“Clube das 5h da manhã”: acordar cedo é o verdadeiro caminho para a produtividade? 

Somos seres únicos e precisamos respeitar nossa individualidade e nosso relógio biológico

Paola Machado

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Andrea Piacquadio via Pexels
Andrea Piacquadio via Pexels

“Eu não acordo para trabalhar, eu acordo para me cuidar e, depois, trabalhar. Acordo às 5h da manhã, lavo o rosto, coloco meu tênis e, às 5h20, já estou na minha bike para o primeiro exercício do dia. Termino, e, às 5h50, faço minha meditação com hipopressiva e bracing, tomo meu café, levo meus filhos à escola, tomo banho e começo a trabalhar.”

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Assim como no meu relato, diversos empresários de sucesso seguem a rotina de acordar às 5h da manhã para dedicar as primeiras horas do dia ao autocuidado. Jack Dorsey, cofundador da Square, inicia o dia com meditação e corrida, acreditando que isso contribui para sua clareza mental e energia ao longo do dia. Oprah Winfrey dedica esse horário a práticas de bem-estar, como meditação e exercício físico, para manter sua clareza e equilíbrio. Outro exemplo é Howard Schultz, ex-CEO da Starbucks, que acorda cedo para se exercitar e organizar suas ideias. Todos acreditam que o tempo matutino focado no autocuidado e na preparação pessoal é essencial para sustentar seu desempenho e produtividade ao longo do dia.

De todo modo, temos a tendência (e me incluo aqui) de seguir estratégias consideradas de “sucesso” simplesmente porque funcionam para algumas pessoas ou porque figuras de influência começaram a promovê-las. Seguimos a “manada” sem questionar. No entanto, somos seres únicos e precisamos respeitar nossa individualidade e nosso relógio biológico. Afinal, de nada adianta acordar às 5h se ficarmos exaustos o dia todo ou se dormimos apenas à meia-noite devido a um evento de trabalho. São muitas variáveis que devemos levar em consideração, entre elas:

1. Qualidade e duração do sono. Dormir menos para acordar cedo compromete o descanso, podendo afetar o desempenho cognitivo e o humor.

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2. Cronotipo individual. Cada pessoa tem um relógio biológico diferente (cronotipo), que determina se ela é naturalmente mais ativa pela manhã ou à noite.

3. Rotina e compromissos. Eventos noturnos ou compromissos que terminam tarde podem dificultar o sono precoce, o que reduz o descanso necessário para quem acorda cedo.

4. Nível de atividade física. Treinos intensos ou atividades físicas exigem recuperação adequada, e o sono é crucial para isso.

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5. Exposição à luz natural. A exposição regular à luz solar ajuda a regular os ritmos circadianos, enquanto a exposição noturna à luz artificial pode atrasar o sono.

6. Estresse e saúde mental. Excesso de estresse pode interferir na qualidade do sono e na capacidade de adaptação a uma rotina matutina.

Estudos indicam que, para muitas pessoas, acordar cedo proporciona mais tempo de qualidade e foco. Uma pesquisa publicada na revista Sleep da Oxford University revelou que indivíduos que acordam mais cedo demonstram maior disposição para realizar tarefas no período matutino, resultando em aumento de produtividade.  Além disso, a Universidade de Harvard identificou que pessoas que iniciam o dia cedo tendem a ser mais proativas e otimistas, contribuindo para uma vida mais organizada e menos caótica. A ciência cita diversos benefícios como:

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No entanto, essa conta só fecha quando o sono está em dia. Dormir menos para acordar cedo pode ser uma armadilha perigosa. Segundo a Sleep Health Foundation, sacrificar o sono leva a uma queda considerável na produtividade – com o foco e a capacidade de tomar decisões sendo gravemente prejudicados. Eles explicam que o impacto da privação de sono afeta o desempenho cognitivo, além de aumentar o risco de problemas de saúde como ansiedade e burnout.

Se você não é uma pessoa matutina, assim como Jonah Peretti, CEO do BuzzFeed, que acorda por volta das 8h30, ou Elon Musk, CEO da Tesla e SpaceX, que costuma iniciar o dia às 7h, tentar forçar seu organismo a uma rotina matinal pode resultar em mais desgaste do que ganho. De acordo com o National Institute of Health (NIH), o relógio biológico tem grande influência sobre o bem-estar, e respeitar seu ritmo natural é crucial para a saúde. Forçar uma rotina que vá contra seu cronotipo pode provocar efeitos adversos, como irritabilidade e exaustão, dificultando o desempenho e o equilíbrio desejados. 

Você, mais do que ninguém, saberá se acordar cedo é ideal para você. A produtividade vai muito além do horário em que você se levanta; trata-se de como você aproveita seu tempo e se organiza. O que faz a diferença é entender seu ritmo. Algumas pessoas rendem muito mais à tarde ou até à noite, e não há nada de errado nisso. Estudos ainda reforçam que respeitar seu cronotipo natural – o seu “relógio biológico” – contribui para um desempenho mais sólido e consistente. 

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Além disso, nada substitui uma boa noite de sono. Se dormir cedo para acordar cedo não está funcionando, pode ser a hora de rever a ideia. Segundo a National Sleep Foundation, adultos precisam de 7 a 9 horas de sono para funcionar bem no dia a dia. Isso vale muito mais do que simplesmente tentar se encaixar em uma rotina que não é sua.

Então…

Acordar às 5 da manhã pode ser uma boa prática para alguns, mas está longe de ser regra. Produtividade tem mais a ver com sono de qualidade, ritmo e disciplina do que com o horário do despertador. O importante é fazer o que realmente funciona para você, sem fórmulas prontas.

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Minha visão é que o que sempre funciona é respeitar o que é melhor para nós mesmos. Isso inclui manter uma rotina que contemple exercícios, uma alimentação saudável e, acima de tudo, a capacidade de observar o próprio corpo. Saber entender os sinais de alerta, como o excesso de cansaço, é essencial para ajustar o ritmo e garantir que estamos cuidando da saúde de forma sustentável e equilibrada.

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Paola Machado

Dra. Paola Machado é Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP, especializada em Fisiologia do Exercício, Nutrição e Fisiopatologia da Obesidade. Com mais de 2000 textos publicados em portais renomados, ela se destaca como uma referência em emagrecimento, performance pessoal e rotinas de sucesso, traduzindo conhecimento científico em práticas acessíveis e eficazes.