Por que falar sobre dinheiro é o maior tabu de todos – e como mudar isso

O tabu sobre dinheiro acaba nos mantendo ignorantes sobre como lidar melhor com ele

Thiago Godoy

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Você sabia que falar de dinheiro é o maior tabu entre todos os tabus? Segundo um estudo do banco Wells Fargo, realizado nos Estados Unidos, falar sobre dinheiro é mais difícil do que falar sobre sexo, morte, religião e política.

E é justamente pelo fato de ele ser um enorme tabu que o dinheiro acaba virando um problema na vida de muitas pessoas.

Pois não querer falar sobre dinheiro não faz as preocupações financeiras desaparecerem, pelo contrário.

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Quase metade das pessoas que responderam a essa pesquisa afirmaram que o dinheiro é o maior estresse em suas vidas.
As brigas por conta de dinheiro, por exemplo, são a maior causa do divórcio entre casais.

Aproximadamente um terço das pessoas afirmaram perder o sono por se preocupar com dinheiro.

Outra descoberta dessa pesquisa é que, quando foram questionados sobre o que fariam de diferente se pudessem voltar no tempo, a maioria dessas pessoas disse estar profundamente arrependida de seus comportamentos financeiros durante a juventude.

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Elas se queixaram mais de sua incapacidade de economizar e gastar com sabedoria do que de seus erros em outras áreas da vida – como saúde física ou relacionamentos pessoais.

Ora, se as pessoas estão mais preocupadas com a sua saúde financeira do que com a sua saúde física, por que elas se matriculam em academias de ginástica caras e gastam fortunas com dietas milagrosas, mas ainda são incapazes de se organizar financeiramente?

Quando uma pessoa está fora de forma, entende que comer bem e se exercitar vai resultar em um corpo mais saudável. Mas, com o dinheiro, parece que ainda não funciona assim.

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As pessoas não entendem que é importante desenvolver um plano, controlar os gastos, poupar uma parte do que se ganha e, principalmente, não se enrolar em dívidas!

A maioria das pessoas não desenvolve um roteiro para melhorar a sua saúde financeira.

No Brasil, o caso é ainda mais grave e os números não mentem. São mais de 60 milhões de CPFs negativados e um dos menores índices de letramento financeiro no mundo: apenas um terço dos nossos adultos sabe identificar os conceitos mínimos de inflação e de juros compostos.

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No Pisa, a avaliação internacional que mede a proficiência dos estudantes, estamos entre os últimos em educação financeira.

Temos um imenso contingente de jovens que não sabe sequer tomar simples decisões financeiras, como elaborar uma lista de supermercado.

O tabu se reflete em questões culturais. Como já falei em outro artigo, passamos nossa vida escolar inteira sendo estimulados a aprender e buscar uma profissão que no futuro nos faça “ganhar” dinheiro, mas em momento algum da nossa juventude aprendemos a efetivamente “usar” bem esse dinheiro.

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A bem da verdade, nós até falamos sobre dinheiro, mas simplesmente não tocamos no que verdadeiramente importa sobre ele.

É normal que alguém fale sobre as coisas que compra, onde estudou ou com o que trabalha. No fundo, essas são informações importantes para posicionar uma pessoa em uma determinada classe social.

Nós ficamos, então, na superficialidade. Porque, no fundo, as discussões diretas e transparentes sobre dinheiro podem produzir uma certa tensão social.

O dinheiro acaba ficando preso a todos os tipos de problemas morais e se torna um tabu porque sua tarefa especial é traduzir qualidades em quantidades.

Será que perguntar a uma pessoa o quanto ela ganha é considerado um tabu porque você está indiretamente questionando o seu valor pessoal?

O dinheiro acaba sendo um assunto delicado para muitos de nós e é fonte de conflitos e ansiedades.

Mas o que acontece na prática é que o tabu sobre dinheiro acaba nos mantendo ignorantes sobre como lidar melhor com ele.

Ele acaba impedindo que as pessoas encontrem um lugar apropriado para o dinheiro em suas vidas, que equilibrem suas necessidades financeiras com outras necessidades, como amor, família, trabalho, e principalmente, saúde física e emocional.

Esse tabu pode alimentar em nós uma falsa impressão de que mais dinheiro pode nos tornar mais felizes.

Pode nos fazer pensar que não merecemos muito dinheiro, ou que o dinheiro é algo sujo. Pode reforçar relações de poder em um casamento onde o homem costuma querer controlar o dinheiro.

Pode nos fazer vincular dinheiro à soberba, a status, e bloquear o que ele verdadeiramente pode trazer: o equilíbrio de uma vida financeiramente saudável.

Portanto, comece a quebrar esse tabu falando de dinheiro. Comece com seus amigos mais próximos e com seus familiares, abrindo a conversa com tópicos menos assustadores.

Tenho certeza de que você consegue, por exemplo, contar para o seu tio sobre aquele investimento com maior rendimento que a poupança que você acabou de descobrir.

Prepare-se para se mostrar um pouco vulnerável, principalmente com alguém em quem você confia. Talvez seja bom compartilhar um erro financeiro que você teve recentemente.

Concentre-se nos comportamentos, sentimentos e resultados, e tente manter a conversa sem julgamentos.

Lembre-se que, se você tiver alguma dúvida ou preocupação sobre dinheiro, as pessoas que você conhece provavelmente também terão.

E todos se beneficiarão dessa conversa tanto quanto você. Dê o primeiro passo e comece a falar de dinheiro, é mais fácil do que você pensa.

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Thiago Godoy

É head de educação financeira da XP Inc. e especialista em psicologia do dinheiro e bem-estar financeiro. É mestre pela FGV – Tese em Educação Financeira, especialização em Sustentabilidade (University of British Columbia), tem MBA em Marketing (FGV) e graduação em administração (UFJF). Foi diretor de mobilização de recursos e relações governamentais da Associação de Educação Financeira do Brasil, atuando especialmente com populações de baixa renda e escolas públicas. Também atuou com desenvolvimento institucional na Dialogue Direct e Children International (EUA), Fundação Vida Plena (Bolívia), Projuventude e Comitê para Democratização de Informática (Brasil). Instagram: @papaifinanceiro