Fazer diferente, mas sem mudar nada: o grande desafio que o novo CEO da BRF enfrentará

Escolha do novo CEO, José Aurélio Drummond Jr, deve representar um importante catalisador para a companhia, mas ele terá que apaziguar os ânimos entre os acionistas e impulsionar a execução na BRF

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Uma nomeação esperada mas, que nem por isso, deixou de marcante para o case de investimentos da BRF (BRFS3). Após quase dois meses de indefinição depois do anúncio da saída de Pedro Faria da presidência da companhia em 2018, o Conselho de Administração elegeu na última quarta-feira (22) José Aurélio Drummond Jr. como o novo CEO global. 

O currículo mostra a grande experiência de Drummond. Ele é graduado em engenharia pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI-SP), pós-graduado na Wharton Business Scholl e atuou como presidente em empresas como Whirlpool, Alcoa e Eneva (ENEV3). 

Ele é conselheiro da companhia desde abril e a perspectiva é de que a sua gestão reflita continuidade da atual estratégia da empresa – e essa passou a ser a grande questão para o mercado. Afinal, a companhia está no caminho certo após tempos difíceis ou é a hora da virada total para a BRF?

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Para ressaltar o quão importante é essa pergunta para a empresa, vale destacar os bastidores sobre a escolha de Drummond. O executivo recebeu o apoio de Abílio Diniz, presidente do Conselho, e da Tarpon, fundo em que Pedro Faria estava antes de assumir o cargo na BRF. Se a saída de Faria foi conturbada após os maus resultados apresentados pela empresa de alimentos (em 2016, a BRF registrou o seu primeiro prejuízo da história, de R$ 372 milhões), a sua substituição não foi menos atribulada, conforme destacou a Folha de S. Paulo em matérias antes do anúncio do novo nome. 

De um lado, Abílio e a Tarpon. De outro, os fundos de pensão Petros (Petrobras) e Previ (Banco do Brasil), que resistiram à escolha de Drummond por sua proximidade com o empresário e a Tarpon. Conforme apontou o jornal, a avaliação dos fundos de pensão é de que a BRF precisaria de uma mudança bastante forte de gestão após os sucessivos prejuízos, mas não teve forças para resistir à influência de Abilio, que é muito grande. 

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Agora, aponta o jornal, que conversou com pessoas ligadas à empresa, um grande desafio (ou principal) de Drummond será apaziguar os ânimos dos diferentes acionistas. E esse foi o principal ponto “negativo” da escolha do novo CEO: mostrou que o Conselho está dividido em dois grupos de poder em que o liderado por Abilio está tomando a maioria das grandes decisões, ao mesmo tempo em que havia algumas especulações de um “nome mais forte”, como o do ex-CEO da Ambev João Castro Neves poderia assumir a presidência da companhia. 

Continuidade não é ruim, pelo contrário…

De qualquer forma, a ideia de continuidade não é algo visto como negativo pelos analistas do mercado, pelo contrário, ainda mais levando em conta que a BRF começou a reverter os resultados negativos no terceiro trimestre. 

Segundo os analistas do BTG Pactual Thiago Duarte e Vito Ferreira, é bom que a BRF não esteja passando por outra grande mudança estratégica, especialmente quando é crescente a impressão de que o foco precisa ser a execução – e não a estratégia. Para o Credit Suisse, o fato de Drummond ser menos “disruptivo” pode ser importante em um momento em que a BRF ainda tem que enfrentar uma quantidade de desafios considerável pela frente.

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De qualquer forma, aponta o banco suíço, a perspectiva para BRF deve melhorar, beneficiada principalmente pela expansão dos lucros em função de uma queda nos preços de grãos e uma estrutura administrativa mais enxuta.

Entre os desafios, os principais a serem enfrentados são: i) entregar ganhos de participação no mercado doméstico, ii) expansão de margem bruta, iii) lançamento de uma “marca de combate no Brasil”, iv ) normalização do resultado de Onefoods e v) desalavancagem.

Se a escolha foi recebida com certa neutralidade pelo mercado (as ações da BRF operam próximas à estabilidade nesta quinta-feira), a avaliação é de que ela pode, finalmente, destravar o valor da BRF na bolsa. “As discussões de mudanças na administração impediram a alta das ações. Agora, com a escolha do presidente feita, ‘esperamos que os fluxos
de notícias relacionados à governança corporativa permitam que as ações atinjam todo seu potencial'”, aponta o BTG Pactual, que possui recomendação de compra para os papéis da empresa. 

Outra casa de análise a reiterar visão positiva é o Bank of America Merrill Lynch, que possui um preço-alvo de R$ 55 para os ativos BRFS3 – configurando um potencial de 33,53% em relação ao fechamento da última quarta-feira (22). Em meados de novembro, os analistas do banco apontaram que o sell-off para os papéis da companhia depois do resultado do terceiro trimestre, apresentado no último dia 9 de novembro, era injustificado (no período, as ações passaram de R$ 43 para a casa dos R$ 41).

Os números para a companhia no período foram considerados positivos, mas algumas linhas do balanço, como a margem bruta, decepcionaram, levantando preocupações sobre a recuperação apesar dos dados consolidados terem vindo em linha com a expectativa do mercado. Somada à indefinição sobre o CEO, os papéis seguiram em queda na bolsa. 

Mas agora, após o anúncio do novo presidente da companhia, os analistas do BofA preveem que o quarto trimestre deverá ser um catalisador importante para os papéis, pois é  sazonalmente um trimestre muito forte. A expectativa do banco americano é de que a expansão da margem Ebitda (relação entre o Ebitda e a receita líquida) volte para a média histórica de 300 pontos-base de alta na comparação trimestral. A expectativa é de que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) suba 45% no ano que vem. 

A expectativa é de que 2018 seja um ano forte, dada a melhor combinação macroeconômica, melhor mix de produtos e maior alavancagem operacional. Por fim, nos atuais múltiplos, de 8,7 vezes o EV/Ebitda (onde: EV = Enterprise Value, ou Valor de Mercado + Dívida Líquida) esperado para 2018, há um desconto de 15% frente à média histórica. 

Pelo exposto acima, Drummond terá muitos desafios à frente da BRF. Contudo, com a estratégia da companhia já encaminhada, o maior deles pode ser conter os ânimos entre os acionistas da BRF. De qualquer forma, uma incerteza foi eliminada com a sua escolha e, com a perspectiva de um 2018 mais positivo, a empresa de alimentos pode finalmente atingir seu potencial acima. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.