Juros nos EUA, energia na Europa, reabertura na China: o que esperar dos mercados globais em 2023?

Clássico portfolio 60% renda variável e 40% renda fixa teve a pior performance em mais de 80 anos em 2022 - mas ambas as categorias apresentam oportunidades neste ano. E mais: commodities são uma classe a considerar em uma carteira global

Roberto Attuch Jr

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(Getty Images)
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Em apenas duas ocasiões o índice S&P 500 caiu por dois anos seguidos: no biênio 1973-1974 e no triênio 2000-2002. Será que teremos a repetição em 2022-2023?

Acreditamos que não. Após um ano de queda, o mercado subiu no ano seguinte em 85% das vezes – e o retorno médio após fortes recuos é de 18%. Mas vamos aos fundamentos.

Assim como em 2022, os mercados serão guiados por basicamente três fatores neste ano: política de juros dos bancos centrais, principalmente o Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos); crise energética na Europa; e reabertura da China.

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O Fed deve continuar elevando os juros até 4,5% a 5% ao ano, e o BCE (Banco Central Europeu) deve parar entre 2,5% e 3% ao ano. Tanto nos Estados Unidos como na Europa, acreditamos que a inflação já passou do pico.

Nos Estados Unidos, os núcleos devem desacelerar para perto de 3,5% no final do primeiro semestre. Apesar de o Fed não ter terminado seu trabalho de subida dos juros, o que importa é que o BC americano já passou do seu ponto de agressividade máxima.

A diretora geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva, alertou que cerca de um terço da economia global deve entrar em recessão em 2023. Contudo, acreditamos que uma recessão leve na Europa e nos Estados Unidos já esteja mais que precificada pelos mercados, depois da queda de cerca de 20% no S&P 500 em 2022.

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A maior parte da desaceleração deve vir por conta do setor imobiliário, mas nem de longe esperamos algo parecido com a crise de 2008, uma vez que os critérios de crédito como LTV (loan to value) foram apertados e os bancos estão bem mais capitalizados.

Apesar do velho continente já estar provavelmente em recessão, a falta de energia foi um risco descartado para este inverno. Para isso, contribuíram o outono e início de inverno bem menos rigorosos e os esforços para recomposição dos estoques de gás ao longo do verão. A Europa deverá levar alguns anos para se livrar completamente da dependência do gás russo. Mas pelo lado positivo, devemos ver uma aceleração na transição energética.

Com a China finalmente abandonando a política de Covid zero, a grande questão é se o impacto para o mundo será inflacionário ou deflacionário. Apesar de a abertura contribuir para a alta de várias commodities, acreditamos que a resultante desinflacionária da normalização das cadeias de produção irá se sobrepor. Além disso, a aceleração do crescimento chinês – de menos de 3% em 2022 para cerca de 4,5% em 2023 – deve influenciar de forma positiva várias outras economias emergentes.

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O clássico portfolio composto de 60% em bolsa e 40% em renda fixa apresentou em 2022 a pior performance em mais de 80 anos. Mas acreditamos que tanto a renda fixa como renda variável apresentem oportunidades, com retornos positivos em 2023. A taxa de juros real americana está em cerca de 1%, ponto mais alto desde a crise de 2008 e em linha com a média histórica. Na renda variável, continuamos preferindo as ações de value, que estão negociando em linha com o múltiplo de preço sobre lucro (P/L) histórico de 12 vezes.

Mas acreditamos que a melhor oportunidade esteja nos mercados emergentes, em função de dois fatores. O principal dele é que, com a ação do Fed precificada pelos mercados, o dólar já passou do pico. O índice DXY, que mede a força da moeda americana, encontra-se atualmente em 104,4, em comparação com a máxima de 114,7 no final de setembro. Ciclos de valorização do dólar são o principal determinante da performance de mercados emergentes. O segundo fator é, como já falamos, a aceleração da economia chinesa.

Uma tese que temos defendido é que as commodities são uma classe de ativo a ser considerada em um portfólio diversificado global. O fato de o Brasil ser exportador diversificado de commodities, além do cenário favorável para mercados emergentes, coloca o País em posição privilegiada no cenário atual. Além disso, poderemos capitalizar a substancial melhora da imagem do País no exterior com a mudança de governo, em especial na área ambiental.

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Contudo, para que isso se materialize, é necessário que seja apresentado logo o novo arcabouço fiscal, de forma que investidores possam vislumbrar a estabilidade na relação entre dívida e PIB.

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Roberto Attuch Jr

Roberto Attuch Jr é fundador e CEO da OhmResearch. Tem mais de 25 anos de experiência em casas como Credit Suisse e Barclays. É economista pela Universidade de Brasília (UnB), possui mestrado em Gestão de Riscos pela New York University (NYU) e diploma de Governança Corporativa do INSEAD.