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Caros(as) leitores(as),
Definitivamente não existe capital de longo prazo no Brasil. Esse bolso “respira por aparelhos” e é marginal.
Eu não me importo quem você seja: investidor individual pessoa física, cliente “private”, instituição ou mesmo a tesouraria de um banco. Com algumas exceções, vocês não têm estômago para lidar comigo quando o custo de oportunidade de curto prazo é alto.
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Aliás, para ser sincero, acho “bonitinho” como vocês maquiam investidores de patrimônio mais relevante como grandes profissionais e “fazedores de conta” – essa é uma das maiores falácias que eu já ouvi.
Eu explico: todos vocês, sem exceção, são seres humanos. Por mais que vocês se dediquem aos investimentos, estudem vieses e comportamentos, não é possível transformar tudo em metal sólido sem conteúdo biológico.
Os investidores de varejo, que são considerados muitas vezes os menos educados, constantemente tomam decisões erradas por falta de tecnicidade, certo?
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Mas e os clientes de alta renda? Grandes famílias? Eu cansei de observar histórias sobre solicitações de resgate em estratégias de longo prazo em poucos meses.
As instituições? Bom, em sua grande maioria, o processo de investimento é mais amarrado e, além disso, são regulados – contudo, no fim do ano, todos os times de investimento dessas instituições são veementemente cobrados por suas respectivas lideranças e diretorias.
Se os resultados estiverem positivos, no máximo recebem um obrigado. Caso os números sejam vermelhos, serão pressionados por seus empregadores e gerentes.
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Mas e as tesourarias dos bancos que alocam os recursos do próprio banco? Aquela vontade de “matar no peito” o risco como acontecia em casas como o Banco Garantia acabaram a partir do momento que os principais “players” são listados – trimestralmente reportam seus resultados e não podem sujar seus balanços.
Embora não esteja aqui, como fica o estrangeiro? Para ele, o Brasil é um “trade” – ou você acha que ele vai investir pensando em 10 anos num país que, no passado, não cresceu nada e possui uma situação de endividamento público terrível?
“Beleza Sr.Mercado, mas e os fundos? Eles não se vendem como ‘longo prazistas’ e fundamentalistas em alguns casos?”
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Sim, e vou te dizer, muitos querem muito fazer isso. O grande problema é que as vezes você é o cliente, o passivo, o cotista – você não aguenta 6 meses de “cota feia” e já quer resgatar o dinheiro – se ele não se preocupar com essa informação, toma resgates até ser reduzido a cinzas.
“Tá, mas e os alocadores?”
Bom, esse deveria ser o papel deles, não é? Concordo, mas novamente, você é o cliente e, se o seu alocador apresentar resultados ruins por uma janela muitas vezes não maior que semestral, você já ameaça encerrar o mandato.
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No fim do dia, não há capital de longo prazo. Não precisa ser gênio para entender isso, basta observar o comportamento do fluxo de capital no Brasil – vocês compram quase tudo na hora errada, nos preços errados.
Por quê? Falta educação financeira no Brasil. A culpa não é do assessor, não é do banqueiro, do gestor, do alocador, da instituição.
A culpa é nossa como sociedade. Nós não ensinamos absolutamente nada sobre dinheiro nas escolas, muitas vezes, nem nas faculdades.
E não venha me dizer que não há apetite por risco porque os juros são muito altos. Se isso fosse verdade, você não gastaria tanto da sua renda nas bets.
Nós como sociedade aceitamos que esse assunto é irrelevante. Não é uma prioridade, nunca foi uma.
O ambiente de Selic elevada ao longo de todos os anos com certeza criou o ambiente adequado para que essa “doença” se tornasse cultural no país.
Entre 2017 e 2020, vivemos poucos e belos anos de mudança sobre esse aspecto. Aliás, foi justamente nesses momentos que as iniciativas de educação ganharam força.
O cenário mudou completamente, e sinceramente? Minha sensação é de que regredimos praticamente para o mesmo ponto que estávamos antes de toda essa evolução.
Brasil e seus voos de galinha. Essa frase é uma velha máxima, e se o país é basicamente terra e sociedade, talvez nós nos comportemos como as aves citadas.