“Donald, qual é o seu Pix? Vou mandar meu dinheiro!”, diz Sr. Mercado

Repense sua carteira e leve em consideração a diversificação geográfica, ter apenas beta e em moeda fraca é perigoso

Sr. Mercado

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Não nos falamos desde o fim do ano passado, mas também não vou desejar “feliz ano novo”, já estamos no fim de janeiro e, francamente, ninguém merece. Desejaria sorte para 2025, porque até aqui, ela é a única salvação aparente para o cenário brasileiro.

Em 2024, tudo degringolou. No começo era até mais construtivo, mas tudo caminhou mal e eu, Sr. Mercado, acompanhei esse caminho com meu comportamento.

Vários momentos pareciam ser a grande oportunidade de compra, mas a verdade é que o título público que remunera juros reais (NTN-B) só ficou numa situação ruim quando descontado do seu equivalente americano (Tips) recentemente. Finalmente estamos próximos de preços de ambientes ruins passados no Brasil, mas ainda há muito espaço de piora.

O nosso país, caso não tenha ficado claro ainda, não é um gerador de alfa, somos puro beta. “Como assim Sr. Mercado?” – tudo bem, eu já imaginava que poucos entenderiam: a tecnologia está fora do Brasil, a inovação em escala de impacto global também, ou seja, grosso modo, nós não criamos nada. Temos boas empresas de commodities, as melhores do mundo, e acabou.

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Nosso barco anda muito mais por tendências globais, movimentos que afetam o mundo como um todo, do que essencialmente nós estarmos criando valor em algo que o planeta nunca viu antes, como é a inteligência artificial, por exemplo. Assim como nos anos 90 com a internet, a IA também não possui CEP.

O problema é que aparentemente esse beta está muito longe. Explico: para ele acontecer, precisamos de alguma mudança, externa ou interna.

Na parte externa, o “gringo” não veio até agora para o Brasil, mesmo com os juros maiores e com preços de ativos mais deprimidos, especialmente em dólares. Isso porque os títulos públicos americanos estão com um patamar de remuneração elevado para padrões históricos e a bolsa continua concentrando o patrimônio.

Com a chegada de Donald Trump, para que isso vai se manter. No quesito local, o governo não parece ter grande motivação de mudar a rota, isso significa que apenas uma mudança no ciclo político seria a única alternativa – ela deve acontecer concretamente apenas em 2027, e nem é uma certeza, é difícil afirmar que não haveria reeleição de Lula.

Pois é meus amigos e amigas, parece que o tal do “beta” realmente está longe. As NTN-Bs sufocam o mercado que aparenta não ter prêmio o suficiente para justificar alocação de capital.

Aliás, a bolsa brasileira tem aquela bela dinâmica de ser barata, após subir 30%, não está mais. Cheio de voos de galinha, por assim dizer.

Dito isso, fica meio claro que somos um “trade” e o investimento de longo prazo, de crescimento, se encontra nos EUA. É lá que temos modelos de negócios incríveis que crescem 20%-30% ao ano consistentemente, pois eles sempre estão criando mercados, novos produtos e soluções.

Advento da tecnologia, advento do capital intelectual boça que se concentra por lá. A pessoa investidora brasileira costuma ter um viés de alocar recursos apenas em ativos locais, o que é uma completa loucura, ainda mais com a evolução do mercado permitindo acesso a tantas opções lá fora.

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Repense sua carteira e leve em consideração a diversificação geográfica, ter apenas beta e em moeda fraca é perigoso. Busque também alfa e em moeda forte, Donald, me passa seu Pix meu querido, vou enviar uns cascalhos!


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Sr. Mercado

é uma coluna semanal em que Lucas Collazo, apresentador do podcast Stock Picker, desvenda os pormenores do mercado financeiro