The Queen is dead. E a libra esterlina?

Apesar da primeira ministra do Reino Unido Liz Truss ter voltado atrás e retirado de pauta o corte de impostos, é importante mostrar o ocorrido e seus impactos no mercado

Roberto Dumas Damas

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Óbvio que o título do artigo é provocativo e, a despeito dos desmandos da primeira ministra do Reino Unido Liz Truss e o Chancellor of Exchequer, Kwasi Karteng, terem levado a uma semana terrível imposta por eles mesmos, a libra esterlina continua no radar.

Apesar do U-Turn da primeira ministra Liz Truss de retirar de pauta na sequência o corte de impostos, é importante mostrar o que aconteceu. Aquilo que qualquer aluno de graduação em economia não faria: cortar impostos, principalmente dos mais ricos, que tem menor propensão marginal a consumir, para impulsionar o PIB, digamos 2,5% (sabe lá de onde veio essa estimativa), em meio a déficits fiscais e em conta corrente e inflação ascendente.

Segundo o Chancellor of Exchequer – ou o mais próximo de um ministro da economia -, o objetivo era lançar um pacote expansionista para lá de duvidoso a um custo de pelo menos 45 bilhões de libras esterlinas. Isso como forma de impulsionar a economia do Reino Unido em meio a um surto inflacionário de 9,9% anuais, déficit fiscal de 2,6% do PIB, dívida pública de 99% do PIB e déficit em conta corrente do balanço de pagamentos de 5,5% do PIB no segundo trimestre de 2022.

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Qualquer livro texto de economia básica, dados esses indicadores inflacionários e de déficits gêmeos, recomendaria uma política monetária contracionista, traduzida em maior aumento de juros aliado a uma política fiscal contracionista. Mas eis que o Chancellor of Exchequer havia decidido cortar impostos para aumentar o crescimento econômico do país. Ninguém discute o interesse legítimo de Kwasi em querer promover o crescimento do país, mas cortar juros em um cenário que preconiza justamente o contrário acabou não caindo nada bem junto aos mercados, principalmente em relação aos UK Bonds, que chegaram a beliscar 4,5%, e para a libra esterlina, que chegou a depreciar quase à paridade com o dólar.

Para tentar consertar o erro, o Bank of England (banco central da Inglaterra) entrou no mercado de bonds comprando 5 bilhões de libras por dia pelos próximos 13 dias (9 dias) em títulos de longo prazo, totalizando 65 bilhões de libras esterlinas, como forma de diminuir os rendimentos dos títulos soberanos e arrefecer o impacto no quase combalido e mal regulado mercado de hipotecas do Reino Unido.

Isso tudo em um cenário de já política fiscal expansionista liderada pela Liz Truss, em prover subsídios da ordem de 65 bilhões de Libras Esterlinas, como forma de limitar os gastos em energia pela população local.

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Qualquer modelo básico de IS//LM//BP [curva IS, representa o equilíbrio no mercado de bens e serviços, a curva LM representa o equilíbrio no mercado monetário e a curva BP representa o equilíbrio da balança de pagamentos] ou modelo de Mundell-Fleming, mostraria um deslocamento da curva IS (Investment–Saving) para a direita (expansionista), um deslocamento da curva LM (Liquidity-Money) para a esquerda, tirando da população parte desses benefícios expansionistas e piorando ainda mais o risco fiscal, inclinando a curva de juros dos UK bonds, expresso por uma maior inclinação da curva BP (Balance of Payments), colocando a situação do país em saída de capitais e depreciação da moeda local. Básico e triste.

Felizmente, o erro foi revertido e longa vida ao Rei!

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Roberto Dumas Damas

Roberto Dumas Damas é estrategista-chefe do Voiter e representou o Itaú BBA em Xangai de 2007 a 2011. Em 2017, atuou no banco dos BRICs em Xangai. Dumas é mestre em Economia pela Universidade de Birmingham na Inglaterra, mestre em Economia Chinesa pela Universidade de Fudan (China), além de professor de MBA e pós graduação do Insper e da FIA e professor convidado da China Europe International Business School (CEIBS) e Fudan University (China)