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Um dos conceitos mais famosos em economia é a Paridade de Poder de Compra (PPC), uma medida muito inteligente que foi desenvolvida pelo economista suíço Gustav Cassel [1] no início do século passado.
Basicamente sua motivação surgiu pelo fato de o Produto Interno Bruto (PIB) ser ao mesmo tempo uma excelente medida para mensurar o valor gerado individualmente pelas economias, mas não ser totalmente fidedigno quando analisado de forma relativa, ou seja, quando comparamos economias ou países diferentes.
O fato ocorre porque, mesmo quando convertemos os valores monetários para a mesma moeda – normalmente para o dólar – esta não descreve com precisão as diferenças em prosperidade material, do poder de compra ou custo de vidas específicos.
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Entendendo que o custo de vida é variável e a valorização do salário/preços em comparações difere por fatores como a inflação interna, preços de importação ou produção e diferentes impostos.
O arcabouço teórico da PPC advoga que no longo prazo a taxa de câmbio real deve refletir os preços relativos de duas moedas, baseando-se na “lei do preço único”, no qual em condições especificas de livre mobilidade de fatores, a arbitragem trará os preços de um mesmo bem em dois países para o mesmo valor.
Assim “bens idênticos vendidos em países diferentes devem ser vendidos pelo mesmo preço quando seus preços são expressos em termos da mesma moeda” [2]. Então, quando queremos comparar duas ou mais economias, são escolhidos alguns produtos que em tese formariam uma “cesta internacional”.
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Para cada país, o preço desta cesta em moeda local é comparado ao preço da mesma cesta em dólares americanos.
A partir destes fundamentos, a revista The Economist em 1986 criou o The Big Mac Index, indicador que coleta dados de mais de 59 países responsáveis por 94% de toda a produção do planeta, afinal a famosa iguaria é vendida praticamente nos quatro cantos do mundo da forma padronizada, o que vem ao perfeito encontro da teoria do PPC.
O index ou “burgernomics” como também é conhecido, se tornou uma referência global na área, incluído em vários manuais de economia e papers científicos.
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A lógica do indicador em uma primeira vista é simples: se o preço médio de um Big Mac nos EUA é de 3 dólares e no Brasil é de 18 reais, então 1 dólar é equivalente a 6 reais, e que, portanto, o real está 83% desvalorizado em relação ao dólar – sempre lembrando da teoria do preço único para o mesmo bem, no caso o Big Mac.
O indicador é atualizado a cada semestre, e publicado no site oficial da revista, e pode ser analisado de forma completa: tanto em dólares, euros, iene, yuan e também por região e por PIB per capita. Interessante analisarmos a última medição publicada.
O Índice assim oferece de forma simples uma verificação da competitividade da moeda, e é possível notar que todas as moedas estão subvalorizadas em relação ao dólar, principalmente considerando o cenário recente de Brexit, políticas de expansão monetária promovidas pelo Banco Central Europeu e possível alta das taxas de juros norte americanas.
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O euro aparece com uma desvalorização de 16,8%, o iene de 35,5% e os casos mais extremos de moedas que sofreram superdesvalorização recente, como Argentina (64,1%) e Turquia (64,2%).
Na outra ponta temos apenas três países, Suécia (sobrevalorizado em 4,6%), Noruega (5,0%) e Suíça (18,7%). O real brasileiro, por incrível que pareça, é uma das moedas mais próximas do seu valor justo segundo o Big Mac Index, com desvalorização de 18,5% (entre Israel e Austrália).
Outra analise interessante é a projeção se consideramos a situação hipotética/bizarra de que todo o PIB fosse gasto em Big Macs, mostrando assim o tamanho de cada economia em termos de PPC de dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles num pão.
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Assim, diferentemente do que se observa da medida tradicional, a China figuraria como a maior economia do mundo, com mais de USD 3,9 tri, por conta de seu Big Mac estar “mais barato” (o que na verdade é um reflexo de uma série de fundamentos como custo da mão de obra, nível de salário, inflação, etc), fato que já ocorre desde 2013, mas que não é evidente quando comparamos os países sob a ótica tradicional do PIB em USD, onde o EUA é a maior economia do mundo.
Por fim, o relatório também modela a relação existente entre preço do Big Mac vs PIB per capita, na qual países com maior renda tendem a apresentar maior valor no lanche…. Quem nunca foi a Zurique ou Oslo e se surpreendeu com o custo de vida?
Nota-se também uma nuvem de países de menor renda mais próxima ao eixo inferior e países desenvolvidos mais a cima da reta. O Brasil sempre figurou com um outlier, apresentando preço do hambúrguer de países desenvolvidos porém com renda de país pobres
Assim como a própria metodologia do índice descreve, as limitações de suas analises é sabida e ele não se propõe a ser um indicador exato do descasamento cambial, mas fato que já está a anos no mercado como medida padrão para diversas analises, e justamente por ser uma estimativa de preços, muitos analistas hesitam ao utilizar apenas o PPC como referência, sabendo que produtos nem sempre flutuam em nível uniforme, e que os padrões de compra e bens disponíveis se alteram de país para país.
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Além dos “saborosos” hambúrgueres do tio Ronald, também existe o Índice iPhone, bem como outros que comparam salários ao redor do mundo, fato é que o PPC é uma interessante medida analítica entre economias e lança luz sob essa grande efervescência que é o mercado de moedas globais e sua enorme complexidade.
Notas
[1] Theory of Social Economy, Gustav Cassel: https://mises.org/library/theory-social-economy
[2] Para mercados com concorrência, livre de custos de transporte e barreiras oficiais de comércio, para mais detalhes: http://www.ufrgs.br/decon/VIRTUAIS/eco02006a/paridadepodedecompra%20Somente%20leitura.pdf
[3] Site oficial do The Big Mac Index: http://www.economist.com/content/big-mac-index
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