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Semana passada escrevi que poderemos ter uma surpresa positiva no crescimento de 2019, caso reformas econômicas sejam aprovadas. O potencial para a expansão cíclica de 2019 é grande, como tentei mostrar. Como a atividade econômica afeta as perspectivas para inflação ao longo do tempo, permaneceu a dúvida sobre quais os impactos desse cenário otimista para a taxa de juros?
Para responder essa pergunta, precisamos ter uma projeção para o crescimento potencial da economia brasileira, ou seja, um ritmo de expansão tal que o uso dos fatores não levaria a um aumento na inflação. De maneira mais clara, um crescimento em que o uso do capital e do trabalho estaria no maior nível possível sem gerar uma espiral de alta na inflação. Essa estimativa é feita de diversas maneiras, mas para simplificar utilizei os dados públicos do IPEA para um histórico da PIB potencial e uma projeção de crescimento de 2% ao ano nos próximos anos. Nesse caso, ao crescer 4,5% por dois anos consecutivos estaríamos crescendo acima das “nossas capacidades”, gerando consequências para a inflação.
Dado que estamos vindo de uma forte recessão, o hiato de crescimento (a diferença entre o efetivo e o potencial) está negativo. Simulei os próximos anos com uma forte expansão e observei quando esse hiato seria fechado, reduzido ao longo do tempo. O gráfico abaixo explicita as dinâmicas de fechamento do hiato.
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Nesse processo de redução desse hiato é que o Banco Central precisa começar a reagir com a política monetária para evitar inflações mais altas nos próximos anos. Como as altas de juros agem com um lag, uma defasagem, uma política monetária prudente sugere que o Banco Central não espere o fechamento por completo do hiato de produto.
No cenário base, a taxa Selic deveria subir para entre 8,0% e 8,5%, dos atuais 6,5%. O processo poderia ser gradual e começar somente ao longo do segundo semestre de 2019. Já no cenário otimista, nossas simulações apontam para a necessidade da taxa Selic atingir um patamar entre 9,5% e 10%. Nesse caso, o fechamento mais rápido do hiato levaria à necessidade de começar o ciclo de altas de juros já na primeira reunião de 2019, afim de evitar movimentos mais abruptos posteriormente. Ainda assim, não seria um ciclo de aperto monetário traumático e não difere muito do que a curva juros já precifica.
Em resumo, a relação entre atividade e inflação é uma importante variável para determinar os diferentes patamares de taxa de juros. Há inúmeras outras variáveis que entram na conta, como ancoragem das expectativas, choques exógenos (quebra de safra que aumente o preço de alimentos, alta de preço do petróleo nos mercados globais por questões geopolíticas, entre outras) e dinâmica da taxa de câmbio. O objetivo dessa coluna foi buscar a relação do cenário mais otimista traçado na coluna anterior com a taxa Selic. Assim, uma recuperação mais forte da economia levaria o Banco Central a subir a taxa básica de juros. Ainda assim, a dinâmica observada seria gradual e sem choques, para patamar ainda historicamente baixo.
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