“Já é IPCA+7% e o ‘baleado’ é você” diz Sr.Mercado

A grande verdade é que acabou a munição do comprador marginal

Sr. Mercado

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O maior desejo de consumo de qualquer investidor brasileiro, na média, passa longe de um carro novo ou uma casa maior. Todos querem profundamente retornos elevados na renda fixa, se possível que sejam maiores do que 1% ao mês e isentos de imposto de renda.

Nessa semana, os títulos públicos atrelados a inflação atingiram uma taxa de retorno real contratada de 7% no vencimento mais curto (2029). Patamares realmente ainda maiores, que se inspiram em episódios do Brasil que foram com certeza mais catastróficos do que o atual. 

Ou seja, o “Papai Noel” ainda não chegou, mas já houve uma antecipação do presente de muita gente. Mas o que isso quer dizer na prática?

Bom, alguns ativos como o Ibov, que replica a carteira teórica de ações de um dos principais índices do mercado local, o CDI, perdem de lavada para esse nível de retorno. Além disso, como o mercado de crédito toma os títulos públicos como referência, significa que podemos encontrar papéis isentos de imposto com remunerações similares.

O estímulo para o brasileiro sofisticar sua carteira e pensar em diversificação chega a ser nulo. As gestoras de recursos de terceiros captam montanhas de bilhões de reais nesses segmentos.

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Nesse caso específico, eu nem discordo completamente: entre investir passivamente em Ibovespa ou comprar títulos com essa remuneração, eu prefiro muito mais os papéis. Porém, esse número na tela de muita gente gera irracionalidade.

Para o país, o endividamento público com esses níveis de custo do dinheiro, no médio longo prazo é insustentável. Pode parecer uma grande oportunidade, mas como credores, níveis extremamente elevados de remuneração no capital empregado em uma dívida começam a tornar a bola de neve difícil de ser interrompida. 

A grande verdade é que acabou a munição do comprador marginal: os fundos de pensão, grandes consumidores desses papéis, já encheram seus carrinhos quando essas taxas atingiram algo superior a 5,5% ou 6%.

Os fundos multimercados, historicamente grandes financiadores do país, estão muito menores de tamanho, a indústria já “secou” 50%. O dinheiro que sobrou, nesse momento, está majoritariamente em posições pessimistas, ou seja, vendidas em ativos locais, especialmente nos juros, inflação e moeda.

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O fluxo comprador boçal de crédito, quando decide trocar o indexador de inflação para CDI, costuma gerar fluxo vendedor desses papéis também. Tudo isso somado, sem a presença do estrangeiro, é uma avenida para que as taxas continuem a se tornar maiores. 

Pense no indivíduo que comprou esses papéis há pouco tempo, nesse momento, eles já estão no prejuízo. Se levados a vencimento, são excelentes.

Enquanto todos seguem na busca desses ativos de forma incessante, demais oportunidades estão “largadas”. Na bolsa, por exemplo, muitas empresas reportam resultados incríveis nos seus mínimos de valuation.

Os multimercados parecem inflexionar como excelente contraparte as posições otimistas. Alguns gestores de ações entregam grandes retornos mesmo com o Ibovespa caindo no ano até aqui. 

Isso que eu nem entrei no campo dos ativos globais, aqui realmente o brasileiro não perde a oportunidade de perder a oportunidade…

Vocês realmente vão esperar ficar tudo caro novamente para querer migrar os recursos para demais ativos? São raras as oportunidades de compra como essa.

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Sr. Mercado

é uma coluna semanal em que Lucas Collazo, apresentador do podcast Stock Picker, desvenda os pormenores do mercado financeiro