Fusão Kroton/Estácio: o “final de uma novela” que dará origem a 3 novas “minisséries” no setor de educação

Veto do Cade abriu um leque de possibilidade entre as principais empresas educacionais listadas em bolsa

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Uma das maiores novelas do mercado de fusões e aquisições brasileiro terminou na última quarta-feira (28). Mas, diferente do “viveram felizes para sempre” que um final de novela costuma trazer, o desfecho da fusão entre Kroton (KROT3) e Estácio (ESTC3) foi um divórcio antes mesmo do casamento. Essa foi a decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que vetou a fusão que daria origem a um dos maiores conglomerados do setor de educação mundial. Por conta deste final inusitado, o mercado começa a escrever o roteiro de 3 “minisséries”, com novas histórias que surgirão deste não-casamento entre Kroton e Estácio.

Em julho no ano passado, o conselho de administração da Estácio aceitou a oferta de compra feita pela Kroton por R$ 5,5 bilhões  – valor que seria pago via troca de ações (1,281 KROT3 para cada 1 ESTC3) e via distribuição de R$ 170 milhões em dividendos extraordinários, o equivalente a R$ 0,55 por ação da Estácio. Vale mencionar que essa foi a segunda proposta feita pela Kroton, já que em junho daquele ano havia oferecido 1,25 ação de sua emissão para cada papel da Estácio, mas sem pagamento de dividendo.

Contudo, devido ao alto nível de concentração de mercado que o negócios iria gerar, uma vez que estávamos tratando de nada menos do que as duas maiores empresas de educação do Brasil, o tribunal do Cade considerou que as soluções propostas não foram suficientes para mitigar os potenciais impactos na concorrência, em linha com o parecer emitido pela Superintendência-Geral do Cade em fevereiro deste ano. “Como a Kroton tem marcas fortes no presencial, Anhanguera e Pitágoras, por exemplo, que alavancam o EAD (ensino à distância), a preocupação é que a compra da Estácio lhe dará uma vantagem competitiva ainda maior”, afirmou Cristiane Alkmin, o único membro que votou a favor da fusão, mas com uma série de restrições. Para a aprovação do negócio, a Kroton teria de, entre outras coisas, vender seus ativos presenciais que somariam 124 mil alunos, além de alienar a marca Anhanguera, com um conjunto de ativos que soma 258 mil alunos.

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Para muitos analistas, a reação do mercado nesta quinta-feira (29) seria, no melhor dos mundos, neutra para Kroton e negativa Estácio, o que de fato ocorreu: Kroton encerrou o pregão em alta de 2,40%, cotada a R$ 14,50 por ação, enquanto Estácio recuou 2,04%, fechando a R$ 14,40. Antes da abertura do pregão, 3 grandes bancos de investimento rebaixaram a recomendação para as ações Estácio: JPMorgan, Credit Suisse e HSBC.

No caso de Kroton, os analistas “pegaram mais leve”: Bradesco seguiu com recomendação “neutra” para as ações e o HSBC reduziu para manutenção, enquanto Credit Suisse e Bank of America Merrill Lynch seguiram com recomendação “outperform” (similar à compra). No caso do banco suíço, a expectativa de que a companhia seguirá apresentando bons resultados e manterá sua posição de liderança, justificam o otimismo, ao ponto que consideram os papéis baratos no atual nível de preço.

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O atrativo risco retorno das ações também é destacado pelos analistas do Bank of America, que destacam que ainda existem ganhos de eficiência à capturar, como a implantação do KLS 2.0 (modelo acadêmico de ensino à distância implementada pela Kroton) e outras iniciativas de modelos acadêmicos até 2019, além da sólida posição de caixa que dá tranquilidade para novos investimentos. 

Com o fim desta novela, 3 novas minisséries deverão manter os investidores conectados ao setor de educação. Confira abaixo a “sinopse” de cada uma delas:

Ser ou não Ser: Estácio terá um novo amor?

Depois de ficar um ano travada por conta das negociações com a Kroton, a Estácio agora está livre para ser sondada e uma das fortes candidatas é justamente a Ser Educacional, que no ano passado travou uma disputa com a Kroton pela Estácio, mas sua oferta final de R$ 1 bilhão ficou bem abaixo do oferecido pela rival.

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E isso não é mera obra de ficção: em entrevista ao G1 nesta quinta-feira (29), o presidente da Ser Educacional, Jânio Diniz, afirmou “reavaliar com muito cuidado” uma possível união com a Estácio. “A Estácio tem que tentar criar seu próprio caminho e se for fazer parte de uma fusão, nós vamos avaliar, mas nesse momento não é o nosso foco principal”, afirmou. 

A possibilidade também foi ventilada pelos analistas do Santander: em relatório assinado por Bruno Giardino e Leonardo Olmos, uma potencial fusão com a Estácio seria benéfica para Ser Educacional, tendo em vista as sinergias dos negócios e o aumento de participação no mercado, principalmente no lado de EAD, linha de ensino que a Ser Educacional vem investindo nos últimos anos.

O Bank of America também tem preferência pelas ações da Ser não só pela oportunidade de negócio com Estácio, mas também pelo simples fato do veto do Cade ter afastado um forte concorrente – já que a fusão iria unir as duas maiores empresas do setor.

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A caça virou caçadora: Estácio vai às compras?

“Até o dia de ontem, só tínhamos uma prioridade: fazer o deal acontecer”. A frase de João Cox, presidente do conselho da Estácio, em entrevista à Bloomberg, resume bem esse último ano da empresa. Com o veto, a empresa, que antes era caça, agora virou caçadora e deve voltar as compras.

“Temos que voltar a fazer aquisições, mas de empresas substantivas, que façam diferença de market share”, afirmou Cox, que adiantou que a empresa já contratou um assessor financeiro para mapear o mercado atrás de uma presa.

Da mesma forma que manifestou sua intenção de compra, o time de análise do Bradesco vê a Estácio como um “alvo natural” para outros players, já que está negociando abaixo do seu preço justo em termos de valuation: “Estácio pode fornecer os melhores retornos para os investidores, seja por retornar aos seus fundamentos, como porque a empresa pode começar a receber novas ofertas [de compra]”.

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O dilema de Galindo: crescer sozinho ou procurar novas pretendentes?

A última novela do setor tem como protagonista o presidente da Kroton, Rodrigo Galindo, que tem um dilema para resolver: procurar uma nova pretendente ou buscar crescer organicamente? Por ser a maior empresa do setor, a empresa deve buscar empresas de menor expressão para não haver problemas de concentração de mercado novamente.

Ir novamente às compras não é uma possibilidade descartada pelo Credit Suisse, mas, os analistas lembram que a empresa tem um grande potencial sozinha. Inclusive, para o time do banco suíço, o principal caminho que a empresa deve tomar é o crescimento orgânico, a fim de se preparar para um maior nível de competição no EAD. Não por um acaso, o time reforçou sua recomendação de outperform (expectativa de desempenho acima do mercado), avaliando que o veto pelo Cade deve trazer pouco impacto para a Kroton e que o papel está barato no atual nível de preço, já que deve seguir líder do setor e apresentando sólidos resultados.

Prova de que crescer sozinha pode ser uma alternativa, a diretoria da Kroton resolveu “investir na empresa” e anunciou um programa de recompra nesta manhã. O programa, que tem prazo de até 18 meses e teve início nesta quinta-feira, tem como objetivo de recomprar até 48.773.702 ações ordinárias, montante que equivale a 3% dos papéis em circulação.

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