Reformas não passarão do jeito ideal, mas não é “fim do mundo”: as ações recomendadas neste novo cenário

Estrategistas de grandes bancos como Santander e Bradesco BBI revisaram recomendações de ações e destacam não estarem tão pessimistas em meio à turbulência política

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio ao cenário de turbulência política, as projeções para a economia já sentem o impacto: de acordo com o relatório Focus, que compila as expectativas de economistas para diversos dados da atividade,  a mediana das projeções para o PIB (Produto Interno Bruno) despencaram de 0,50% para 0,41% neste ano e de 2,40% para 2,30% no ano seguinte. Em decorrência do nível de atividade mais baixo, as projeções para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), recuaram de 3,90% para 3,71% em 2017 (veja mais clicando aqui).

Após a vitória de Michel Temer no TSE na última sexta-feira – mas sem representar o fim das batalhas políticas do presidente com a denúncia da Procuradoria Geral da República contra o presidente no radar, além de notícias sobre o desembarque do PSDB do governo -, o mercado passou a revisar o cenário de tramitação das reformas. A LCA Consultores aponta que, no ambiente no qual a prioridade política de Temer é se manter no cargo, coloca-se em segundo plano a reforma da Previdência. Para a consultoria, a aprovação da reforma, mesmo no segundo semestre e mesmo em versão ainda mais desidratada, tornou-se improvável.

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A consultoria de Eurasia Group, por sua vez, aponta que a reforma da previdência deve ser adiada e apenas uma versão diluída será aprovada. A consultoria prevê ruído político no próximo mês ou dois, mas acredita que Temer deverá sobreviver às acusações do PGR Rodrigo Janot e vê condições para que o presidente avance com as outras reformas, incluindo a trabalhista e “reformas microeconômicas críticas para atrair investimentos privados em setores de economia fortemente regulamentados”. 

Realocação existe, mas sem espaço para pessimismo

Neste cenário de maior cautela sobre a economia e de queda das projeções de inflação, enquanto há um reajuste sobre as previsões de reformas, o mercado revisa as suas apostas para o Ibovespa e também para a Selic, também ajustando o portfólio de quais ações devem se beneficiar com o ambiente que vem se desenhando. Porém, nem todos estão tão pessimistas. 

O Santander, por exemplo, não mudou sua expectativa para o Ibovespa em 2017, prevendo que o índice fechará o ano a 67.000 pontos, uma valorização de 7,70% na comparação com o fechamento da última sexta-feira (9). 

Os estrategistas do banco destacaram quatro pontos para seguirem com a recomendação neutra e perspectiva de que o Ibovespa atinja esse patamar no final do ano. Eles apontam que a sua equipe econômica vê a agenda de reformas como severamente adiada e com o mercado reduzindo as perspectivas de que a reforma da Previdência passe em zero no curto prazo.

Porém, há alguns motivos para eles não estarem underweight (exposição abaixo da média) com o Brasil. Em primeiro lugar, eles veem três pilares da antiga posição overweight (exposição acima da média), ao destacar que o valuation segue atrativo a um múltiplo de 11,1 vezes o preço sobre lucro, em linha com a média histórica, além de esperar uma alta de dois dígitos no lucro por ação nos próximos dois anos (de 14% em 2017 e de 25% ano que vem) e desalavancagem (de 12% na base anual). O múltiplo assume agora uma taxa de longo prazo de 11,5%, ante 10%, resultando no preço sobre lucro de 11,1 vezes ante os 13 vezes anterior. Além disso, há expectativa de uma realocação dos ativos domésticos.

Os estrategistas do Santander destacam quais são as ações para se investir nesse cenário: i) empresas bond proxies (com receitas resilientes e com alto pagamento de dividendos) e com uma boa gestão. O banco segue overweight em ações do setor de energia, seguidos por papéis de shopping center, destacando preferência por Energisa (ENGI11), Equatorial (EQTL3) e Iguatemi (IGTA3). Além disso, eles seguem positivos com bons nomes cícilos, caso de Localiza (RENT3), CVC (CVCB3), Lojas Americanas (LAME4) e B3 (BVMF3), além de ficar de olho em companhias com boa disciplina de capital, mantendo overweight em Itaúsa (ITSA4). Entre as “boas histórias de dividendo”, o Santander está mais positivo com players como a BB Seguridade (BBSE3).

Além disso, eles também destacaram que gostam de ter uma posição ao câmbio, com ações como Suzano (SUZB5), do setor de papel e celulose e Iochpe-Maxion (MYPK3), do setor industrial. “Nós sempre gostamos de ter algum hedge em câmbio, o que provou ser um bom colchão na alocação de carteiras. No entanto, o nosso portfólio ainda está mais inclinado para nomes cíclicos domésticos”, apontam os estrategistas. 

Os estrategistas Daniel Gewehr e João Noronha apontaram ainda gostar do valuation de algumas empresas públicas, mas reconhecem que elas “ficarão de lado” em meio ao noticiário conturbado, o que é o caso de Petrobras (PETR3;PETR4).

Velocidade mudou, reformas não

Ao fazer uma análise do ambiente político das últimas semanas, os estrategistas André Carvalho e Marina Valle também destacaram as suas projeções de ações tendo como base o cenário para as reformas e a turbulência que pode vir nos próximos dias. 

De acordo com Carvalho e Valle, as incertezas políticas têm mudado a velocidade do ajuste mas não a direção e, neste sentido, a queda de juros e a aprovação das medidas macroeconômicas devem ser catalisadores positivos para os ativos no Brasil. O Bradesco BBI aponta que os incentivos estão alinhados para acabar com a paralisia política em breve, com o congresso provavelmente aprovando medidas de ajuste macroeconômico e reformas nos próximos meses. Mais otimistas, eles apontam que há cinco reformas a serem aprovadas entre junho e setembro: a reforma trabalhista, MP que reduz desoneração tributária sobre folha de pagamentos, reforma da previdência, MP que cria novo REFIS e reformas políticas.

Sobre a tão esperada reforma da Previdência, os analistas esperam que a reforma seja aprovada entre agosto e setembro numa primeira votação na Câmara dos Deputados, precisando de 308 votos favoráveis para passar. O Bradesco BBI aponta que há expectativas de que pelo menos as aprovações da idade mínima e da regra de transição ocorram. 

Desta forma, os estrategistas esperam ver o Banco Central cortar a Selic abaixo do que o mercado espera, para 8% ao ano ainda em 2017, Neste cenário, eles chamam a atenção para três segmentos para se investir: (i) pagadores de dividendos altos em um cenário de queda da Selic, tendo em comum com o Santander a recomendação em B3 e BB Seguridade. As onze ações citadas pelo banco e apontadas em quadro abaixo têm  pago consistentemente dividend yield alto nos últimos 4 anos e com expectativa de continuar pagando nos próximos 3 anos, apontam os estrategistas. Segue a lista abaixo:

Entre as outras recomendações, estão em ii) ações alavancadas e iii) papéis relacionados ao ciclo de crescimento, com destaque para companhias de consumo discricionário, indústria e small caps. A equipe atualizou o portfólio em Brasil, aumentando a exposição a bancos, como o Itaú Unibanco (ITUB4),  e empresas com alta alavancagem, passando a ter exposição em Rumo (RUMO3) e excluindo a CESP (CESP6).  As recomendações de ações alavancadas e o portfólio para o Brasil seguem abaixo:

 

 Desta forma, apesar das turbulências políticas, os estrategistas seguem vendo boas oportunidades de investimento no Brasil – ainda mais levando em conta que, mesmo não sendo o cenário ideal, algumas reformas importantes vão passar. 

 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.