reconhecimentos, acertos, sucessos, riqueza e méritos.
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Para alterar a trajetória de histórias recorrentes de fracassos, é necessário cultivar três pensamentos: reconhecer que dói, mas é indispensável buscar dentro de si a causa do fracasso; assumir a responsabilidade pelos resultados de cada situação, sejam eles bons ou ruins; acreditar que todos temos qualidades e defeitos. Praticar essa linha de pensamento pode transformá-la em verdade e, consequentemente, em crença, o que contribuirá para a autoaceitação e autoconfiança, fazendo perpetuar o sucesso como consequência.
Nesse contexto, o objetivo é sair da situação em que o prazer parece estar relacionado ao ver a pedra rolar abaixo novamente, apenas para poder dizer “sabia que iria dar errado… que eu não iria tão longe…”. Quebrar esse padrão de fracasso esperado é totalmente possível: o primeiro passo é identificar esse padrão em sua vida; o segundo passo é buscar ajuda para o autoconhecimento e para fechar as brechas que existem pela ausência de conhecimento técnico. Agindo assim, quando a pedra rolar abaixo novamente, você subirá a montanha sem ela.