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Lembro-me claramente das minhas primeiras negociações no mercado. Ao fazer uma autoanálise, eu me descreveria como ousada. Arriscava quantias muito acima de um gerenciamento de risco adequado. Sentia-me forte, confiante e extremamente satisfeita com a nova carreira, o que me tornava eloquente nos diálogos com leigos. No entanto, em determinado momento, diante de um ganho financeiro incomum, surgiu um pensamento desconfortável: “Eu sei por que obtive esse resultado na negociação de hoje?” A resposta a essa pergunta me levou à conclusão de que eu não sabia absolutamente nada do que estava fazendo. O ganho tinha sido pura sorte… A partir desse momento, o medo passou a dominar a maioria das minhas negociações.
O medo e a ansiedade são as duas emoções mais comuns entre traders e investidores. Geralmente, essas emoções são desencadeadas pela sensação de ameaça percebida no ambiente ou pela perda de controle da situação. É natural que situações ou ambientes percebidos como ameaçadores despertem instintos de autodefesa.
Imagine-se em uma rua escura e deserta, durante a madrugada, e de repente você começa a ouvir passos apressados se aproximando. Obviamente, o ambiente e as circunstâncias parecem extremamente ameaçadores. Nesse caso, talvez não seja recomendável esperar para verificar se o perigo é real ou imaginário. O instinto de autodefesa deve se manifestar para garantir sua segurança e proteção.
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Da mesma forma, esse instinto de autodefesa pode ser acionado no ambiente financeiro quando percebido como ameaçador. Surgirão atitudes de defesa em resposta a essa percepção.
No entanto, o mercado em si não representa uma ameaça e, teoricamente, não há motivo para que seus instintos se defendam dele. Tudo no mercado são informações, e a interpretação dessas informações é determinada pela nossa própria estrutura mental. Consequentemente, as atitudes adotadas podem ser incoerentes com a situação.
O que pode distorcer as informações observadas no mercado, transformando-as em perigo, são as primeiras experiências emocionais aprendidas nessa relação: as dores ou os prazeres emocionais vivenciados no passado.
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Por outro lado, o excesso de autoconfiança é um sentimento que provoca reações opostas ao medo e à ansiedade, mas também leva a resultados negativos na mesma medida. Estudiosos pioneiros nesse tema, como os psicólogos David Dunning e Justin Kruger, sugeriram que o excesso de autoconfiança está relacionado a uma autoavaliação irrealisticamente positiva das próprias habilidades. Isso envolve uma superestimação do conhecimento e das possibilidades pessoais.
“…a ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento”…”…Se você é incompetente, você não consegue saber que é incompetente (…) [A]s habilidades necessárias para fornecer uma resposta correta são exatamente as habilidades que você precisa ter para ser capaz de reconhecer o que é uma resposta correta. No raciocínio lógico, na educação dos filhos, na administração, na resolução de problemas, as habilidades que você usa para obter a resposta correta são exatamente as mesmas habilidades que você usa para avaliar a resposta. Portanto, nós demos continuidade a investigações para apurar se a mesma conclusão poderia ser verdadeira noutras áreas. E para nossa surpresa, era bem verdadeira.”
Considerando o relato do primeiro parágrafo e incorporando a teoria de Dunning-Kruger, a ousadia destemida nas negociações no início da carreira implicava na ausência de habilidades para distinguir entre um desempenho bom e ruim. Era impossível perceber a diferença qualitativa dos resultados porque a falta de habilidade era acompanhada pela ignorância dessa falta. Quando houve uma evolução cognitiva, também surgiu o medo. Segundo Dunning-Kruger, a razão desse medo subjacente é que a ignorância gera confiança.
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A partir daí, surge um novo problema: sob o efeito do medo, pode ser difícil aprender novas atitudes que evitem perdas descontroladas. Qualquer atitude que eu tomasse teria a intenção, consciente ou inconsciente, de me proteger da ameaça percebida – o mercado.
Resumindo, o medo, a ansiedade e o excesso de autoconfiança têm raízes muito mais profundas do que imaginamos. É imprudente adotar estratégias de defesa sem conhecer a origem dessas emoções. É improdutivo tentar aprender novas atitudes que evitem perdas sem entender a origem do medo ou do excesso de confiança. O mercado é neutro, e a interpretação é construída com base na experiência emocional de dor ou prazer.