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A obesidade é uma condição de saúde crônica, multifatorial e que vai muito além da estética. Assim como hipertensão e diabetes, ela não tem cura, mas pode ser controlada. Nesse contexto, medicamentos para emagrecimento surgem como ferramentas importantes, principalmente em casos patológicos, mas jamais devem ser encarados como soluções milagrosas. No entanto, observa-se um uso cada vez mais indiscriminado desses medicamentos, muitas vezes por pessoas sem necessidade clínica, ignorando os conhecidos efeitos colaterais. Tratar consequências sem focar nas causas é, no máximo, uma estratégia paliativa.
Com a crescente popularidade de remédios como Ozempic®, Wegovy® e Mounjaro®, é urgente discutir os riscos do uso indiscriminado, especialmente em pessoas sem obesidade clínica. Vale reforçar que, em casos extremos e patológicos, o uso de medicamentos emagrecedores pode ser recomendado, mas sempre deve ocorrer com prescrição médica, supervisão e associado a mudanças no estilo de vida, como prática de exercícios e reeducação alimentar. No entanto, é essencial que não se banalize o uso dessas medicações. Paralelamente, é preciso conscientizar sobre a importância da mudança de estilo de vida como base para o sucesso em qualquer estratégia de controle de peso.
Como os medicamentos para emagrecimento funcionam?
Os medicamentos para emagrecimento aprovados pela Anvisa atuam por diferentes mecanismos, e seu uso deve ser restrito a casos de obesidade, principalmente quando representa um risco à saúde. Veja abaixo os principais tipos:
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Agonistas do GLP-1
Os medicamentos baseados no GLP-1, como Ozempic® (semaglutida), Wegovy® (semaglutida em doses maiores) e Mounjaro® (tirzepatida), mimetizam o hormônio glucagon-like peptide 1. O GLP-1 é liberado naturalmente pelo intestino após as refeições e desempenha um papel fundamental no controle do apetite e do metabolismo da glicose.
Mecanismos de ação:
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- Regulação do apetite. Agem no sistema nervoso central, especificamente no hipotálamo, reduzindo a fome.
- Esvaziamento gástrico retardado. Promovem maior saciedade e menor ingestão calórica.
- Controle glicêmico. Estimulam a secreção de insulina e reduzem a produção de glicose hepática, sendo especialmente eficazes em pacientes com diabetes tipo 2.
Estudos mostram que esses medicamentos podem reduzir de 10% a 15% do peso corporal em cerca de 12 meses, mas apresentam efeitos colaterais como náusea, vômito e constipação. No Brasil, a Anvisa aprova o uso de Ozempic® e Mounjaro® exclusivamente para diabetes tipo 2. O Wegovy® foi aprovado pela Anvisa em janeiro de 2023 para obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²) e sobrepeso (IMC ≥ 27 kg/m² associado a comorbidades).
Dentre os efeitos colaterais comuns estão náusea, vômito, constipação, diarreia e fadiga.
Inibidores de lipase
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O Orlistat é o único medicamento desta classe aprovado pela Anvisa para o tratamento da obesidade. Ele atua inibindo a enzima lipase, que é responsável pela digestão e absorção de gorduras no intestino. Como resultado, até 30% das gorduras ingeridas são eliminadas pelas fezes.
Embora eficaz na redução de peso, o Orlistat pode causar desconfortos gastrointestinais, como diarreia oleosa e cólicas, especialmente quando consumido com refeições ricas em gordura.
Supressores de apetite
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A Sibutramina age como um inibidor da recaptação de serotonina e noradrenalina, aumentando a saciedade e o gasto energético. Apesar de ser aprovada pela Anvisa, seu uso requer extrema cautela, pois está associada a riscos cardiovasculares, como aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca.
Tabela comparativa de medicamentos para emagrecimento
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Os perigos do uso indiscriminado
Em pessoas sem obesidade clínica, o uso desses medicamentos pode ser prejudicial, especialmente quando não há acompanhamento médico. Os riscos incluem:
Danos ao fígado e ao coração. Potenciais complicações aumentadas pela automedicação e uso combinado com álcool.
