A importância de agir na hora certa

Para fazer bons investimentos, é preciso lutar contra a impaciência e a procrastinação

Tiago Reis

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Investimento de Buffett na Coca-Cola é exemplo de como investir na hora certa (Bloomberg)
Investimento de Buffett na Coca-Cola é exemplo de como investir na hora certa (Bloomberg)

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No mercado, existe um grande enfoque sobre como o investidor deve agir, qual estratégia ele deve escolher, como ele deve selecionar ações etc. Porém, não se dá a devida importância sobre quando agir.

Conseguir atuar no momento certo é uma habilidade crucial que pode fazer toda a diferença em um investimento.

Os seres humanos têm duas características que prejudicam enormemente suas decisões: a impaciência e a procrastinação. A impaciência atrapalha situações que requerem espera, e a procrastinação atrapalha situações que exijam atitudes imediatas ou que piorem com o passar do tempo.

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A estratégia de maior sucesso na história requer muita paciência. Ela consiste em primeiro filtrar as empresas, observando se elas contam com uma administração ética e competente, um longo e positivo histórico de resultados, vantagens competitivas fortes e duradouras, em negócios rentáveis e fáceis de serem entendidos etc.

E somente depois verificar se aquelas que passaram por esse filtro estão caras ou baratas, realizando um valuation. Assim, mesmo que o investidor avalie que todas estão caras (caso extremo), ele poderá esperar uma oportunidade de compra.

Um dos maiores e mais famosos investimentos de Warren Buffett seguiu essa estratégia. Antes de investir na Coca-Cola, Buffett já estava de olho nas ações da companhia há anos, esperando uma oportunidade de preços atrativos.

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Em 1988, poucos meses após o crash do mercado da Segunda-Feira Negra de 1987, a oportunidade surgiu e Buffett não hesitou (nem procrastinou), comprando US$ 1 bilhão em ações da Coca-Cola.

Uma pesquisa de Reuben, Sapienzab e Zingales, descrita no artigo “Procrastination and Impatience”, de 2009, mostra que os humanos conseguem errar para os dois lados, ora sendo impacientes, ora procrastinadores. No estudo, um grupo de alunos de negócios teve de escolher entre receber um determinado valor no presente ou recebê-lo em duas semanas com um prêmio de pelo menos 2%.

O segredo do experimento foi pagar o valor antecipado em cheque e mensurar o tempo que os alunos levavam para descontá-lo. O resultado foi que a maior parte não só preferiu receber o valor antecipado, como demorou mais de duas semanas para descontar o cheque.
Essas pessoas poderiam ter esperado as duas semanas e recebido o prêmio de +2% ou ter descontado logo o cheque e se beneficiado com o consumo antecipado. No entanto, a maior parte foi impaciente e procrastinou, perdendo dos dois lados.

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Isso acontece porque o ser humano tem grande dificuldade em fazer decisões racionais e comparações de valor sobre objetos em momentos diferentes da linha do tempo.

Por exemplo: ao escolher o que comer no dia seguinte, entre uma fruta e um doce, a maioria das pessoas escolhe a fruta, refletindo a intenção de ter uma alimentação saudável. No entanto, ao ser perguntado o que escolheria comer agora, a maioria tende a optar pelo doce.

Há algumas estratégias que o investidor pode adotar para vencer a procrastinação. Uma delas é desenvolver o hábito de sempre separar o aporte mensal e investi-lo no mesmo dia em que se recebe o salário.

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Já a impaciência é um tanto difícil de contornar. Ao ver sua carteira performando abaixo do mercado por um ou dois anos, o investidor começa a duvidar da sua estratégia ou habilidade de executá-la, abandonando-a logo antes de ela começar a dar resultado.

Outros investidores ficam impacientes de esperar uma oportunidade de preço atrativo, principalmente se veem a ação disparando e os amigos enriquecendo. Por medo de ficar de fora, compram a ação por um preço caro, o que resulta em um investimento ruim.

Todos os investidores, sem exceção, estão sujeitos aos mesmos vieses e irracionalidades. O que diferencia os grandes investidores é a sua inteligência emocional. Como diz o bom velhinho de Omaha:

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“Investir não é um jogo em que o cara com QI de 160 vence o cara com QI de 130. Uma vez que você tenha uma inteligência comum, o que você precisa é de temperamento para controlar os impulsos que colocam outras pessoas em problemas para investir.”

Para fazer bons investimentos, é preciso resistir aos momentos de dificuldade e ao FOMO (fear of missing out, ou “medo de ficar de fora”) e manter o foco em sua estratégia, lembrando que ela é vencedora no longo prazo. Somente dessa forma o investidor conseguirá bater o mercado e multiplicar seu patrimônio.

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Tiago Reis

Tiago Reis, analista de investimentos e fundador da Suno