O valor da pesquisa profunda, maior lição de Warren Buffett no encontro da Berkshire

No mercado financeiro, altamente competitivo, ganhar dinheiro significa fazer mais do que os outros estão dispostos a fazer; trata-se de uma verdade simples que muitos ignoram - mas Buffett, não

Tiago Reis

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A reunião anual dos acionistas da Berkshire Hathaway é um evento lendário no mundo financeiro, celebrado por reunir milhares de investidores e entusiastas para ouvir as palavras de Warren Buffett – e, até recentemente, de seu sócio Charlie Munger.

Neste ano, o encontro foi emocionalmente ainda mais significativo, pois foi o primeiro sem Munger, morto em novembro passado. A abertura com um vídeo em sua homenagem e um instante tocante – quando em que Buffett, por impulso, virou-se para pedir um comentário de seu parceiro de longa data – reforça o profundo vínculo entre eles.

A sessão de perguntas e respostas é sempre o ponto alto do evento, destacando-se não apenas pelos insights sobre as movimentações de Buffett – como a recente redução de participação na Apple (AAPL4)  e o aumento de liquidez da Berkshire – mas, também, pela discussão de princípios e estratégias de investimento.

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Na edição de 2024, Buffett falou de questões macroeconômicas, como a possível necessidade de aumentar os impostos corporativos nos Estados Unidos para combater os crescentes déficits públicos.

O cenário sugere uma tendência que outros países, incluindo o Brasil, podem seguir, potencialmente afetando o crescimento da produtividade. Há estudos que apontam que aumentos de impostos em ambientes de déficit público tendem a reduzir a eficiência econômica ao longo do tempo.

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A pergunta que mais ressoou em mim, no entanto, foi feita por um jovem, com referências à declaração antiga de Buffett de que se gerisse um patrimônio menor, poderia alcançar uma rentabilidade de 50%.

O caminho para uma performance dessa magnitude, segundo o megainvestidor, seria dedicar-se à leitura das 20 mil páginas do Moody’s Manual, uma extensa compilação de informações financeiras de diversas empresas.

Esta tarefa, que poucos estão dispostos a empreender, sublinha uma verdade essencial sobre o mercado de ações: é um campo de batalha de informações.

E aqui reside a maior lição da conferência. No mercado financeiro, altamente competitivo, ganhar dinheiro significa fazer mais do que os outros estão dispostos a fazer. Você deve estar disposto a analisar mais ações e de maneira mais profunda do que a concorrência. Trata-se de uma verdade simples, mas poderosa – que muitos ignoram.

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Análise superficial de indicadores rápidos

No Brasil, a situação não difere muito da descrita por Buffett. Por aqui, a maioria dos investidores parece negligenciar a importância de uma análise profunda antes de tomar decisões de investimento.

Poucos são os que se dedicam à leitura integral dos relatórios trimestrais das empresas. A maioria se limita aos destaques ou às notícias sobre os balanços.

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No mercado de fundos imobiliários, o cenário é igualmente preocupante. A maioria dos investidores se concentra apenas no tamanho dos dividendos mensais, sem buscar compreender a natureza do fundo ou as circunstâncias que conduziram aos resultados divulgados. Esse foco em rendimentos imediatos pode ser perigoso, pois dividendos altos frequentemente implicam riscos maiores.

No segmento de ações, até mesmo entre profissionais, as análises frequentemente são superficiais. Predomina uma abordagem que prioriza indicadores rápidos em detrimento de uma avaliação mais meticulosa e holística. Esse panorama revela uma desconexão preocupante entre a prática de investimento e os princípios que Buffett tem defendido há décadas.

Buffett reforçou que, enquanto muitos buscam atalhos ou a próxima grande dica, o sucesso sustentável vem do trabalho árduo e da análise meticulosa.

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Ao encerrar o evento, Buffett expressou seu desejo de ver todos novamente no próximo ano, inclusive ele mesmo, que então terá 94 anos. Sua perseverança não apenas em investir, mas em educar e orientar a próxima geração de investidores, permanece tão vital quanto sempre.

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Tiago Reis

Tiago Reis, analista de investimentos e fundador da Suno