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Efeito sanfona. Retorno rápido ao peso anterior após a interrupção do medicamento, principalmente sem mudanças de comportamento.
Alterações no apetite. Com a suspensão abrupta, muitos usuários relatam aumento do apetite e dificuldades em manter o peso.
Dependência psicológica e fisiológica. O uso indiscriminado de medicamentos emagrecedores, especialmente por quem não tem indicação clínica, pode levar a um ciclo de dependência psicológica e fisiológica. Aqueles que utilizam essas medicações sem necessidade real frequentemente acabam buscando o “próximo remédio milagroso”, criando uma relação de dependência com a promessa de soluções rápidas. Essa busca incessante por resultados imediatos ignora o fato de que a obesidade é uma condição crônica que exige tratamento contínuo e sustentável. Muitas vezes, o foco em medicamentos leva ao abandono de práticas essenciais, como a reeducação alimentar e a prática regular de exercícios, perpetuando uma relação disfuncional com o peso e a saúde.
Medicamentos: ferramentas auxiliares, não soluções definitivas
Apesar de sua eficácia em casos específicos, os medicamentos para emagrecimento devem ser utilizados como parte de um tratamento interdisciplinar, que inclua educação alimentar, atividade física e suporte psicológico. A obesidade é uma condição crônica e requer controle contínuo, muitas vezes por toda a vida.
Um grande equívoco é encarar esses medicamentos como soluções temporárias. Assim como a hipertensão exige controle constante, a obesidade também deve ser tratada de forma permanente, com foco em mudanças de comportamento que garantam resultados sustentáveis.
A mudança de estilo de vida auxilia em um caminho sustentável para o controle da obesidade. Estudos renomados reforçam que a mudança de comportamento é a base para o sucesso no controle da obesidade.
Estudos como o Diabetes Prevention Program (DPP)e o Finnish Diabetes Prevention Study (DPS) comprovam que mudanças de estilo de vida, mesmo sem perda de peso significativa, melhoram a composição corporal, regulam o apetite e reduzem marcadores inflamatórios. A combinação de alimentação balanceada, prática regular de exercícios e acompanhamento psicológico é a base para o controle da obesidade.
Dentre as evidências científicas estão:
- Um estudo clássico, conduzido pelo Diabetes Prevention Program (DPP) e acompanhado pelo Diabetes Prevention Program Outcomes Study (DPPOS), demonstrou que mudanças no estilo de vida reduziram o risco de diabetes tipo 2 em 58%, superando o efeito da metformina, que reduziu o risco em 31%. Os participantes seguiram uma rotina de alimentação equilibrada, exercícios regulares e suporte comportamental. Mesmo aqueles que não perderam peso significativo apresentaram melhorias metabólicas (National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases, 2021).
- O Finnish Diabetes Prevention Study (DPS) mostrou que a perda de peso, combinada com exercícios regulares e mudanças alimentares, reduz significativamente o risco de diabetes tipo 2 em indivíduos de meia-idade com excesso de peso e tolerância à glicose diminuída. O grupo de intervenção, que recebeu aconselhamento individualizado com nutricionistas e foi incentivado a realizar treinamento de resistência e aumentar a atividade física, alcançou reduções médias de peso de 4,5 kg após 1 ano e 3,5 kg após 3 anos, em comparação a 1,0 kg e 0,9 kg no grupo controle. Além disso, houve melhorias significativas nos níveis de glicose e lipídios, demonstrando benefícios metabólicos e clínicos sustentáveis a longo prazo. Os autores concluíram que esse tipo de intervenção intensiva é uma estratégia viável para prevenir o diabetes tipo 2 e deve ser implementada no sistema de atenção primária à saúde.
