Quem tem medo do urso? Sombra da recessão cobre oportunidades de geração de riqueza

Diante da perspectiva de recessão econômica global, é importante lembrar que o segredo para construir riqueza a partir de momentos turbulentos é o longo prazo, aliado a acúmulo de caixa, disciplina nos aportes, portfólio diversificado e equilíbrio entre setores na carteira

Rodrigo Almeida

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Se você acompanha minimamente o mercado financeiro ou a política internacional pelas redes sociais, seja seguindo os influenciadores do segmento ou mesmo a grande mídia, torna-se impossível não ter ouvido o termo recessão e todo o medo que esta gera. É sombrio, remete a tempos anteriores, em que a humanidade em geral se viu em becos sem saída, em cenários de cobertor curto e consequências terríveis para os povos do mundo moderno.

O surgimento de momentos como esses se mostram cíclicos. A economia mundial apresenta pontos altos (bull market) e baixos (bear market). Contudo, as consequências de cenários adversos como estes, tão comentados recentemente, são devastadoras: desemprego, fome, preços atingindo patamares exorbitantes e, muitas vezes, revoltas populares eclodindo nas ruas das principais cidades do mundo.

Este é o cenário que se imagina possível quando rumores de recessão são ventilados por aí. Desde a Segunda Guerra Mundial, houve 13 momentos de recessão, sendo três deles apenas no século 21 – com o fim da bolha tecnológica em 2001, subprimes imobiliários em 2008 e a pandemia em 2020.

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A possibilidade de uma nova crise é iminente. É só observar estudos que vêm sendo propagados por autoridades econômicas tais como Citibank, Moody’s Analytics e Bank of America que estimam probabilidades entre 40% e 50% de um novo período de recessão para os próximos dois anos.

A ameaça é fruto de um cenário que se originou no início de 2020 com a pandemia tomando uma proporção insustentável de proliferação do coronavírus entre a população, expondo a incapacidade dos sistemas de saúde de lidar com a situação. Mesmo que não tão letal, comparada a outras enfermidades, a Covid-19 apresentou grau elevado na velocidade de contaminação das pessoas. Esse novo cenário obrigou os governos a decretarem lockdowns e medidas restritivas de comércio, cada um à sua maneira.

Desde então, a limitação de produção, somada à retração de demanda, produziram efeitos inflacionários que, mesmo após dois anos de início, não conseguiram ser controlados de forma orgânica pelos reguladores econômicos.

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Se não bastasse os efeitos da pandemia, o mundo assiste agora a uma nova guerra envolvendo não apenas Rússia e Ucrânia, mas também toda comunidade mundial. Chegou-se a cogitar que uma terceira guerra mundial se iniciaria com a tensão entre Otan e Rússia. Em termos econômicos, isto resulta em mais uma origem de inflação, com o aumento de preço de commodities liderados pelo setor de combustíveis, sem a normalidade de fornecimento de gás natural russo para a Europa.

O valor do petróleo também foi alterado de forma significativa, devido à importância da produção russa, sendo atualmente o segundo maior produtor da commodity no mundo. Mesmo antes da invasão da Ucrânia, a oferta mundial desse bem já não era suficiente para suprir a demanda da tentativa de retomada da atividade econômica pós-pandêmica. Assim, observou-se uma elevação da casa dos U$ 80 até um pico de U$ 127 em março de 2022, sendo comparado às crises anteriores de fornecimento do produto na época de crise árabe de petróleo.

Até mesmo Elon Musk, atingindo por vezes o posto de pessoa mais rica do mundo, declarou que tem um péssimo pressentimento sobre a economia mundial e que possivelmente cortaria vagas em seu conglomerado de empresas. Outros representantes de fundos de investimentos pelo mundo apenas discordam em qual ano do próximo triênio o impacto maior ocorrerá.

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Tal conjuntura forçou os bancos centrais pelo mundo a subirem os juros, principalmente na Europa e Estados Unidos – e claro, aqui no Brasil. A alta dos juros é ferramenta primária de arrefecimento da inflação, porém produz efeitos como esfriamento da economia por conta do desestímulo de consumo, além de encarecer o crédito fornecido às empresas. Isso ocasiona maiores dificuldades para projetos de expansão empresarial.

A elevação dos juros pelo Fed (banco central americano) e outras autoridades monetárias provocará uma desaceleração conjunta global. Obviamente, não será diferente no nosso país, onde a subida de juros iniciou bem antes, em janeiro de 2021. Desde então, a SELIC foi elevada da casa dos 2% até os 13,75% ao ano, sendo uma das maiores elevações sob ótica temporal da história brasileira.

