O começo de uma “nova era” impulsionará ou ameaçará uma das campeãs da bolsa de 2017?

Ao contrário do que poderia se pensar, fusão entre Locamerica e Unidas anunciada no apagar das luzes de 2017 pode ser positiva para a Localiza

Lara Rizério

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(Foto: Shutterstock)
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SÃO PAULO – O Insight do Dia começa o ano de 2018 com uma notícia do final de 2017, mas que promete agitar muito o setor de aluguel de carros e seminovos neste ano. Afinal, a novidade marcou “o início de uma nova era” para o segmento, conforme palavras do analista Murilo Freiberger, do Bank of America Merrill Lynch.

Trata-se do anúncio, na manhã do último dia 28 de dezembro, da proposta de fusão entre a Locamerica (LCAM3) e a Unidas. Um movimento parecido era esperado diante da perspectiva de consolidação dentro do setor no País, assim como ocorre nos EUA. Mas, mesmo assim, a reação do mercado foi muito positiva: desde a notícia, os ativos LCAM3 disparam 20% desde então.

Com a aquisição, que totalizará R$ 989 milhões (R$ 399 milhões em caixa e R$ 590 milhões através da emissão de 34,5 milhões de ações, valor considerado atrativo pelo Bradesco BBI), a Locamerica se torna o segundo maior player de aluguel de veículos no Brasil. “A transação faz sentido por uma perspectiva estratégica e de valuation, criando uma empresa maior e mais competitiva”, aponta o BofA.

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Conforme apontou a companhia em comunicado, após a conclusão da operação, a Locamerica-Unidas contará com uma escala diferenciada com mais de 100.000 carros, 234 lojas de locação de veículos, 72 lojas de seminovos e presença em todos os estados e no Distrito Federal.

“A pretendida combinação de negócios possibilitará uma conexão internacional,  considerando que a Unidas é a franqueada master no Brasil do maior grupo de locação do mundo, a Enterprise (franqueadora das marcas Alamo, Enterprise e National), com a possibilidade de acesso às melhores práticas do segmento.  Adicionalmente, os clientes da Locamerica passarão a ter acesso a uma rede de atendimento de aluguel de carros global”, aponta o comunicado. Para o BB Investimentos, as sinergias devem ser capturadas especialmente através da  maior escala para compra de veículos e ganhos significativos em otimização de processos e custos operacionais.

E como ficam as concorrentes?

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Mas engana-se quem pensa que a Localiza (RENT3), “queridinha do setor” e uma das estrelas da bolsa em 2017 ao subir 106%, poderá ficar para trás com esse movimento da sua concorrente. Isso porque a companhia continuará sendo a líder do mercado em um setor que pode sim acomodar três empresas fortes, aponta o Bradesco BBI, que inclui no radar a Movida (MOVI3).

“Acreditamos que a Movida e a Localiza podem crescer dois dígitos entre 2018 e 2019, sem um grande impacto nos preços, mesmo com o acordo anunciado. O setor ainda possui baixa penetração e é muito fragmentado no Brasil – as três maiores empresas representam apenas 44% da frota total do mercado, contra 93% nos Estados Unidos”, avaliam os analistas do Bradesco BBI.

Além disso, há um outro fator. Enquanto a Movida pode ter um incentivo com o movimento da Locamerica para acelerar a sua recuperação (a empresa teve que diminuir a sua velocidade de crescimento por conta de problemas com carros roubados, inadimplência, perdas com veículos danificados e baixa produtividade de seminovos) a Localiza, conhecida por sua execução de primeira linha, pode ter mais um motivo para pisar fundo no acelerador.

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“A Localiza terá uma janela de oportunidade de seis meses para acelerar o seu crescimento, uma vez que a Locamerica terá que digerir a aquisição da Unidas, enquanto a Movida terá que lidar com as suas questões internas”, completa o Bradesco BBI.

Os analistas do banco possuem recomendação neutra para as ações RENT3 e veem a Movida como a preferida do setor, principalmente levando em conta o valuation. Porém, isso está longe de ser uma unanimidade entre os analistas. Ao comentar a novidade no setor, o Bank of America Merrill Lynch reiterou a Localiza como a top pick, destacando três pontos principais para tanto: i) bom momentum para fortes lucros; ii) fundamentos fortes e iii) um ambiente de mercado benigno (que deve prosseguir mesmo com o acordo de sua rival, como já destacado acima).

Aliás, nos últimos dias de 2017, o UBS elevou a recomendação para os papéis da Localiza de neutra para compra, ao apontar que os fortes números apresentados pela companhia no terceiro trimestre de 2017 ainda não foram totalmente digeridos pelo mercado e o fato da companhia conseguir se beneficiar tanto de um cenário de fraqueza econômica (com os pequenos players deixando o mercado) quanto em um cenário de ânimo na atividade brasileira (já que o setor se beneficia da retomada econômica). As ações RENT3, por sinal, estavam na Carteira InfoMoney de dezembro (o portfólio de janeiro será revelado no InfoMoneyTV no próximo dia 8, às 15h30. Para conferir a carteira do mês anterior, clique aqui).

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Assim, ao contrário do que parece, a Localiza não deve se assustar com os movimentos da Locamerica. E isso se refletiu na bolsa: desde que o anúncio foi publicado, os papéis RENT3 já subiram 3%. Afinal, pelo que se desenha no mercado brasileiro, há muito espaço para as três maiores do setor se consolidarem – e os próximos seis meses podem deixar ainda mais evidente porque a Localiza se tornou a líder no segmento.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.