- O estudo Look AHEAD avaliou mais de 5.000 indivíduos com sobrepeso ou obesidade e diabetes tipo 2, comparando uma Intervenção Intensiva no Estilo de Vida (ILI) com Apoio e Educação em Diabetes (DSE). Apesar de ter sido interrompido após 9,6 anos por não demonstrar redução significativa nos eventos cardiovasculares, o grupo ILI apresentou benefícios importantes, como perda de peso sustentável, melhora no controle glicêmico e lipídico, menor necessidade de medicamentos, melhor qualidade de vida e redução de condições como apneia do sono, gordura hepática e doenças renais
- De acordo com o estudo de Mishra (2021), a perda de peso está associada a melhorias significativas em condições metabólicas, como hipertensão, diabetes tipo 2 e dislipidemias. Além disso, reduz gordura visceral, inflamações e o risco de comorbidades, como a doença hepática gordurosa não alcoólica e a síndrome dos ovários policísticos. A manutenção desses benefícios requer uma abordagem interprofissional, envolvendo médicos, nutricionistas, fisioterapeutas e outros especialistas.
Mitos e verdades sobre medicamentos emagrecedores
Medicamentos para emagrecer causam dependência?
Parcialmente verdade. Alguns medicamentos, como os que atuam no sistema nervoso central (por exemplo, a sibutramina), podem causar dependência psicológica em casos de uso prolongado ou inadequado. Já os medicamentos como agonistas de GLP-1, como Ozempic® e Wegovy®, não apresentam esse risco, mas podem gerar dependência comportamental devido à expectativa de resultados rápidos.
Medicamentos para emagrecer são perigosos para o coração?
Depende. Medicamentos como a sibutramina, que podem aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca, são contraindicados para pessoas com histórico de doenças cardiovasculares. Já os agonistas de GLP-1, como Wegovy®, possuem estudos demonstrando segurança em relação a doenças cardíacas, especialmente em pacientes com diabetes tipo 2.
É possível perder peso rápido e mantê-lo após parar os medicamentos?
Mito. O uso isolado de medicamentos, sem mudanças no estilo de vida, pode levar ao chamado “efeito sanfona”. A perda de peso sustentada depende de intervenções a longo prazo, incluindo reeducação alimentar e atividade física.
É seguro usar medicamentos para emagrecer sem supervisão médica?
Falso. Todo medicamento para emagrecimento deve ser prescrito e acompanhado por um médico, devido aos riscos de efeitos colaterais e contraindicações. O uso indiscriminado pode levar a complicações graves.
Parar o uso do medicamento faz o peso voltar?
Parcialmente verdade. Sem mudanças no estilo de vida, é comum que o peso retorne após a interrupção do medicamento. Isso ocorre porque o medicamento age como uma ferramenta auxiliar, mas não substitui hábitos saudáveis para o controle de peso a longo prazo.
Medicamentos para emagrecer curam a obesidade?
Mito. A obesidade é uma condição crônica e multifatorial, que exige abordagem interdisciplinar e controle contínuo. Os medicamentos são ferramentas importantes, mas apenas parte de um tratamento mais amplo que envolve alimentação, exercícios e suporte psicológico.
Dicas práticas para mudanças sustentáveis
Defina metas realistas. Pequenas mudanças diárias são mais eficazes do que transformações radicais.
Pratique mindful eating. Comer com atenção plena reduz compulsões alimentares e melhora a saciedade.
Priorize alimentos in natura. Fibras, proteínas magras e gorduras saudáveis promovem saciedade.
Planejamento alimentar. Prepare refeições com antecedência para evitar escolhas impulsivas.
Rotina de sono. Dormir pelo menos 7 horas regula hormônios como leptina e grelina.
Exercício regular. Combine treinos aeróbicos com resistência muscular.
Gerenciamento de estresse. Pratique meditação para reduzir o cortisol.
Os medicamentos para emagrecimento têm um papel relevante no tratamento da obesidade, mas não substituem a necessidade de mudanças no estilo de vida. O controle dessa condição requer uma abordagem multidisciplinar e acompanhamento contínuo, evitando soluções imediatistas que, a longo prazo, podem comprometer a saúde.
Seja por meio de medicamentos ou intervenções comportamentais, o importante é enxergar a obesidade como uma condição crônica que demanda cuidado e responsabilidade. O caminho para uma vida saudável vai além da balança: ele passa pela adoção de hábitos que transformem não apenas o corpo, mas também a mente e a qualidade de vida.