Para piorar a situação, países como o Brasil estão mais expostos, principalmente pelo risco fiscal, que parece simplesmente aumentar com posturas favoráveis à flexibilização do teto de gastos públicos pelo governo atual e propostas de outros candidatos à sua revogação total. A Faria Lima, em tom jocoso, já se propõe a rir dos principais presidenciáveis quando diz que, de um lado se quer dobrar a lei, e do outro acabar com ela.

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O cenário parece ser dominado por uma profecia de Cassandra, personagem da mitologia grega com a mania de prever catástrofes como a queda de Tróia, sendo desacreditada e taxada como louca pelos monarcas da época. Mas será que realmente se deve tomar postura defensiva e ceder ao tentador impulso de recorrer à cautela extrema e se entregar à simplicidade da renda fixa?

De fato, recorrer a estratégias em que a renda fixa se torna protagonista na carteira de investimentos, em momentos como os atuais, é o mais óbvio e tentador à primeira vista. Contudo, ao analisarmos a amostra de investimentos em momentos similares, torna-se inegável a importância de se ter um gerenciamento de caixa e pragmatismo das teses de investimento para otimizar a sua carteira. A escolha por ferramentas, tais quais títulos públicos e privados de renda fixa, não é errada por si só. Assim como qualquer outra ferramenta de investimento, tem sua devida importância e momento de uso, como qualquer outro, desde que utilizada da maneira e na dose correta. Afinal, o que pode matar é a dose e não o remédio em si.

Então como proceder ante essas perspectivas?

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Primeiramente, deve-se observar que toda crise proporciona chances únicas para se encontrar valor. Um dos principais pensadores do mercado, Gustavo Cerbasi, diz que “enquanto alguns lamentam a crise, outros aproveitam as oportunidades e enriquecem”. É o famoso “alguns choram e outros vendem lenço”. Uma frase que se atribui a Warren Buffet diz que “preço é o que se paga e valor é o que se leva”. Sendo assim, a volatilidade ocasionada em momentos como este proporciona oportunidades de investimento.

Conforme se percebe no gráfico do índice Ibovespa, momentos de crise precedem expressivos momentos de retomada econômica. Foi assim no rompimento da bolha da internet (2001), na crise imobiliária americana (2008) e na pandemia (2020), por exemplo.

Embora seja um instinto de proteção básica do ser humano observar o perigo e se afastar o máximo possível dele, situações de queda vertiginosa dos preços dos ativos se tornam melhores momentos para novas aquisições, desde que sejam avaliadas da maneira correta e encontrado valor em meio à irracionalidade do mercado.

Ao observarmos janelas de dez anos do índice Ibovespa, sempre há lucro. Isso evidencia o poder da visão de longo prazo nos investimentos. Isso se dá pelo fato de que a sociedade como um todo tende a criar novas maneiras de consumo por meio da inovação tecnológica, mesmo que se apresentem crises passageiras.

A evolução humana desencadeia maneiras de gerar valor, com custos menores de produção e rentabilidades mais altas. A produção de riqueza é acentuada conforme o tempo passa, sendo esta, exponencial. Esse efeito, torna as momentâneas crises meras pedras no caminho da geração de riqueza.

Ótimos exemplos disso foram dados pela Berkshire Hathaway, de Buffet, quando efetuou a compra do Banco Wells Fargo pela metade do valor de mercado nos anos 1980, a compra de 5 bilhões em ações da Goldman Sachs quando seu preço caiu quase pela metade, e a compra da empresa de energia Constellation por quase um quarto do seu valor ao final de 2007.

Obviamente nada disso seria possível caso não houvesse disponibilidade de caixa para Buffet. Nenhum movimento para se adquirir empresas com valor e preço descontado se faz possível sem que haja planejamento de geração de caixa suficiente. Logo, só se torna possível gerar riqueza nas oportunidades da crise enquanto o investidor se planeja para manter um caixa saudável através de reinvestimento de dividendos gerados pela própria carteira e de sua força de trabalho principal.

Sendo assim, qual o segredo para construir riquezas a partir de momentos turbulentos? Longo prazo. O acúmulo de caixa, disciplina nos aportes, portfólio diversificado, equilíbrio entre setores na carteira, e , novamente, longo prazo. A somatória destes elementos formam o playbook ideal para enfrentar momentos de pessimismo e criam a estratégia ideal para aproveitar as inúmeras oportunidades de enriquecimento que apenas cenários de crise proporcionam.

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Rodrigo Almeida

Consultor de Investimentos na Suno Consultoria. Formado em Engenharia Mecânica pela Universidade de Brasília e Agente Autônomo de Investimentos pela Ancord. Apaixonado pelo mercado financeiro e de capitais, acredita na análise de dados aliada à percepção de necessidade personalizada de cada cliente. Atua como consultor de investimentos com o objetivo de disseminar conhecimento financeiro, bem como ajudar as pessoas a investirem melhor, com foco no longo prazo, para atingir a sonhada independência financeira.